IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Lidos e examinados os autos do processo, na minha presença e na do ministro Falcão, não me
restou dúvida da gravidade das acusações, que me pareceram, também, muito sólidas em argumentos.
O ministro Falcão manteve-se discreto, mas compreendi que não divergia do meu julgamento.


Esclareci ao Comandante da 5á Região Militar que a matéria, por sua espécie, concernia ao
Ministério da justiça, do qual devia partir a orientação pedida. Adiantei, no entanto, que se de mim
dependesse, mandaria ouvir o senador Francisco Leite Chaves, deputados Olivir Gabardo e
Sebastião Rodrigues Junior, e demais políticos implicados, para lhes permitir, em defesa ampla,
provar a leviandade das acusações, destruindo-as. Disse-lhe, ainda, que me repugnava ver a lei
aplicada a uns e esquecida em relação a outros.


Esta participação ativa dos comunistas nas eleições de 1974 foi, aliás, confessada por Luís
Carlos Prestes em fevereiro de 1976, por ocasião do XXII Congresso do Partido Comunista Francês,
realizado em Le Bourget, na França. Ouvido pela imprensa, confirmou Prestes o apoio e os contatos
políticos, em particular com o Movimento Democrático Brasileiro, em novembro de 1974.


O ministro Falcão decidiu levar o inquérito a um exame mais minucioso e submetê-lo à
apreciação do Presidente da República, tomando a si o encargo de ligar-se, posteriormente, com o
DOPS do Paraná.


Estava, assim, encaminhado o problema a uma solução; o Exército, por meu intermédio, emitira
parecer e o ministro Falcão o ouvira. O processo prosseguiu e mais de 60 civis foram denunciados,
não constando, entre eles, nenhum político, segundo se afirmara, em obediência a recomendação do
próprio Ministério da Justiça. Ora, como o ministro Falcão, conforme assegurou, iria ouvir a decisão
do presidente Geisel, seria estultice admitir tivesse a recomendação outra fonte. Entretanto, como
acontece nestas ocasiões, muitas informações sobre fatos que deveriam ser mantidos em sigilo
chegaram ao conhecimento dos acusados, levando-os a atribuir todo o rigor na busca da verdade às
autoridades militares. Rumores esparsos em Curitiba e Brasília insinuavam, maldosamente, de
quando em vez, que o Exército empenhara-se na indicação dos políticos. Considerei os
acontecimentos ultrapassados sem dar um mínimo de atenção a tais notícias.


Em 25 de outubro, porém, nas dependências do Centro de Operações de Defesa Interna do II
Exército, suicidou-se o jornalista Wladimir Herzog , como provado ficou em inquérito policial
militar de que foi encarregado o general-de-brigada Fernando Guimarães de Cerqueira Lima.


Conhecida a notícia da morte de Wladimir Herzog , agitam-se os setores de imprensa e os
jornais desencadeiam violenta campanha, lançando libelos acusatórios de assassínio aos elementos
do Exército. Reúne-se e mantém-se em sessão permanente o Sindicato dos jornalistas do Estado de
São Paulo e o MDB, através da Comissão Executiva do Diretório Regional de São Paulo, vale-se do
momento para, sob o pretexto de solidariedade, "aliando o seu protesto a todas as vozes que sempre
se opuseram ao arbítrio", atirar-se contra o governo e o regime revolucionário.


As autoridades militares foram as primeiras a tomar providências para investigar as causas do
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