IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

falaria por todos, porquanto conhecia melhor os meus colegas generais do que eles. Estaria em
condições mais favoráveis, por isso, de aquilatar seus méritos e deméritos com maiores
probabilidades de acerto. A par desse argumento considerava tal procedimento incompatível com as
normas de disciplina e da hierarquia, além de deteriorante do prestígio dos chefes.


Uma grande unidade do Exército não podia ser equiparada, nem pelo absurdo, a uma seção
eleitoral.


Coloquei-me decisivamente ao lado do general Médici, cujo desprendimento e serenidade
tornavam-no merecedor da confiança dos que ansiavam pela normalidade para prosseguimento da
Revolução. Procurei outros generais que assim pensavam, sendo imperativo realçar o apoio que nos
deu, naqueles momentos difíceis, o meu amigo general Tasso Vilar de Aquino - comandante da antiga
Divisão Blindada - para calar as exaltações dos inconformados e mostrar que resultaria inócua
qualquer tentativa de conturbar a ordem pública.


O general Emílio Garrastazu Médici toma posse no cargo de Presidente da República em 20 de
outubro de 1969; menos de dois meses depois, falece o segundo presidente da Revolução - marechal
Arthur da Costa e Silva.


Permaneci no Comando da lá Região Militar, afora alguns períodos de interinidade no escalão
superior, até julho de 1972, quando, promovido ao posto de general-de-exército, fui nomeado
Comandante do 1 Exército.


O governo do general Médici teve a penosa e arriscada missão de enfrentar a subversão em sua
fase agressiva e de maior periculosidade. Foi uma tarefa tão embaraçosa quanto complexa.
Embaraçosa porque nos deparávamos constantemente com jovens de aparência serena que
guardavam almas de lobos, surpreendendonos a todo instante com um fanatismo feroz. Complexa,
visto que a diversidade de processos de ação, tipos de atuantes, forma do reagir à prisão e aos
interrogatórios etc. não nos permitiam padronizar métodos de combate ou de investigações num
campo em que carecíamos de experiência e no qual a estrutura e os ensinamentos da guerra
convencional, apesar de não se revelarem nulos, eram, no entanto, deficientes e inadequados à luta
contra indivíduos formados e exercitados nos melhores centros - para não dizer focos - de subversão
de mundo.


Foi o período do confronto aberto entre duas filosofias de vida, entre duas doutrinas antípodas
que não se davam quartel. Foi o choque entre duas mentalidades que não podiam, nem podem,
conviver entre si. Foi, finalmente, a Guerra das Convicções, em que os homens dizimavam-se por
ideais.


As guerras trazem, em suas conseqüências, a imediata desvalorização da pessoa humana,
decorrência que se evidencia cruel nas de caráter ideológico.


Desde épocas anteriores às matanças de Jerusalém,5 nos longínquos dois primeiros séculos da
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