IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

  • Não me lembro...


Neste momento, persuadido de que Bethlem não lera o relatório, tapando com a mão o fone,
disse para o meu ajudante-de-ordens:



  • O homem assinou sem ler... (e voltei ao diálogo).

  • Aquele em que você fala de duas pressões... de três generais...

  • Agora me lembro...


Trocamos mais algumas palavras e informei-o de que iria escrever-lhe e, realmente, o fiz.
Durante esta ligação, o general Bethlem nada me disse sobre a conversa que, momentos antes, já
tivera com Hugo Abreu. Ocultou-a, naturalmente, para não comprometer a manobra política do
Planalto da qual, estou convencido, desde agosto - época do encontro com o general Figueiredo -
participava solertemente.


Sobre seus contatos com Bethlem diz Hugo Abreu, nas páginas 133 e 134 de seu livro referido:

... O coronel Francisco Fernandes, do Gabinete Militar, ficou encarregado de procurar o general
Fernando Bethlem, Comandante do III Exército, em férias no Rio de janeiro. A missão do
coronel Fernandes era informar o general Bethlem do ocorrido, avisá-lo de que o Presidente de
República desejava falar com ele o mais cedo possível e acom panhá-lo a Brasília. Um jatinho
H.S. da Força Aérea Brasileira estaria à disposição do general, na Base Aérea do Galeão, desde
às nove e trinta da manhã do dia 12....

À noite fiquei preocupado com a possibilidade de não ser encontrado o general Bethlem que,
como vimos, estava de férias no Rio. Telefonei para ele e pedi-lhe para receber um oficial do
Gabinete Militar que lhe iria levar um documento meu. A finalidade do telefonema era apenas
deixar marcada a hora do encontro do oficial com Bethlem, mas quase provocou problema
maior. É que, por coincidência, o ministro Frota também telefonou para Bethlem pouco depois.
Frota queria falar-lhe a respeito do relatório de informações emitido pelo III Exército e assinado
por Bethlem, que estava provocando muita reação pelo seu radicalismo e pelas críticas
formuladas contra o próprio governo. O general Bethlem disse então a Frota que deveria ser essa
a razão que me levara a lhe mandar um oficial para falar sobre um documento. O ministro Frota
estranhou que eu estivesse discutindo tal assunto diretamente com um Comandante de Exército,
sem falar com ele, e, depois de se despedir de Bethlem, mandou ligar para mim. Felizmente não
me encontrou em casa. Eu ficaria em dificuldade para explicar ao general Frota qual era
realmente a missão do oficial que deveria procurar Bethlem no dia seguinte.

O general Bethlem, como disse linhas atrás, sonegou-me a notícia do telefonema de Hugo Abreu,
nada me tendo contado sobre esse assunto. Não sei quem transmitiu ao Chefe da Casa Militar esta
versão, porém, tudo leva a admitir tenha sido o próprio Bethlem, direta ou indiretamente. Procurava,
assim, escamotear a verdade da seqüência dos acontecimentos.

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