- Mas ele virá na relação, respondi com voz firme, encarando-o.
- Desde que não seja em primeiro lugar...
A nossa Lei de Promoções dos Oficiais da Ativa das Forças Armadas previa em seu artigo 40:
"O oficial-general..., cujo nome constar por 3 (três) vezes consecutivas em primeiro lugar em lista de
escolha, será promovido, quando da apresentação desta ao Presidente da República, pela terceira
vez."
Era este o temor do general Geisel, pois tendo sido a última lista de escolha elaborada por
unanimidade, seria necessário mudasse a maioria dos membros do Alto Comando de opinião sobre o
mérito militar do candidato, em vista da restrição do presidente.
É preciso não esquecer, no entanto, que o voto, no Alto Comando do Exército, é secreto, o que,
na minha maneira de pensar, reputo de prescrição errônea. Os generais-de-exército constituem a
cúpula hierárquica da instituição; são, portanto, os responsáveis pela renovação das lideranças e os
culpados pelo abastardamento das mesmas, se mal escolhidas. O voto a descoberto, do meu ponto de
vista, é saneador nos colegiados desta espécie, porque a publicidade expõe à análise e à crítica,
embora se processe em ambiente restrito. Isto permite gerar e difundir a OPINIÃO - inexorável juíza
no tribunal da consciência.
Os próprios debates que precedem os julgamentos, paradoxalmente, servem, não raro, para
explicar o sentido do voto secreto.
Quando assumi o Ministério do Exército, propus adotássemos o voto a descoberto, porquanto
não seria crível que os maiores dignitários da instituição tomassem suas decisões ocultas no
anonimato pessoal. As decisões coletivas pulverizam a responsabilidade que os verdadeiros chefes
militares repugnam fragmentar.
Somente um general-de-exército - Euler Bentes Monteiro - concordou comigo; os demais
alegaram que este modo de proceder, além de não regulamentar, trazia o grave inconveniente de
facilitar a divulgação do comportamento e votos dos membros do Alto Comando. Consistia este o
argumento capital, porque, apesar do caráter secreto do órgão, suas atividades eram difundidas nos
jornais e debatidas, pelas manhãs, nas baias e picadeiros do Regimento de Cavalaria de Guardas.4
Permaneceu, assim, o general Montagna na ativa e, em novembro de 1977, os mesmos generais
que o colocaram por unanimidade - com exceção do general Calderari, que não participara da
reunião anterior - mudaram de opinião sobre seu mérito militar, em face de um fato novo: a rejeição
presidencial.
Concederam-lhe um primeiro lugar, dividido com outro general.
Depois de 12 de outubro de 1977 a experiência lhe foi bem amarga.