Valor Econômico (2020-03-02)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 5 da edição"02/03/20201a CADB" ---- Impressa por VDSilva às 01/03/2020@19:42:12


Sábado,29 de fevereiro, domingoesegunda-feira, 1e2demarçode 2020
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Valor
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B5


Especial


Fontes:CVMe ValorPRO.Elaboração:ValorData.Obs.:dadosde 112 empresasde capitalabertonão financeirascomdadosdisponíveisnos doisperíodos


Alavancagemmenor


Dadosno fim de cada trimestre- em R$ bilhões


A -Dívidafinanceirabrutatotal


B -Dívidafinanceirabrutaem moedaestrangeira


B / A- em %


C -Dívidafinanceiralíquida


D -Ebitdaacumuladoem 12 mesesaté o trimestre


AlavancagemfinanceiraC / D- em pontos


1.108,4


662,2


59,7


800,4


332,7


2,41


1.088,7


589,4


54,1


756,6


403,7


1,87


3º trim./18


ComPetrobras


3º trim./19 Var.%


-0,53pp.


-1,8


-11,0


-5,6pp.


-5,5


21,3


755,6


377,5


50,0


508,8


239,5


2,12


813,5


353,9


43,5


541,9


271,6


2,00


3º trim./18


SemPetrobras


3º trim./19 Var.%


-0,12pp.


7,7


-6,3


-6,5pp.


6,5


13,4


CenárioAomesmotempoquereduziramexposiçãoentre2018e2019,empresastiverammaiorgeraçãodecaixa


Dívida menor ameniza pressão do dólar


Marcelo Bacci, da Suzano, diz que a recente desvalorização do real não impõe a alteração da estratégiafinanceira: “Não mudamose não pretendemos mudar”


ANAPAULAPAIVA / VALOR


CibelleBouças,StellaFontes,Taís


Hirata e Letícia Fucuchima


De São Paulo


As empresas brasileiras de capi-


tal aberto estão,de modogeral,


mais bem preparadas para enfren-


tar a atualvalorização do dólaran-


te oreal. De 2018 para cá, muitas


reduziram oendividamento total


e a dívida em moedaestrangeira.


Ao mesmo tempo,elevaram age-


raçãode caixa, reduzindo o nível


de alavancagem. Porisso, apesar


da força recente do dólar, boa par-


te das empresas com esse tipo de


exposição relata que seguemoni-


torando ocomportamento das


moedas,masatéagoranãoalterou


aestratégiadegestãodedívida.


Isso não querdizer que não há


pressão. O resultado financeiro


das companhias que têm dívida


em moeda estrangeiravai sentir


os efeitos negativos da altade


quase 12% do dólar frente ao real


entre o fechamento de 2019e 28


de fevereiro, de R$ 4,03 a R$ 4,50.


Há ainda o mêsde março pela


frentemas,atéagora,oimpactoé


menordoquenopassado.


No terceiro trimestre de 2015,


por exemplo, quando odólar su-


biu 21%,adespesa financeira lí-


quida de 250 companhiasaber-


tas brasileiras maisque dobrou,


passando de R$ 15 bilhões para


R$ 41 bilhões. Nesteano,além da


alta do dólar estar menos intensa


até agora, oendividamentodas


companhias émais baixo. Por is-


so,oimpacto na linhafinanceira


tendeasermenosacentuado.


O Valor Data levantou dadosde


112 empresasde capital aberto


não financeiras no terceirotrimes-


tre, considerando que parte das


companhias aindanão publicou


os balanços do quarto trimestre.


Esselevantamentomostraque,em


setembrode 2019, a dívida finan-


ceirabruta total somava R$ 1,09


trilhão,montante 1,8% inferior ao


vistono fim do terceirotrimestre


de 2018.Adívida bruta em moeda


estrangeira, por suavez, teve redu-


ção de 11%, para R$589,4 bilhões.


Do total da dívidadas compa-


nhias,54,1% estava em moeda es-


trangeira em setembrode 2019,


contra59,7%umanoantes.


