Valor Econômico (2020-03-02)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 11 da edição"02/03/2020 2a CAD A" ---- Impressapor LGerardi às 01/03/2020@22:19:1 9


Sábado,29 de fevereiro, domingoesegunda-feira, 1e2demarçode 2020
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Valor
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A


Brasil


Presidente


doUruguai


pedeMercosul


semideologias


Fabio Murakawa


De Montevidéu


Em seu primeiro discursocomo


presidente do Uruguai, Luis Alber-


toLacallePoupediuontemflexibi-


lidade ao Mercosul para que seus


sóciospossamfirmaracordosbila-


terais. E disse que,se os países-


membros deixarem de ladosuas


diferenças ideológicas, obloco se


fortaleceráinternacionalmente.


“Nãodeveimportara orienta-


ção de cada um dos membrosdo


Mercosul.Para afiançarnossos


interessescomuns,devemosdei-


xá-losdelado,reduzidosàsques-


tões particulares de cadapaís”,


disseLacallePouao discursarna


AssembleiaNacional.“Se deixa-


mos de lado essasquestõesideo-


lógicasque nos podemdiferen-


ciar, obloco vai se fortalecerno


cenáriointernacional.”


LacallePou, de centro-direita,


assumeaPresidênciacomosdois


principaisparceirosdeMercosul,


Brasil eArgentina, em polos


opostosdoespectropolítico.


O Brasilé governado por Jair


Bolsonaro,vistopormuitosin-


ternacionalmentecomoum ra-


dicalde direita.Já a Argentina


deu uma guinadaàesquerdano


ano passado, comopresidente


Alberto Fernández e sua vice


CristinaKirchner,que governou


opaísentre 2007 e2015.


Presente à cerimônia de posse,


Bolsonaroacenouefezreverências


para o público ao deixar a Assem-


bleia Nacional. Segundoa TV uru-


guaia, obrasileiro “recebeuvaias e


aplausos”dos populares. Fernán-


dez não compareceuà posse no


Uruguai devido àda aberturado


anolegislativoargentino.


Ver também páginaA


Relações externasEmdisputacomEUA,Pequimoferecepacotedevantagenseconômicas


China pressiona Brasil a mudar voto


em órgão de propriedade intelectual


Assis Moreira


De Genebra


AChina pressiona oBrasil are-


considerar seu voto para o candi-


datoapoiadopelos EUA na elei-


çãoparaadireção-geraldaOrga-


nização Mundialde Propriedade


Intelectual(OMPI). OValorapu-


rouquePequimofereceagorain-


clusive um pacote de vantagens


econômicasaopaís.


Aeleição do novodiretor-ge-


ral, com mandato de seis anos,


ocorrerá na quarta equinta-feira


em Genebra,em meio àguerra


tecnológicatravadaentreaChina


eosEUA.Pequim vê avotação co-


moumagrandeoportunidadede


liderar a entidade focada em ino-


vação e papel importantena nor-


matizaçãodenovastecnologias.


Há seis candidatos,mas a dis-


putaestá mesmoentrea chinesa


Wang Binying eocandidato


apoiadopelos EUA,o represen-


tantede Cingapura,DarenTang.


Os outrosconcorrentessão de


Gana,Cazaquistão, Colômbiae


Peru. OJapãoabandonouadis-


putaparaapoiarocingapuriano.


Sob pressãode todosos lados,


oBrasil na semana passadaen-


viou “notaverbal”ao governode


Cingapura confirmando apoio


ao seu candidato.Mas aChina


imediatamentereagiujuntoao


governobrasileiro,inconforma-


da com ovoto contra seu candi-


dato,emanteveapressão,pedin-


do parao governode Jair Bolso-


naroreversuaposição.


Para isso,Pequimofereceuao


Brasil um pacotede “vantagens


econômicas”:contratos de longo


prazona comprade commodi-


ties agrícolaseminerais;investi-


mentosnas áreas de petróleoe


infraestrutura; e posiçõesde alto


nívelparabrasileirosna OMPIe


também na UPOV,que é aUnião


InternacionalparaProteçãode


NovasVariedadesdePlantas.


As ofertas não vêm comcifras e


parecem complementaroque Pe-


quimjá andou prometendoao


Brasil. Sobretudo,ilustram aque


ponto aOMPI éimportante na es-


tratégia chinesa. Brasília não tinha


respondidoaté sexta-feira aos chi-


neses, que são os maiores compra-


doresde produtos brasileirosno


mercado global. As indicações são


de que o governobrasileiro man-


terá sua preferência pelocandida-


to dos EUA emnome da parceria


entre as administrações de Bolso-


naroedeDonaldTrump.


