covardes e sanguinárias que a História narra com repugnância.
Estávamos de prontidão e dormíamos em camas de campanha numa ampla sala, porquanto o
edifício do CPOR não dispunha de instalações adequadas a esses casos de emergência. Uma única
porta abria-se para a escada que vinha do andar inferior. Além dos oficiais, mais de meia centena de
sargentos, que ali realizavam cursos de extensão e aperfeiçoamento, passavam a noite em situação
semelhante.
Permanecia acordado, preocupado com o panorama militar geral, pois no Nordeste há quatro
dias tremulava sobre Natal a bandeira vermelha. A noite avançava e no seu silêncio ouvi, na sala
contígua, uma altercação na qual distingui perfeitamente a voz de um de nossos sargentos auxiliares,
opondo-se ao sargento ajudante que se apossara de uma arma automática, com iniludíveis intenções
de rebelar-se.
Enquanto isso, percebi alguém, em pesados passos, subindo pela escada que terminava
exatamente em frente à porta de nossa sala.
Saltar da cama, vestir o capote e sair rápido foram ações reflexas. Do topo da escada vi, já no
patamar intermediário, o cabo protocolista, homem do Nordeste, que resoluto ameaçava continuar o
acesso.
Interpelei-o, perguntando-lhe para onde ia naquelas tardias horas da noite. Deteve-se, ergueu a
cabeça lombrosiana, cuja calva brilhou sob a luz da lâmpada solitária que preservava a penumbra,
fitou-me com arrogância, gorgulhando com raiva:
-Vou ajudar os meus irmãos do Norte...
O capitão Antonio Tiburcio de Almeida e Souza - hoje general reformado -, homem destemido e
arguto, ouviu o perigoso diálogo, sentiu a gravidade do momento e acorreu em meu auxílio; seguiu-o
o tenente Edward de Lima Prado.
Cabo e sargento, imediatamente presos, foram submetidos a inquérito que, estendendo-se,
comprovou também as ligações de dois oficiais instrutores, daArma de Cavalaria, com a rebelião
deflagrada.
Este ambiente de intranqüilidade dominou naqueles difíceis dias a guarnição do Rio de janeiro,
onde todas ou quase todas as unidades tiveram problemas dessa espécie. Elementos marxistas -
mascarados de democratas - salpicados pelos quartéis procuravam subverter o Exército em favor da
implantação de um regime totalitário. Mas, nada conseguiram não obstante promessas, traições e
violência com que agiram, visto que o pensamento do verdadeiro Exército, aquele que esmagou a
revolta comunista de 1935, era ainda idealista e fortemente liberal.
Na tarde de 19 de outubro de 1937, no quartel do meu regimento, o 4 de Cavalaria Divisionário,