IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

atitude de H. Barreto, pois o condecorara. Entretanto não seria descabido admitir que, neste caso,
algum inteligente analista do Planalto - qual exegeta bíblico - visse na concessão uma afronta ao
presidente, que oficialmente estava alheio ao pronunciamento. O ministro, então, seria o inspirador e
responsável pela decisão, em vista de sua posição de presidente do Conselho da Ordem do Mérito
Militar.


Hoje, anos passados destes acontecimentos, estou convencido de que a trama foi bem urdida,
dela participando todo o grupelho palaciano, sem exceção dos dois presidentes, o que já deixou o
cargo e o que o assumiu. A figura central de todo este conluio, acredito tenha sido, como sempre, o
discreto porém astucioso Chefe da Casa Civil,' seguidor bem-sucedido das normas do famoso
funcionário da Chancelaria de Florença e imitador feliz do duque de Otranto.4


A CAMPANHA VELADA PELA SUCESSÃO


A declaração de Humberto Barreto e a suposição generalizada de que o presidente, tacitamente, a
aceitava liberaram as ambições, abrindo aos políticos campo para especulações. O assunto começou
a ser murmurado nos quartéis e, na esfera civil, transformou-se no saboroso acepipe das reuniões
sociais. Todos tinham uma simpatia, um interesse ou uma "velha" amizade ligando-os a um nome
público. Os grupos definiram-se, embora muitos, sem consistência e valor político, carecessem de
importância. Entretanto, não obstante isto, foram inevitáveis as conjeturas sobre os papáveis ao cargo
de presidente, com os elogios e retaliações que estes ambientes proporcionam.


Os nomes do Ministro do Exército e de alguns generais, particularmente Reynaldo de Almeida,
Euler Bentes e Dilermando Monteiro, vinham à baila constantemente. Os políticos Magalhães Pinto,
Ney Braga e Aureliano Chaves foram os mais lembrados entre os congressistas. Numa livre disputa
democrática esse panorama poderia ser considerado salutar e construtivo, mas, segundo praxe
revolucionária, o futuro presidente deveria ser indicado pela escolha ou simples aval das Forças
Armadas, as quais, pelo que eu admitia e ouvia, não prescindiriam desta participação, visto que eram
as responsáveis perante a Nação pelos êxitos e fracassos da Revolução de 1964. Assim ocorrera
com os quatro primeiros presidentes; não se poderia, pois, negar-lhes este pretenso direito.


O Presidente da República, logicamente, teria predominante desempenho na orientação do
delicado problema sucessório; todavia, às Forças Armadas caberia, obrigatoriamente, opinar sobre o
seu sucessor. Do contrário seria aliená-las de decisão vital aos destinos revolucionários, sem retirar-
lhes a culpa dos insucessos, ficando, porém, resultados felizes creditados ao presidente. Esta
assertiva é plenamente confirmada hoje, quando as Forças Armadas, em particular o Exército, são os
"bodes expiatórios" dos fracassos do governo Geisel, sofrendo as mais torpes e injustas acusações
que, moralmente, muito as flagelam.


Em oportunidades várias expendi o meu ponto de vista de que o Alto Comando do Exército não
poderia ser alijado da sucessão presidencial. Não constituía, também, segredo que me considerava
um representante do Exército junto ao presidente para lutar pelo engrandecimento da instituição e

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