OÚLTIMONAVIONEGREIRO 59
O porão do cargueiro
Clotilda transformou-se
num cárcere infernal
para 110 cativos
africanos. Dois morre-
ram durante a travessia
de seis semanas do
Atlântico. Outros
ansiaram pela libertação
proporcionada
pela morte.
O mau cheiro “era
suficiente para matar”,
disse, anos mais tarde,
um sobrevivente
chamado Redoshi
numa entrevista.
ARTE: THOM TENERY
FONTE: JAMES DELGADO,
SEARCH, INC.
“Quase se deixaram morrer de tristeza”, confes-
saram meio século mais tarde.
Timothy Meaher organizou a venda. No ins-
tante em que a sua nova família era de novo se-
parada, os companheiros de viagem entoavam
uma canção de despedida, desejando uns aos
outros “nenhum perigo no caminho”. Enquanto
cerca de oitenta foram conduzidos a Mobile, a
edição de 23 de Julho de 1860 do jornal “Mercury”
publicava a seguinte notícia: “Alguns negros
que nunca aprenderam a falar inglês caminha-
vam para norte, seguindo a linha do comboio,
no outro dia...” Durante a caminhada, um circo
passou pelo grupo e, ao ouvirem um elefante a
barrir, os africanos gritaram: “Ile, ile, ajanaku,
ajanaku” (“casa”, “elefante”, em yoruba e fon).