IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Saí daquela reunião convencido de que tínhamos assegurado ao presidente a oportunidade de
realizar a reforma tão ansiada. Embora conhecesse o interesse do governo em modificar o quórum
para evitar a repetição do caso que acabávamos de viver e a preocupação que revelara com a
eleição direta dos governadores, não julguei, no entanto, que estas medidas tivessem ficado
assentadas, em definitivo.


Durante quase uma quinzena, pouco soube do que se passava no palácio do Planalto, com
respeito ao futuro Pacote. Algumas informações esparsas, trazidas pelos órgãos de informações, não
eram suficientes para dar uma simples idéia do golpe traiçoeiro que o governo estava dando na
Nação.


No dia 13 de abril promulgou o governo a Emenda Constitucional n° 7 e no dia seguinte a de n°
8.O Congresso foi reaberto a 15 de abril.


Um governo é, na palavra valorosa - pela coragem e lucidez - do ilustre escritor Ivan Lins, "um
órgão de reação da coletividade sobre os indivíduos". Como os governos agem através das leis, isto
significa que as leis são instrumentos de defesa da coletividade contra o indivíduo.


Os governos democráticos, por sua estrutura política e princípios liberais, atuam desta maneira.
Os governos totalitários ou os ditos democráticos - na perversão semântica do marxismo atual -
fabricam as leis para assegurar sua permanência no poder.


Visam à sua preservação e jamais à defesa da coletividade. Ao contrário, revelam, à saciedade,
comportamentos inconfundíveis de nepotismo e de proteção de indivíduos ou grupos em detrimento
da coletividade.


O famigerado Pacote de abril é um exemplo típico desse propósito de perpetuação de um
grupelho no poder.


O Ministério, em grande parte, foi iludido, ou melhor, traído. Se o presidente participou do
início da farsa, pode ser para muitos ainda um aspecto a examinar, mas, em face de outras atitudes
sonsas que teve, eu estou convencido de que sabia de tudo. Somente conheci o conteúdo das Emendas
n°s 7 e 8 depois de publicadas nos jornais. A reunião citada pelo general Hugo Abreu, na página 71
do seu livro O outro lado do poder, na minha opinião, não ocorreu, e se houve a ela não compareci
nem tive dela conhecimento. Fora o único ministro militar que, na reunião do dia 31 de março, no
Quartel-General da 1á Divisão de Exército, interpelara o presidente sobre a duração do pretendido
recesso do Congresso. Talvez não fosse interessante a minha presença.


O Pacote de abril foi, na realidade, uma comédia, ao que tudo indica cuidadosamente planejada,
sendo a cena de sua apresentação, no palco da ópera bufa, muito bem preparada. O seu título de
atração, "A reforma do Poder Judiciário", selecionado com desvelo, sugerindo um melodrama,
sensibilizou a platéia, predispondo-a a bem recebê-lo.

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