Fotografe - Edição 281 (2020-02)

(Antfer) #1
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Ao lado, foto da série sobre o
candomblé, de José Medeiros, de
1951; abaixo, imagem feita pelo
espanhol Pep Bonet, ganhador do
Prêmio Eugene Smith de 2005

busca mostrar uma realidade em
suas múltiplas facetas, mas isso não
significa que seu papel se resuma
a registrar os acontecimentos,
sem nenhum tipo de interação ou
participação. É uma ilusão querer
acreditar nesse tipo de objetividade.
Por um princípio ético, não se pode
falsear a realidade, mas os bons
projetos documentais são autorais,
o que implica um grau de criação e
de subjetividade.


FINANCIAR PROJETOS
O grande desafio dos projetos
documentais de longo prazo está
no financiamento. Quanto mais se
estende no tempo e no espaço, mais
oneroso. Ao desenvolver um projeto
por conta própria, o fotógrafo estará
livre das limitações criativas de um
trabalho encomendado, porém vai
esbarrar em limitações de ordem
financeira. Por isso é necessário
buscar o equilíbrio entre trabalho
comercial e autoral.
O financiamento coletivo
(crowdfunding) tornou-se uma
realidade palpável em anos recentes,
mas a prática mostra que apenas
projetos com algum diferencial
capaz de fisgar os potenciais
“patrocinadores” conseguem obter
os recursos. A rede de contatos do
fotógrafo também conta muito nessa
modalidade de financiamento.
Outra fonte de renda potencial
está na inserção das fotografias no
circuito das artes, que pode resultar
na venda de obras a colecionadores
ou interessados em geral. Também
é importante ficar ligado em
oportunidades de bolsas, concursos,
premiações e editais. Há também
a possibilidade de financiamento
via leis de incentivo à cultura por
meio de isenção fiscal. Nesses
casos, a empresa que fará o aporte
é que terá de ser “convencida” da
importância do projeto.
Transformar um grande projeto


em pautas pontuais para o mercado
editorial é outra maneira de viabilizar
sua realização. Mas Juan Esteves é
taxativo ao apontar a diminuição
do espaço editorial para as grandes
reportagens na imprensa brasileira.

“Matérias como a feita por José
Medeiros sobre o Candomblé,
publicada em 1951 na revista O
Cruzeiro, com 42 imagens, nunca
mais serão publicadas. Até os anos
1980, revistas no Brasil e no exterior

José Medeiros/IMS

Pep Bonet
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