Em certas unidades da Divisão Blindada - caso do Regimento de Cavalaria Mecanizado - pensou-se
na extrema decisão de preparar a tropa para ocupar o estádio do Maracanã e destruir as urnas
eleitorais, ali custodiadas sob responsabilidade da Justiça. Evitou este desatino a hábil e enérgica
atitude de meu antecessor, revolucionário de puros ideais, meu antigo chefe e querido amigo, general
José Horácio da Cunha Garcia.
Esse ambiente, não se pode negar, exalava indignação. As queixas visavam menos ao presidente
do que aos elementos que o cercavam.
O grupo militar, que tinha à testa os generais Cordeiro de Farias, Ernesto Geisel e Golbery, bem
como os seus usufrutários, açambarcava todas as antipatias e ressentimentos.
A questão das posses de Israel Pinheiro e Negrão de Lima foi finalmente superada, fortalecendo-
se a posição de Costa e Silva junto à corrente ortodoxa do Movimento Militar. Sua liderança no
Exército, em especial nos corpos de tropa, cresceu muito. Cônscio deste prestígio, pronunciou ele, ao
partir em viagem à Europa, a famosa frase "Viajo ministro e volto ministro", expressão que
encerrava um sentido misto de confiança e desafio.
Aproximando-se as eleições presidenciais de 3 de outubro de 1966, emergiram das hostes
revolucionárias os candidatos militares, "anfíbios"' e civis.
O candidato do Exército, em sua esmagadora maioria, era, indubitavelmente, o general Costa e
Silva, a quem a Revolução, no seu início, deveu não ter sido transformada num motim de generais e
abocanhada pelos políticos ambiciosos e sagazes. Homens do palácio do Planalto e alguns ministros
demonstraram-lhe gratuita hostilidade, dado que pretendiam permanecer "eternamente" no poder,
fazendo, com este objetivo, da sucessão presidencial uma "ação entre amigos".
Definida e efetivada a candidatura Costa e Silva, contra ela começaram as manifestações
públicas dos frustrados e descontentes. O general Cordeiro de Farias - o empresário das revoluções,
das quais auferiu sempre lucros máximos - demitiu-se do Ministério, atribuindo, em carta, ao
presidente dubiedade de comportamento?
Os generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva também reagem pedindo demissão. O
primeiro, Geisel, já se manifestara em certa ocasião em relação a um choque com Costa e Silva
dizendo: "... Pouco importava que houvesse crise agora, essa crise que estão querendo evitar. Prefiro
até que haja, e, se eles ganharem, que venham e assumam a responsabilidade do governo." Estas
palavras denotam nenhuma preocupação pela unidade do Exército, pois o único interesse - deduz-se
do que foi dito - parece ser o de assegurar posições no poder.
Quanto ao último - o general Golbery - sentiu que na gestão de Costa e Silva não teria ambiente
para agir nas sombras, atrás dos bastidores, nas suas ardilosas tramas políticas. Perderia o renome
de oráculo que os bajuladores concediam-lhe, na interpretação de raras e apocalípticas palavras
tombadas de seu quase mutismo. Afora isto, era malquisto pelos oficiais ligados ao ministro.