IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

comportamento ser acoimado de desleal a Geisel.


Neste dilema, decidi permanecer no cargo, empenhando-me para evitar medidas que,
abastardando a Revolução, fizessem periclitar seus objetivos. Fi-lo, contudo, abertamente, sem ferir
nem ao menos arranhar a lealdade ao presidente. Mas o grupelho do Planalto, sempre atento ao
prosseguimento de suas calúnias e intrigas, não perdia vaza, transformando todo argueiro em
cavaleiro... e o inevitável aconteceu.


Logicamente, a outra opção seria a de não continuar no cargo ao notar os rumos, lesivos à
Revolução, que tomava a política do governo Geisel. Esta decisão não teria cabimento para um
revolucionário, pois sujeitá-lo-ia aos apodos de omisso, desertor e outros mais ferinos. Era,
entretanto, a que mais agradaria aos homens do Planalto, que poderiam explorá-la no sentido
depreciativo com falsidades, em que eram hábeis e generosamente fartos. O próprio presidente
tentou-a sem êxito, pois preferi a demissão para bem evidenciar que não abandonaria minhas idéias,
curvando-me aos propósitos governamentais de desfigurar a Revolução pela adulteração de seus
objetivos. As últimas palavras do general Geisel, proferidas naqueles momentos desagradáveis -
"Não fique meu inimigo! mostram ter sido percebida a minha intenção de não capitular.


Colocou-se, deste modo, o governo no dever de justificar a minha exoneração, dando a público o
motivo que a provocara. Uma reunião no palácio do Planalto, entre Geisel e seus assessores
palacianos, gerou a luminosa solução - incompatibilidade pessoal.


A nota difundida, embora mentirosa, foi lida por um homem que alardeava minha amizade, mas
não se envergonhou de participar da farsa. Era um primor de hipocrisia.


Visando a lançar o Ministro do Exército à execração pública, apresentando-o como conspirador
e fascista, seguiu-se uma campanha de acusações falsas e ignóbeis, desencadeada pela imprensa sob
a égide e participação dos assessores diretos do presidente Geisel e a silenciosa complacência dos
insubordinados generais do Alto Comando do Exército que, pelo aviltamento de suas atitudes, serão
sempre lembrados como os "generais de 12 de outubro".


Acabara-se a época do idealismo, que tantos exemplos de dignidade e heroísmo transmitira às
jovens gerações militares, e já mourejávamos na do pragmatismo no qual, em última análise, só é
verdadeiro o que é útil, tese que coloca os interesses acima dos ideais e a honra abaixo da vida.


E, assim, cheguei ao 12 de outubro de 1977 - coerente com os meus princípios, fiel aos
postulados dos revolucionários de 1964 e de consciência absolutamente tranqüila.

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