Abreu, na sua boa fé, chegou a sugerir-me a adotasse.
A exploração de meu nome, o alarde que se fazia em torno de minhas visitas às guarnições
militares, a divulgação, os incentivos e as invencionices ligadas a minha suposta candidatura foram
atividades urdidas no palácio, em particular, segundo informações, no próprio Gabinete Civil da
Presidência, visando a criar-me choques e incompatibilidades com o general Geisel. O próprio
general Hugo Abreu disse-me isto e confirmou em um dos seus livros.
Obstino-me em negar tivesse manifestado com alguém, em qualquer circunstância, pretensões ao
cargo presidencial. As especulações que se faziam surgiam à minha revelia e delas, como já disse,
nunca tive prévio conhecimento.
Não aceitava, e isto era pensamento antigo, a imposição ao Exército de um candidato único, mui
especialmente quando o ungido pelas graças presidenciais trazia a reboque um grupo de elementos de
carcomidos conceitos na opinião pública. E a voz do povo é a voz de Deus, na concordância
inequívoca expressa pelo adágio.
- A afirmativa da participação de elementos, considerados meus amigos, nessa manobra,
consciente ou inconscientemente ligados aos homens do Planalto, é perigosa, porquanto só tem
sustentação em observações de caráter subjetivo e na apreciação de provas circunstanciais. Pode
haver uma evidência física, porém não suficiente para uma persuasão absoluta. É preciso não dar
valor exagerado a essas indicações. Os indícios, encadeados por um raciocínio lógico, podem
induzir a uma ilação tida como verdadeira, embora muitas vezes não o seja. Isso porque no aquilatar
os fatos a subjetividade é fator preponderante.
Os exemplos não escasseiam. Uma das mais revoltantes injustiças praticadas pelos homens foi a
condenação do capitão Alfred Dreyfus, do Exército francês, procedida com base em provas
circunstanciais. Semelhanças caligráficas e a origem israelita de Dreyfus, insinuando ser este o
criminoso, bastaram para degradar e deportar para a Ilha do Diabo o jovem capitão, que sempre
protestou inocência.
Tudo que é subjetivo depende do homem, e já dizia o latino Plauto: "O homem é o lobo do
homem."
Certas personalidades tiveram nesses acontecimentos papéis aparentemente dúbios, sendo difícil
esclarecê-los com os dados que conhecemos. A maioria de meus amigos inclui neste grupo o ex-
deputado Synval Boaventura e o general Jayme Portella. Repugnou-me sempre aceitar estas
insinuações pois, se assentisse neste julgamento, seria reconhecer que estávamos moralmente à borda
de um precipício. Um deputado alcagüete do SNI e um general bifronte eram figurações abjetas que
só podiam ser entendidas num ambiente putrefacto.
O deputado Synval Boaventura, um dos congressistas que mais citaram e defenderam uma
candidatura do ministro Frota, era, sem menor dúvida, um homem freqüentador das salas do SNI.