Ao mesmo tempo,essas 112


companhias abertas aumentaram


o resultadoantesde juros, impos-


tos, depreciação e amortização


(Ebitda, na siglaeminglês) acu-


mulado em 12 meses em 21,3%,


chegandoaR$ 403,7bilhões até


setembrode 2019. Com isso, a ala-


vancagem financeira baixou para


1,87vez,anteumíndicede2,41ve-


zesnoterceirotrimestrede2018.


“A fortedesvalorização do real


frente ao dólar é sempreuma


preocupação, dados os riscos de


contaminação paraoutros indica-


dores.Mas aexposição de endivi-


damento das empresas brasileiras


à desvalorização cambial é de bai-


xaamoderada”, dizRicardoCarva-


lho,diretor-executivo da Fitch Ra-


tings. Oanalista observa que em-


presas fortemente exportadoras e


as companhias aéreas têm maior


exposição ao câmbio, como Vale,


Braskem, Suzano eGol. “Mesmo


elasnãotêmumendividamento


expressivo”,pondera.


ConformeCarvalho, ovolume


de dívidasem dólarcomvenci-


mentoaolongode2020ébaixoe


o mercadolocalpermanececom


alta liquidez,o que favorece,por


exemplo, asubstituiçãodas dívi-


das em moedaestrangeira por


compromissosemreais.“Umaal-


ta intensado dólarpodeacelerar


a migraçãode dívidasem moeda


estrangeiraparamoeda local”,


avalia. Aindaassim,não há mui-


to espaçoparagrandesopera-


ções no mercadodoméstico e os


custos muitas vezes são mais


competitivosláfora.


Nogrupodasgrandesempresas


que têm pouca ou nenhumapro-


teçãocambial,viahedgeouexpor-


tações, aestatal paulista de sanea-


mento Sabesp vem buscandore-


duzirsua exposição desde oano


passado —por contade incertezas


globais, como a guerracomercial


entreEstados Unidose China, a


empresa já havia acendidoum si-


naldealertaemrelaçãoaotema.


A companhia tem financiamen-


toscontratadoscomfundosmulti-


lateraiseoficiais,comooBancoIn-


teramericanodeDesenvolvimento


(BID)eaJica (AgênciadeCoopera-


ção Internacional do Japão).Além


do dólar, parte relevante da sua dí-


vida é em ienes.Alguns contratos


já têm cláusulas de trocade moe-


das que poderão ser acionadas,


mas a companhia tambémestuda


outros instrumentos privados de


proteção cambial,segundo decla-


rações de executivos da estatal da-


das no fim de 2019. Procurada, a


companhianãosemanifestou.


ACVC Corp.faz uso de ferra-


mentasde proteção,comoswap


cambial e contratos de derivativo


do tipo NDF (non-deliverable


forward).Mesmoassim,aempresa


reduziuoendividamentoemmoe-


da estrangeira de R$ 595,94mi-


lhõesnoterceirotrimestrede2018


para R$ 1,2 milhãono terceirotri-


mestre de 2019.Ac ompanhiaop-


tou por tomar recursosno Brasil,


com uma emissãode debêntures,


no valor de R$ 708,7 milhões, com


vencimentos em 2023 e 2025.“As


oportunidades no mercado local


foram mais interessantes que as li-


nhasem outras moedas dos ban-


cos”, informouaCVCemnota.


AAzul, por sua vez, estuda fazer


uma emissãode dívida em moeda


local. “Este é um mercado que a


Azul gostaria de acessar, porque


muitosfundostêm ações da Azul,


já conhecem a empresa, oseu mo-


delodenegócios,osriscos.Recebe-


mos muitademandaespontânea


de bancosefundos paraemitir-


mosumadívida local”, afirmou


Alex Malfitani, vice-presidente fi-


nanceiro.AAzul fechouoterceiro


trimestre com dívida líquidade


R$10,34bilhões,emaltade21,2%.


A Azulfez uma únicaemissão


de títulosem dólaresem 2017,


nototaldeUS$400milhões,com


vencimento em 2024.Essa dívida


foi protegidacomcontratosde


swape opçõesde câmbio. Apesar


disso,no terceirotrimestrede


2019,registrouumaperdacam-


bial não-caixade R$ 879,4mi-


lhões, relacionada principal-


mentecom adepreciação de


8,7%do real no trimestre,oque


resultouem um aumento da dí-


vida em moeda estrangeira ena


contadedespesafinanceira.


