Excelentíssimo Senhor Ministro do Exército - à ação presente dos pregoeiros da discórdia, dos
arautos da intriga, geradores de intranqüilidade e que visam a estabelecer confrontos e suscitar
incompatibilidades entre altos chefes militares.
Na qualidade de comandante supremo... sinto-me no dever de também alertar-vos... contra as
mesmas e eternas manobras dos pescadores de águas turvas e ambiciosos vulgares, os quais já
começam a rondar os quartéis como vivandeiras impenitentes ... buscando aqui e ali, despertar
aspirações e estimular ambições ...
Tempo há, bastante ainda, para que se venha a cuidar, na hora própria, do problema
sucessório ... Açodamentos ditados por interesses egoístas de indivíduos ou grupos - interesses,
em alguns casos, até mesmo inconfessáveis - servem apenas para perturbar a vida nacional ...
delicado processo de sucessão presidencial que a mim - pela posição em que estou situado e
pela responsabilidade que me foi conferida - caberá conduzir, no seu justo e devido tempo.
Ao término do banquete, todos os que ouviram o discurso presidencial ficaram convencidos de
que o general Geisel dera um golpe de morte nos pretensos candidatos à Presidência da República e
que o assunto só voltaria a ser ventilado por sua iniciativa ou autorização. O ano de 1977 estaria
destinado aos trabalhos administrativos e os problemas sucessórios só viriam a exame a partir de
1978.
Tinha sido demonstrada, publicamente, uma perfeita consonância entre o presidente e o Ministro
do Exército; seus discursos entrelaçavam-se em vários pontos, afirmando a mesma compreensão
daquele momento histórico.
No entanto, os fatos subseqüentes evidenciaram que aquela peça oratória, ao contrário do que
dava a entender, era a cena inicial da ópera bufa - uma das maiores farsas conhecidas da História do
Brasil - que culminou no dia 12 de outubro de 1977, com a minha demissão do Ministério do
Exército. Visava, na realidade, a restringir a liberdade de uns, sem limitar a de outros. Infelizmente,
esta Ópera teve como figurantes, embora secundários, muitos generais do Exército, meus colegas.
Todavia, a representação continuou e encerrou-se no início de janeiro do ano seguinte, quando os
personagens, na rigorosa obediência de preceito de Maquiavel, ou a ele atribuído - de que a máscara
só se tira na última cena do último ato -, revelaram-se, em suas verdadeiras fisionomias, à Nação.
A fala do presidente, respondendo ao discurso com que o saudei, foi o primeiro ato da campanha
sucessória e constituiu uma providência preliminar com objetivo de paralisar qualquer atividade em
torno de um eventual candidato militar à Presidência da República. Enquanto isso, continuariam, sob
suas vistas tolerantes, talvez com o seu consentimento, as articulações no sentido de consolidar apoio
ao seu preferido.
O elemento mais visado era o Ministro do Exército, candidato tido como natural numa
estratocracia, conquanto este nunca tivesse aspirado a qualquer cargo público ou eletivo, pelas suas
naturais desambição e indiferença às lides políticas. Contudo, desejava o ministro que o Exército,