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o passado mês de Maio, 400 anos
depois de africanos acorrentados
terem pisado pela primeira vez o
solo da colónia inglesa de Virgínia,
uma equipa de arqueólogos suba-
quáticos anunciou a descoberta, perto de Mobile,
no Alabama (EUA), dos destroços carbonizados
do Clotilda, o último navio negreiro conhecido a
alcançar as costas dos EUA. Em 1860, 52 anos depois
de os Estados Unidos da América proibirem a
importação de escravos, um latifundiário abas-
tado fretou a escuna e contratou o comandante
para contrabandear mais de cem cativos para o
Alabama, um crime então punível com a forca.
Concluída a abominável missão, o navio foi
incendiado para destruir as provas. Os cativos
foram os últimos de um total estimado de 307
mil africanos escravizados e conduzidos ao
continente americano entre o início do século
XVII e 1860, transformando o Clotilda no cólo-
fon daquilo a que há muito se chama o “peca-
do original da América”. Em 1865, o presidente
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