IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Como poderia rompê-lo sem ferir os princípios de lealdade que me vinculavam ao general
Geisel?


A campanha sucessória, não obstante as pressões oficiais, começou a borbulhar em várias áreas.
Ninguém, de bom grado, aceitava a imposição governamental de um candidato. Eu, particularmente,
não admitia fosse feita uma indicação sem consulta ao Exército. Somente a aplaudiam aqueles que
estavam certos de auferir futuras vantagens.


O grupelho do palácio, contudo, estava no deliberado propósito de rejeitar qualquer candidato
que não fosse o general Figueiredo. Contou-me, há poucos meses, um coronel ligado naquela época
ao general Golbery, porém agora em divergências com o governo, que este general lhe assegurara ser
necessário abrir, quanto antes, a campanha sucessória, visto que os candidatos já estavam surgindo.
Passou a citá-los: o general Frota era, pela posição, um deles, dos mais fortes; Reynaldo, candidato
de um grupo com algum respaldo na política nordestina; Ariel, de outro grupo, e Dilermando, agindo
em São Paulo.


O coronel perguntou, então, a Golbery se não ia mencionar os generais-dedivisão, entre os quais
Figueiredo e Antonio Carlos Serpa poderiam ser incluídos, pelo que se propalava à boca pequena.
Não obteve resposta.


A CENSURA TELEFÔNICA E A SITUAÇÃO POLÍTICA


Não é segredo que o SNI exercia censura telefônica, aplicando-a, talvez, mais em proveito de ações
politiqueiras do que em assuntos de interesses nacionais. Nessas tarefas de espionagem rasteira,
consoante cópias de gravações entregues pelo SNI ao CIE, foi colhida uma conversa, entre familiares
do deputado Marcelo Linhares, versando sobre a sucessão e suas intrigas. Dela, por importante,
desejo fazer uma síntese, que esclarece fatos e comportamentos ainda tidos como nebulosos.


A censura atuou de dez horas e dez minutos às cinco da tarde do dia 5 de outubro de 1977,
espaço de tempo em que se teriam entreligado o deputado Marcelo, seu irmão, o coronel Heitor
Caracas Linhares e duas senhoras da família.


Da análise desta conversação brotaram, bem vivas, as seguintes afirmações:


  • O deputado Marcelo e o general Jayme Portella eram decididamente contra a candidatura
    Figueiredo. 0 primeiro por motivos de política regional e o último por não aceitar a imposição de um
    candidato tirado do "bolso do colete", como disse. Considerava esta imposição uma afronta ao
    Exército.

  • O ministro Frota mantinha-se fiel à orientação de Geisel de não tocar no assunto. Por isto, tudo
    estava sendo feito à sua revelia.

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