Forças Armadas.
O general Geisel referiu-se sucintamente à situação criada pelo relatório norteamericano sobre o
Brasil e a sua decisão de repelir a desconsideração, por resposta enérgica, o que já fizera. Abria
mão, assim, de qualquer auxílio vindo dos Estados Unidos. Não nos foi dado conhecimento do texto
desse relatório.
Mencionou, depois, as pressões norte-americanas para dificultar ou mesmo impedir se
concluísse o Acordo Nuclear com a Alemanha. Insistiam os norte-americanos que assinássemos o
Tratado de Não-Proliferação Nuclear, no que não estava de acordo. O Brasil só pretendia usar a
energia atômica para fins pacíficos, contudo não podia amarrar-se a esse Tratado.
Desejava denunciar o Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos e queria conhecer a
opinião de seus ministros militares quanto a essa resolução.
Ouvidos os ministros, na ordem de precedência funcional, tocou-me a vez de opinar. Disse que a
ajuda norte-americana podia ser encarada sob dois aspectos: a material e a de aprimoramento
profissional. Quanto ao primeiro, não mais nos prendiam vínculos ao Acordo, considerando que o
Exército já havia adquirido, nos primeiros dias daquele mês, todo o material - armamentos, viaturas
etc. - que aqui estava sob nossa custódia, numa transação bastante favorável ao Brasil.
Em relação ao segundo, poderia ser prosseguido em outros países integrados na mesma doutrina
militar. No passado tivéramos a missão francesa - do meu ponto de vista muito superior à norte-
americana - e muito aproveitamos os seus ensinamentos. Não via, pois, maiores óbices na denúncia
do Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos.
Comunicou o presidente a intenção de tomar outras medidas paralelas, citando entre elas a
equivalência de postos dos adidos militares. Se mandávamos a Washington um general como adido
militar, por que os ianques designavam para funções idênticas um coronel?
Iria substituir o general Celso Meyer, então nosso adido militar, por um coronel. E isto foi feito;
todavia, os americanos substituíram o coronel Jack Gardner por um tenente-coronel.
O atual governo voltou a enviar aos Estados Unidos um adido militar do posto de general,
embora os norte-americanos tenham aqui mantido um oficial superior. Os maledicentes atribuem a
modificação ao propósito de abertura de vagas. Desconheço os reais motivos desta alteração,
todavia, se foram os difundidos, será difícil defendê-los moralmente.
A denúncia do Acordo de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos ocorreu em 10 de março,
encerrando um ciclo de bons entendimentos entre as Forças Armadas dos dois países.