IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Visando à passagem do cargo de Ministro do Exército, determinei ao meu Chefede-Gabinete que
preparasse uma dependência para efetuá-la, uma vez que não pretendia usar o salão do gabinete -
lugar normal - onde me encontrava. Temia que, com a presença dos generais do Alto Comando, não
resistisse ao enjôo e às suas desagradáveis e repugnantes conseqüências.


Pouco depois das seis da tarde começaram a chegar os generais. O novo ministro foi o primeiro;
mandou solicitar autorização para usar o meu vestiário e uniformizou-se. Merece uma referência
especial a circunstância de estar Bethlem à paisana. Seus assessores disseram, procurando fortalecer
a tese da surpresa, que não trouxera uniforme em sua viagem ao Rio, tendo que mandar buscá-lo, às
pressas, em Porto Alegre. Esta asserção é por demais ingênua para ser aceita, porquanto Bethlem,
estando em dispensa de serviço, obrigatoriamente teria de fazer as apresentações regulamentares.


Encontramo-nos, de passagem, no corredor; disse-me uma palavra à guisa de lamúria, respondi-
lhe secamente sem estender-lhe a mão.


Hugo Abreu apareceu a seguir; conversei com ele por alguns momentos, mas não o hostilizei,
pois desconhecia seu procedimento na Farsa que se representava.


Não falei com nenhum dos outros generais, que foram encaminhados à sala da cerimônia sem
passar no meu gabinete.


Alguns dos meus auxiliares insistiram para que me retirasse sem transmitir o cargo, comunicando
a Bethlem que o assumisse. Argumentavam que o novo ministro era um embusteiro, não merecendo,
portanto, essa consideração. Discordei por classificar esse comportamento de estulto e inócuo.
Reconheço que me foi mui desagradável apertar a mão de Bethlem, na parte final do ato, no entanto
era uma imposição regulamentar fazê-lo. Foi um amargurante sacrifício!


É de praxe, nessas ocasiões, o novo ministro acompanhar seu antecessor à saída do gabinete,
todavia, encerrada a cerimônia, dirigi-me diretamente ao elevador e retirei-me.


MINHA PARTIDA DE BRASÍLIA


Em minha residência procuravam-me generais e oficiais; entre os primeiros estavam Argus e Fritz
Manso, que acabara de chegar a Brasília, voltando do Piauí.


Argus - um ex-amigo -, preocupado com a minha saúde, perguntou à minha esposa se eu estava
passando bem. Ouvi a indagação e a resposta:



  • Está, general! Tem a consciência tranqüila, porque nunca fez nada de condenável!


Antes da meia-noite, cansado das comoções do dia, deitei-me e dormi a noite toda.

Pela manhã do dia 13 de outubro, meu ex-Chefe-de-Gabinete, general Bento, procurou-me, da
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