IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

  • Não aceito! Irei para a reserva!


Se as palavras deste diálogo telefônico não foram exatamente estas, o seu verdadeiro sentido
está nelas expresso.


Avisado, o general Dilermando Monteiro teve posterior entrevista com o presidente Geisel.

Fiz redigir os decretos de nomeação do general Dilermando Monteiro para o Comando do II
Exército e do general Ednardo D'Ávila Mello para a Chefia do Departamento de Ensino e Pesquisa,
com as conseqüentes exonerações, e levei-os ao palácio do Planalto para a assinatura presidencial.


O presidente, talvez insuflado por elementos do famoso grupelho, obstinava-se em não dar
comissão ao general D'Ávila Mello, enquanto eu teimava em contrário.


Argumentei que tal medida atingiria a dignidade pessoal do general D'Ávila, já ferido pela
transferência brusca. Agora tudo deveria ser feito para que o ato não fugisse às características
normais. Com este objetivo, informei-o de que trouxera mais alguns decretos para despacho.


Levamos mais de uma hora para chegar a um acordo. O presidente fez, por intermédio do Chefe
da Casa Militar, modificar os decretos, de modo ficasse bem claro estar o general D'Ávila Mello
SENDO SUBSTITUÍDO pelo general Dilermando, e não TROCANDO de cargo. As alterações
pouco adiantaram neste sentido. Finalmente, às quatro horas da tarde, os documentos foram liberados
para publicação.


A divulgação da notícia no meio militar provocou torrentes de reações que jorravam dos
quartéis, pelos canais administrativos e de informações, ameaçando pelo azedume da linguagem
abalar a disciplina e subverter a ordem.4


O Centro de Informações do Exército condensou todas estas manifestações do desagrado militar,
bem como as opiniões colhidas entre jornalistas, empresários e elementos do setor econômico, numa
série de itens, da qual destaco, em paráfrase, os seguintes:


a) Firmara-se, entre os militares, o conceito de que o governo dava maior prioridade aos
problemas relacionados com a distensão política em detrimento da segurança nacional;


b) A interferência precipitada do presidente, apoiada pelo esquema Golbery, desarticulara o
Ministério do Exército;


c) A pessoa do ministro era particularmente visada, no sentido de desgastá-lo em sua autoridade
junto à oficialidade;


d) O fenômeno "São Paulo" parecia ter sido fabricado - planejado e provocado - na hora
oportuna para surpreender o ministro, colocando-o, inclusive, na impossibilidade de defender o
Comandante do II Exército;

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