discordando da idéia, enviou, ao então Ministro da Guerra, carta de rara elevação moral, da qual
destaco o trecho abaixo:
O álbum contém atas de oferecimento que fizeram as paraguaias, dos diversos partidos
territoriais, de suas jóias e alfaias para a sustentação da guerra. Entendo que deve ser entregue
ao governo paraguaio, desde que o nosso ministro interceda a favor dessas paraguaias e de suas
famílias a fim de que não sofram por causa de tal oferecimento. Eu, em caso nenhum, fico com o
álbum.'
Opinou o presidente que não considerava o livro um troféu de guerra, dadas as circunstâncias em
que foi apanhado; disse que parecia ser este o consenso histórico e mencionou o historiador Gustavo
Barroso, bem como a missiva de Pedro II.
Estávamos de acordo sob este aspecto de encarar os fatos.
Há que distinguir, do meu ponto de vista, entre aquilo que se conquista no campo de batalha, ou
nele se arrecada após sangrenta luta, e o que se obtém fora destes limites, depois da peleja, quer por
eventuais achados quer pelo saque. As peças de armamento, os símbolos e objetos de valor colhidos
fortuitamente apenas têm significação histórica, não se lhes podendo dar sentido glorioso; do mesmo
modo, jamais se poderá atribuir aos frutos da pilhagem este caráter.
O "Livro de Ouro" foi encontrado na bagagem do marechal López, o que importa dizer, entre os
seus objetos de uso pessoal, porém fora do combate propriamente dito. É possível que tenha havido
saque, o que não é de estranhar, não só pela ferocidade com que lutavam os brasileiros e paraguaios,
como pelas características dos exércitos em confronto.
O saque é a liberação da barbárie atávica nos momentos de alucinação; nele os homens saciam
seus maus instintos, matando, devastando, incendiando, praticando, enfim, indescritíveis atrocidades.
Seu móvel principal sempre foi o roubo, embora o ódio o incentivasse. Foi habitual nas legiões
romanas e prática de recompensa das tropas mercenárias da Idade Média.
Os nossos generais, no Paraguai, homens de elevado nível moral e nobres sentimentos humanos,
nunca o permitiriam. Entretanto, o visconde de Taunay, narrando cenas de Cerro Corá, assim se
expressa: "Mulheres, oficiais paraguaios, de envolta com os soldados nossos, saqueavam
freneticamente os depósitos de comida e roupa; tripudiavam como loucos, espalhavam montões de
ouro, queimavam papéis, disputavam jóias, e, afinal, atearam um incêndio que reduziu tudo a
cinzas.."'
Consoante a minha maneira de encarar a questão, o "Livro de Ouro" não é um troféu de guerra,
porquanto lhe falta a condição básica, imprescindível, de ter sido conquistado em combate. A
circunstância de ser objeto de uso pessoal, para mim, é de nenhuma valia neste critério de conceituar.
A espada que o marechal López empunhava nas margens do Aquidabanigui, quando morreu e com a
qual fez verter o sangue de muitos brasileiros, é, indubitavelmente, um troféu de guerra, sem deixar