Regressando a Brasília, na manhã de segunda-feira, dia 5, encontrei a guarnição em polvorosa.
Aos primeiros contatos com os oficiais de meu gabinete, fui indagado se porventura lera o artigo
citado. Respondi-lhes que não o conhecia; então mostraram-mo. Examinei-o e classifiquei-o de
provocante e aviltador. Soube pelo Chefe do CIE que também os generais estavam indignados com
os ultrajes escritos e difundidos pelo jornal.
Ânimos aquecidos no Exército são perigosíssimos, especialmente nos casos em que a instituição
é achincalhada, como o foi. Qualquer faísca criará a labareda inicial do incêndio, que pode alastrar-
se pela floresta.
É preciso, de imediato, desanuviar as mentes com medidas enérgicas que resguardem o Exército
das aleivosias dos difamadores e restaurem o respeito devido às Forças Armadas. Em caso
contrário, propicia-se oportunidade de desagradáveis confrontos cujos resultados são imprevisíveis.
Ouvi, já no meu gabinete, o meu ilustre e brilhante consultor jurídico - dr. Nelson Pecegueiro do
Amaral - sobre as providências a tomar; julgou-se acertado processar o detrator.
Estabeleci ligações com o Ministro da justiça e perguntei ao dr. Armando Falcão se tinha lido o
artigo da Folha de S. Paulo. Respondeu negativamente. Aconselhei-o então a lê-lo para bem aquilatar
a que ponto chegara a hostilidade de certos jornalistas em relação às Forças Armadas. Disse-lhe,
ainda, que entraria com um pedido para levar Lourenço Diaféria à Justiça. Lembrei, naquela ocasião,
ao ministro Armando Falcão, que por duas vezes já agira analogamente em outros casos, mas os
processos resultantes, acreditava eu, deviam estar convenientemente encalhados em resistências
burocráticas. Entretanto, desta vez, se não surtisse efeito mais esta tentativa de atuar através dos
tribunais, eu me considerava liberado para seguir outros caminhos, porquanto não poderia permitir
que se enxovalhassem o Exército e seus chefes impunemente.
Retorquiu o ministro Falcão que reconhecia certa lentidão nesses tipos de processo, porém faria
o possível para evitar qualquer retardo no encaminhamento da documentação.
No mesmo dia 5 remeti aos comandos de Exército e de áreas um telegrama comunicando essa
decisão e recomendando sua difusão na tropa.'
Todavia, sendo o dia 6 - terça-feira - destinado ao despacho presidencial, antes de qualquer
medida efetiva, visando a evitar novas intrigas, preferi participar ao general Geisel a minha
disposição de processar o jornalista. Esta providência, embora fosse de minha iniciativa, seria
fatalmente explorada pelo famigerado bloco do Planalto como uma desconsideração ao chefe do
governo, caso eu não lhe desse ciência prévia desse propósito. Durante a audiência o presidente não
fez alusão ao artigo "Herói. Morto. Nós.", porém antes que a encerrasse perguntei-lhe:
- O senhor leu o artigo do jornalista Diaféria, publicado no dia 1°, insultando o Duque de Caxias
e incitando a opinião pública contra o Exército?