IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

No período de outubro de 1977 ao de 1978, particularmente a partir de janeiro deste último ano,
logo que foi tornado público o que já era, de muito, ostensivo - a opção do general Geisel pela
candidatura de Figueiredo -, intensificaram-se as atividades políticas.


A exoneração, a pedido, de Hugo Abreu e a sua adesão ao general Euler ameaçaram fender o
Exército. O grupo planaltino - façamo-lhe justiça - não perdeu tempo na retaliação de seus oponentes,
não escolhendo, como de hábito, caminhos e meios para agir.


Enxames de panfletos ridicularizavam Hugo Abreu e os jornais governistas não o pouparam
quando cometeu o censurável erro de viajar com a esposa usando passagens de seu genro, pagas pelo
estado do Rio de janeiro. Os puritanos do palácio, com gastos incontroláveis, custeados pelas
mordomias e verbas secretas, empregadas ao deus-dará, não deviam estar moralmente muito à
vontade para censurá-lo. Os ataques a Euler eram - pela estrutura moral do candidato - mais
mesquinhos. Escolheram, para bater, a tecla de anti-revolucionário e esquerdista. Um jornal, em
fotografia visivelmente encomendada, mostrou-o num grupo de políticos da oposição, entre os quais
estavam homens de reconhecida tendência marxista, visando a incompatibilizá-lo com os militares.


Os partidários do general Euler criaram a Frente Nacional de Redemocratização e também se
lançaram na conquista de novos adeptos. Nessa ocasião recebi visitas interessantes que retratam
sondagens e tentativas de aproximação, objetivando obter uma manifestação de minha parte favorável
a um dos candidatos.


Descrevamo-las a fim de apreciar as teceduras e ardilezas políticas às quais se adaptam os
militares que, abjurando a farda, transvestem-se em políticos e passam, assim, a empregar uma
linguagem macia e evasiva, de seduções tentadoras e promessas aleatórias, esquecidos do linguajar
firme e claro das lides castrenses.


AS VISITAS DE BARBIERI


O ilustre empresário paulista Carlo Barbieri conheceu-me no tempo em que comandei o 1 Exército,
tornou-se meu amigo e visitou-me numerosas vezes. Tínhamos, e parece que ainda temos, os mesmos
pontos de vista sobre os graves problemas nacionais. Admiro-o pela sua coragem e idealismo.


Em uma de suas visitas a minha casa, disse-me Barbieri que estava sendo muito assediado pelo
deputado Alcides Franciscato, da extinta Arena de São Paulo, para que comparecesse a uma
audiência com o candidato oficial à Presidência da República, que já fora marcada.


Estranhou Barbieri este fato, porquanto não havia solicitado audiência ao general João
Figueiredo, nem a pediria dentro do restrito limite de tempo permitido.


No decorrer da palestra, Franciscato indagou de Barbieri se era verdade que tinha um círculo de
relações apreciável entre os generais do Exército. Respondendo, Barbieri negou esta informação,

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