Destavez o Brasilplanejain-


clusivevotardesdeaprimeiraro-


dadano candidatodos EUA.Vai


ignorarapráticade, numaelei-


ção com muitoscandidatos,vo-


tar inicialmente em aliadosre-


gionais e, só depoisdessesserem


eliminados,alterarseuapoio.


Paracertosobservadores,apo-


siçãobrasileirapodia aesta altu-


ra ser menosdesconfortável, se


tivesseapresentado um candida-


to próprio, José GraçaAranha,


queperdeuaeleiçãonaOMPIem


2008 porapenasumvoto.


“Apesarde eu ter muitoboas


chances, com apoiodos EUA,da


Europa, da Áfricae dos latinos,o


governobrasileiropor alguma


razãodecidiunão me apoiar. A


AméricaLatinanãotemcandida-


toforte,esemdúvidaavitóriavai


paraum país asiático”, afirmou


GraçaAranha,hojediretorregio-


nal da OMPInas Américas, com


sedenoRiodeJaneiro.


“É umapenaque oBrasil não


estejana disputa, porque, até pe-


lo princípiode rotatividade não


escrita,agora seriaavez da Ásia


oudaAméricaLatina.”


Eleévistoemsetoresdogover-


no como“internacionalistade


propriedadeintelectual”.Eéacu-


sadode ligaçõesfortescom oex-


chanceler CelsoAmorim, nome


que causaforteirritaçãona Es-


planadadosMinistérios.


Para os EUA,aeleiçãona OMPI


é bem diferentedaquelaem boa


partedasoutrasorganizaçõesin-


ternacionais. Peter Navarro, as-


sessordiretode Trumpparaco-


mércio internacional, escreveu


no jornal“Financial Times”que


seriaum “erro terrível”deixara


Chinaassumiro controleda or-


ganizaçãoque regulasistemas


gerenciando43 milhõesde do-


cumentos de patentes,alémde


ter milharesde pedidosde pa-


tentesnão publicadose informa-


ções comercialmente sensíveis


demaisde200jurisdições.


Navarro acusa aChinade rece-


berapoiodepaísesondesetornou


grandedoadoraoufontedeajuda.


Segundo ele, Pequim ofereceu


cancelar dívidasde alguns países


africanos, antesda eleição para di-


retor-geralda FAO, a agência da


ONUpara Agricultura eAlimenta-


ção.Ocandidatochinêsganhou.


Um grupode senadores repu-


blicanose democratasescreveua


Trumppara barrarPequim,enfa-


tizandoque aintençãoda China


de liderara OMPIcolocauma


ameaça àsegurançaeconômica


dos EUA eàintegridadedos di-


reitose padrõesde propriedade


intelectualinternacionais.


AChina reagiuna semana


passada.Seu embaixadorjunto


às NaçõesUnidasem Genebra,


ChenXu, acusouWashingtonde


ameaçar echantagear países


médiosepequenosanão votar


pelo candidatochinês, sob pena


de sofreremconsequênciasnas


relações comos EUAou perde-


rem empréstimosjuntoao Ban-


co Mundiale ao Fundo Monetá-


rio Internacional (FMI).


Comorecuode Trumpnas or-


ganizações internacionais, a


Chinaganhoucrescenteinfluên-


cia ehoje dirigequatrodas 15


agências especializadas da ONU:


UniãoInternacional de Teleco-


municações(UIT),Organização


da AviaçãoCivilInternacionale


Agência para Desenvolvimento


Industrial (Onudi),alémda FAO.


ComaOMPI, seriaa quinta,en-


quantonenhumoutropaís tem


maisde uma.


A avaliaçãode certosobserva-


doreséde que, umavez nomea-


dos,os diretoreschinesestêm


tendência a se comportarantes


de tudocomoinstrumentosda


políticade Pequim,abusando de


suasresponsabilidadesde fun-


cionáriosinternacionais.


A candidatachinesanaOMPIé


Wang Binying.Ela entrounaor-


ganizaçãoem 1992e édiretora-


geral-adjuntadesde2008.Ocon-


corrente de Cingapuraédiretor


do Escritóriode Propriedade In-


telectualdaquelepaís.


Peter Navarro, assessor de Trump:vitória chinesa na OMPI seria‘erro terrível’


ANDREWHARRER/BLOOMBERG


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