Muitas indagações afloraram-me à mente como lógicas, contudo, por serem de difíceis respostas
e irreverentes, abandonei-as.
Abordei, em vista disso, a questão do voto anti-sionista, do qual tratarei a seguir.
O VOTO CONTRA O SIONISMO
O dia 11 de novembro de 1975 foi marcado por dois acontecimentos internacionais, recebidos com
bastante desagrado pela opinião militar, quer pela falta de coerência com os postulados
revolucionários de 1964, quer pela contradição flagrante com o tradicional respeito às posições
alheias, desde que, sob qualquer forma, não afetem nossos direitos, interesses ou compromissos
assumidos. Estes dois eventos foram o reconhecimento da República Popular de Angola e o voto a
favor da resolução que declarava o sionismo "uma forma de racismo e de discriminação racial". O
reconhecimento de Angola já mereceu, de minha parte, lacônicas apreciações; focalizarei, agora, a
questão do sionismo.
No passado, em situações análogas - porquanto não poucas ocorreram -, adotou-se sempre uma
atitude de neutralidade que se definia, nas assembléias internacionais, por manifesta abstenção.
Esta maneira de posicionar-se não excluía, no entanto, a simpatia e a solidariedade moral às
causas consideradas justas, em especial se defendidas por povos ou homens oprimidos, ora sob
irracionais discriminações, ora sob a intolerância do fanatismo ideológico. Era este comportamento
um imperativo da grandeza moral dos brasileiros, sabiamente seguido, com inteligência e habilidade,
pelos nossos valorosos e lúcidos diplomatas.
Todavia, não foi isto que aconteceu na Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas,
porque o Brasil optou pelo voto favorável à resolução, integrando um bloco de 72 nações,
constituído, na maioria, de países da órbita soviética e de muitos outros contrários a Israel por
motivos econômicos, políticos ou religiosos.
Acredito, e este era o consenso geral, que a nossa posição devesse ser a de abstenção; contudo,
não o entenderam, assim, os dirigentes de nossa política internacional, visto que enxergaram, com os
olhos de lince que julgavam ter, grandes vantagens em sua decisão discriminatória. Seus resultados
práticos, porém, ainda permanecem em gestação.
A questão do sionismo comporta apreciações mais profundas, que considero indispensáveis
proceder em virtude não somente da posição de discordância que manifestei, como, também, em face
de certas críticas injustas que a mim dirigiram, pela imprensa, articulistas mal informados, ou bem
esclarecidos mas encharcados de má-fé. Ela não pode ser julgada por uma cena atual, porque faz
parte de um drama milenar, do qual, nos últimos tempos, têm sido protagonistas constantes os árabes
e os judeus.