1 - A solução dada ao incidente foi paliativa. Dissimulou a intenção do presidente de não atender
ao pedido dos generais-de-exército, impondo a todos a sua vontade. Estimulou novos
pronunciamentos, visto que os meios políticos sentiramse relativamente apoiados, considerando a
suave exigência da retratação, como último recurso do presidente para satisfazer a pressão militar.
Penas leves impostas a faltas graves são mais estimulantes do que repressivas, em particular se
há demora em aplicá-las. Ocorreram, no caso vertente, as duas circunstâncias. Os retardos e
vacilações são indícios de fraqueza e insegurança.
2 - Os generais curvaram-se, com excessivas flexibilidade e rapidez, diante da decisão
presidencial. Não deveriam tê-lo feito numa questão de honra, insultuosa a toda a classe militar.
Tiveram, horas antes, um comportamento de extrema violência, porém digno. Dois ou três, irados,
pediram a cabeça do detrator. Houve até um comandante de Exército que clamou pela cassação, de
qualquer maneira.
Entretanto, após eu ter voltado do palácio, conformaram-se com inacreditável brandura. A
preocupação da maioria passou a ser, unicamente, a de catar na imagi nação uma justificativa para a
nova posição de conformismo. Os argumentos não faltaram - são sempre abundantes, quando não
obedecem à lógica e desvirtuam os princípios.
A defesa do nosso ponto de vista teria de ser feita através de considerações judiciosas, entre as
quais a de processar o senador, ressaltando o ridículo e a ineficiência da solução em face da
gravidade da injúria. Do contrário, nossa primeira atitude poderia ser tachada de precipitada e
leviana, enquanto a outra - a da acomodação - definida como uma tolerância servil. Qualquer
manifestação nossa - dos generais -, no entanto, só poderia ser apreciada com respeito se estribada
na força da unanimidade.
Infelizmente, o pensamento militar, na sua evolução ou involução, mudara bastante, desde os
longínquos tempos de Realengo à época dos esplendores de Brasília. Tornara-se pragmático e
oportunista, perdendo a beleza idealista de que, com tanto entusiasmo, nos fala Alfred de Vigny. O
denominador comum, entre nós, já não era mais a honra, mas sim o interesse material das posições e
de suas vantagens. A partir daquele momento estava assegurada ao presidente a docilidade de seus
generais-de-exército a qualquer tipo de suas imposições.
3 -Abrira-se uma senda de condescendência nas posições revolucionárias; por ela deveriam
transitar os incansáveis inimigos do Movimento de 1964.0 exemplo frutificou e diatribes, partidas de
vários pontos, continuariam a atingir os militares, seus chefes e suas corporações, sem que o governo
pudesse ou quisesse acabar, no mínimo refrear, a campanha de desmoralização das forças básicas da
Revolução de 1964, que são as Forças Armadas.
Em 1968 um deputado ousou muito menos e foi alijado do Congresso. Tínhamos, então, um
grande presidente revolucionário, hoje injustiçado e ingratamente esquecido, mesmo por muitos dos
que partilharam de suas mesa e amizade. Era um homem de tropa, um bravo soldado, acima de tudo