A CONVOCAÇÃO DO ALTO COMANDO DO EXÉRCITO
Dirigi-me diretamente para a minha residência, onde apanhei a nota que pretendia enviar aos
comandos subordinados. Iniciara sua elaboração no dia 9 de agosto e apenas deixara em branco a
data e os motivos de minha demissão. Faltava, portanto, completá-la com estes dados.
Sem demorar-me, segui para o gabinete ministerial, lugar em que se encontravam meus auxiliares
diretos. Tomei de uma folha de papel e, às pressas, redigi a cena do palácio - meu encontro com
Geisel - atendo-me mais à precisão dos fatos e expressões pronunciadas, sem preocupações
redacionais. Entreguei-a ao meu assistente, tenente-coronel Athos Marques do Amorim, para incluí-
la na nota visando a preencher lacuna existente. Não a revi, porquanto tinha urgentes assuntos a tratar.
Absolutamente desinformado sobre a situação, resolvi comunicar-me com os generais-de-
exército, tencionando avisá-los das últimas ocorrências e convocá-los para uma reunião do Alto
Comando, na qual pretendia esclarecer as razões da nota distribuída.
Estabeleci ligação telefônica com o Comandante do II Exército, general Dilermando Gomes
Monteiro, a quem dei a notícia de minha exoneração. O general mostrou-se surpreendido e usou a
expressão:
- Oh! Mas como foi isto, ministro?
Todavia, já tomara conhecimento, aproximadamente às nove horas, pelo coronel Kleber
Frederico de Oliveira, enviado pelo general Hugo Abreu, do propósito do presidente a meu respeito.
Pedi ao general Dilermando que informasse o general Calderari - ocasionalmente em São Paulo -
do ocorrido e convoquei ambos para uma reunião do Alto Comando. Disse-lhe ainda que desejava
falar-lhes sobre um documento que ia lançar.
O general Dilermando prometeu seguir imediatamente com destino a Brasília, no entanto, pouco
depois, telefonou para o general Hugo Abreu e comunicou-lhe que eu estava reunindo o Alto
Comando, indagando se ele e Calderari deveriam ir. Consoante informações de vários oficiais e do
próprio Hugo Abreu - quando esteve em minha residência - essa comunicação foi feita nos seguintes
termos:
- 0 homem está reunindo o Alto Comando... É para ir ou ficar?
Na página 140 de O outro lado do poder está a confirmação desta atitude subserviente.
Esta expressão sarcástica, mais digna de um esperto político do interior brasileiro, abastardou o
procedimento do general Dilermando.
A informação do Comandante do II Exército desencadeou o pânico no palácio do Planalto. O
presidente, avisado, decidiu evitar de qualquer maneira houvesse a reunião e teria proferido,