IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

estabeleceu relações diplomáticas com a República Popular de Moçambique. No noticiário
mencionado, comentou-se, ainda, que o ato era o primeiro dividendo do reconhecimento de Luanda e
a confirmação do compromisso assumido pelo ministro Joaquim Chissano, de Moçambique, nas suas
conversas com o chanceler Azeredo da Silveira, em setembro daquele ano. Não foge, pois, do
domínio das especulações a idéia de ter sido condicionado o reconhecimento de Moçambique ao de
Angola, e cogitada uma orientação nesse sentido, pelos dois ministros.


O presidente Geisel mereceu a honra de ser o único chefe de Estado latinoamericano convidado
para as cerimônias da independência. Esta homenagem talvez tenha decorrido da solidariedade
manifestada, de imediato, ao governo do MPLA. O nosso presidente, em mensagem a Agostinho
Netto, declinou do convite e designou o representante brasileiro em Luanda para substituí-lo.
Funcionários do Itamaraty procuraram explicar o açodamento brasileiro em reconhecer a
independência de Angola, todavia suas declarações sibilinas, até certo ponto contraditórias com o
passado, não convenceram.


Nessas ocasiões, como é normal acontecer, esteve presente às explicações o argumento das
grandes vantagens das transações comerciais, que devem derivar, julgo eu, de uma política de
conjunto objetiva e bem planejada no quadro da realidade em que vivemos e não de comportamentos
precipitados, emocionais e fantasiosos. O nosso Ministro das Relações Exteriores declarou, na
oportunidade, "a confiança do governo brasileiro na sabedoria africana"30 e, consoante publicação
do mesmo jornal, disse ainda que as transações comerciais com o continente africano deveriam
atingir no ano seguinte 600 milhões de dólares. Deve, certamente, ter havido equívoco da imprensa,
porque um homem da responsabilidade de Azeredo da Silveira não praticaria tal leviandade.


As transações com o continente africano - incluída a Indonésia - já tinham atingido em 1974 o
total de 1.081,6 milhões de dólares; em 1975 caíram para 898,4 milhões de dólares e, no ano de
1976 - da previsão do ministro - desceram mais, para 850,2 milhões de dólares. Todas, portanto, já
em nível superior a 600 milhões de dólares. Somente em 1977 aquelas transações conseguiram
equilibrar-se, com ligeira vantagem sobre as de 1974. O Brasil, em nenhum dos quatro anos citados,
conseguiu saldo favorável no confronto exportação-importação. O valor das importações foi sempre
maior.


Sobre o comércio com a África é interessante conhecer o artigo "Linha africana"31 no qual as
transações, em 1977, com Angola e Moçambique são situadas em 37,6 milhões de dólares ou,
aproximadamente, 4,6% do nosso intercâmbio comercial global com a Argentina.


Ninguém se opõe, e seria inexplicável ocorresse isto, que o Brasil procure relações comerciais,
as mais amplas possíveis, com todas as nações; no entanto, realizá-las nas condições em que o
fizemos com a China Comunista, aceitando imposições deprimentes deste país, e com Angola -
ocupada e dominada pelos cubanos e soviéticos - abandonando-se os princípios que o próprio
governo brasileiro defendeu em Quito e San José, não pode merecer aplausos, mas sim acerba
repulsa dos verdadeiros brasileiros.

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