Aero Magazine - Edição 309 (2020-02)

(Antfer) #1

O


desmantelamento
de um Douglas
DC-3 estacionado
como atração
estática em um
pátio que foi da antiga Varig, nas
dependências do Aeroporto In-
ternacional Tom Jobim, no Rio de
Janeiro, na manhã de sexta-feira,
31 de janeiro, provocou uma
gritaria apaixonada que acen-
deu uma discussão instantânea
na imprensa e nas redes sociais
sobre a preservação da memória
aeronáutica brasileira.
O DC-3, de matrícula PP-
-VBF, era um velho conhecido
dos cariocas. Por quase 30 anos, o
aparelho ficou exposto no Aterro
do Flamengo, até ser transferido
para seu último endereço, na Es-
trada das Canárias, de onde saiu
na carroceria de um caminhão,
picotado por uma escavadeira
equipada com tesoura hidráulica.
No local ficaram alguns refugos,
como placas de alumínio da
fuselagem e até uma escadinha de


embarque com o nome da antiga
companhia, que cessou de vez
suas atividades em 2006, atolada
em dívidas imensas.

PRÓS E CONTRAS
Na hora do desmanche, um
aeronauta passava no local. Ele fez
imagens com seu aparelho celular
e mandou para amigos, reclaman-
do do descaso e da falta de aviso.
As imagens logo foram para as re-
des sociais e a notícia se espalhou.
A “insensibilidade para com a
memória aeronáutica” foi a crítica
mais amena. Entusiasta da aviação
e colecionador de itens militares,
o baterista da banda Paralamas do
Sucesso, João Barone, postou em
sua conta no Twitter: “Hoje come-
teram um crime contra a memória
aeronáutica do Brasil: o lendário
Douglas DC-3 que estava na
entrada do antigo hangar da Varig
no Galeão foi picotado por um
trator, ninguém soube o motivo de
tamanho desatino”.
Mas houve quem contempori-

zasse a decisão. A própria Federa-
ção Nacional dos Trabalhadores em
Aviação Civil (Fentac) divulgou um
contraponto à grita generalizada.
A entidade lançou nota afirmando
que a prioridade não deve ser o
“saudosismo” com as aeronaves,
mas, sim, com funcionários da Va-
rig, já que a companhia faliu deven-
do 4,5 bilhões de reais em verbas
trabalhistas e repasses ao fundo de
pensão dos seus empregados.
O PP-VBF estava estacionado
em uma área hoje utilizada pela
TAP, que havia requerido sua
remoção meses antes. O pro-
blema é que, de início, ninguém
sabia quem era o real proprietário
do avião. Responsável pela massa
falida da Varig, o escritório de
advocacia Nogueira & Bragança
foi convocado. Um parecer da
Anac determinou que o avião fa-
zia parte do inventário derradeiro
da empresa. Em busca de uma
solução, os representantes legais
tentaram doar a velha máquina
para alguma instituição. Esbar-
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