Eu não poderia, de modo nenhum, permitir tal manifestação, que considerava de flagrante
indisciplina. Um documento desta espécie entregue ao presidente era uma desconsideração que
tocava as fímbrias da insolência.
Rejeitei o argumento e perguntei aos membros do Alto Comando se todos estavam, realmente, de
acordo fosse levada ao general Geisel a nossa indignação pela conduta inamistosa de Terence
Todman. Repetiu-se o geral silêncio de aprovação. Comprometi-me, pois, com os generais a dar
conhecimento ao presidente, no próximo despacho, das reações negativas que a visita do secretário
norte-americano provocara.
Assim ficou decidido.
Este fato, entretanto, difundiu-se. Inicialmente, nos círculos militares de Brasília e, após a minha
exoneração, em 12 de outubro, chegou às colunas dos jornais, como se depreende da reportagem de
Lúcio Asfora, publicada em 25 de fevereiro de 1979 no Estado de S. Paulo. É um dos mais fiéis e
equilibrados noticiários sobre a matéria, o qual, escoimado de um equívoco de nomes, que não afeta
a essência dos acontecimentos, é a expressão da verdade. Transcrevo-o, na parte relativa ao evento
que mencionei, por julgar interessante um confronto. Desta maneira é que cabe à imprensa informar:
Excluindo o "grupo palaciano"; sobre o qual se concentram as suspeitas de haver coordenado a
inviabilização da candidatura Frota, três generais ainda não tiveram suas posições devidamente
esclarecidas no afastamento do ministro, quando analisadas à luz de um fato, ou por outra, de um
pequeno incidente que precedeu a exoneração em alguns meses. Numa reunião do Alto Comando,
Ariel Pacca e Dilermando Monteiro reprovaram a visita do subsecretário norte-americano para a
América Latina, Terence Todman, a dirigentes do MDB, e seu interesse em conhecer melhor as
reivindicações e o programa oposicionista. A reunião guardava caráter informal, como acontecia
sempre que o Alto Comando analisava assuntos conjunturais. Os microfones estavam desligados,
por ordem do próprio Frota, e, neste ambiente, o ministro foi surpreendido com a sugestão de
redigir-se, ali mesmo, uma nota de protesto à visita de Todman, assinada pelos integrantes do
Alto Comando. Frota a levaria ao presidente Geisel. O ministro discordou, com veemência,
considerando esta formalidade sem nenhum propósito. Ele poderia tratar do assunto,
verbalmente, na próxima audiência. A idéia, insistiram os autores da proposta, teria por objetivo
"apenas preservá-lo, nada mais". Desconfiado, Frota reiterou a negativa. Um terceiro general,
Tácito Theóphilo Gaspar, interveio em favor dos dois companheiros afirmando que não haveria
problema em que o ministro fosse o portador da nota ao presidente, "pois Geisel defende o
Brasil", observação prontamente endossada por Frota.
Qual o sentido da insistência? Incompatibilizar Frota com Geisel? Identificá-lo, aos olhos da
Nação, como intransigente e radical? O fato é que prevaleceu a decisão do ministro, e o
documento foi vetado.
A próxima audiência que teria com o presidente seria na terça-feira, 4 de outubro, dia em que
deveria, de acordo com o compromisso assumido com os generais, participar-lhe a nossa aversão ao