Nocasodasexportadoras,uma


proteçãonaturalvemdoladodas


receitas, com amelhora do resul-


tado operacionalao longo do


tempo.Especificamente nestetri-


mestre,porém,aepidemiadeCo-


vid-19 adicionou riscos ao de-


sempenhodasempresasaoredor


do mundo. “No momento atual é


difícilmensurararealmagnitude


do coronavírusna atividade eco-


nômica e nas receitas das compa-


nhias brasileiras. Mas, sem dúvi-


da alguma é algo que trazenor-


mes preocupações e que serámo-


nitorado de formaintensa”, diz


Carvalho,daFitch.


Maior produtora mundial de


celulosede eucalipto, aSuzano


geramaiscaixaquandoodólarse


valorizaanteoreal,jáqueamaior


parte de suas receitaségeradano


mercado externo.Suas margens


tendema ser beneficiadas nesse


cenário,porqueos custossão de-


nominados majoritariamente


em moeda brasileira. Mas como


100% do endividamento está


atrelado ao dólar, direta ou indi-


retamente,oresultadofinanceiro


também é fortemente influencia-


dopelavariaçãocambial.


De acordo com o diretor de fi-


nançaserelaçõescominvestidores


da Suzano, Marcelo Bacci, a recen-


te desvalorização do real não im-


põe a necessidade de alterar a es-


tratégiafinanceira. “Nãomuda-


mos e nãopretendemos mudar”,


dizBacci.Aregradecurtoprazose-


gue ade comparar os valoresque


serãorecebidos epagos em dóla-


res em 18 meses, efazer hedgepa-


ra até 75% do excedente de dólares


por meiode operações “Zero Cost


Collar”(ZCC)eNDF.


Em 31 de dezembro,ovalorem


aberto das operações de vendafu-


tura de dólares via ZCC,com inter-


valomédiodeR$3,98aR$4,31,era


de US$ 3,43 bilhões. Comoessas


operações sãomontadas parapro-


tegero balanço em caso de valori-


zação do real, a Suzanoacaba ten-


do perdas comos derivativos, sem


efeitocaixa,com odólaracimade


R$ 4,31. “Temos operações vencen-


dotodomêserefazemosaposição.


Vamos administrando. O objetivo


é estar sempre casado do ponto de


vistadasmoedas”, afirma.


Alavancadapor causada aqui-


siçãodaFibria,aSuzanoestabele-


ceu comometa de longo prazo


reduzir o endividamento para


menosde US$ 10 bilhões —con-


tra maisde US$ 13 bilhões em se-


tembro —etem aproveitado


oportunidades nos mercadoslo-


cal einternacional paratrocar dí-


vidas ou abatercompromissos.


Na sexta-feira, anunciou oresga-


te antecipado do saldo de um bô-


nuscomvencimentoem2021,no


valordeUS$189,6milhões.


NaWEG,alémdepoucomaisde


metade da receita ser em moeda


estrangeira, a fabricante busca ter


exposição cambial“ze rada” nos


países em que atua,contraindo dí-


vida na moeda localde suas filiais


comoformade financiar a expan-


sãodasoperaçõesnessasregiões.


A empresa informou que traba-


lha com margem de tolerância pe-


quena,emtornode10%deexposi-


ção. “Por consequência, oimpacto


[de pressões cambiais]no balanço


consolidado é bem menor”, dissea


chefede tesouraria da WEG,An-


dreia Macedo Pereira. Em 2019, a


WEGencerroucomposiçãodecai-


xalíquidadeR$1,27bilhão.


ACCR, concessionária de in-


fraestrutura,diz que dispõede


hedgenaturalque suporta“com


tranquilidade” efeitossobrepas-


sivosdolarizados em momentos


de variaçãocambial.Essa prote-


çãosedápelaexistênciadeativos


internacionaisque geramreceita


em dólar. “Importante destacar


que essas operações também


passamaterrentabilidademaior


quandoo câmbiose desvaloriza.


Dessaforma,a companhia man-


tém-se protegidade eventuais


riscoscambiais”,informou.


AAmbev, que tem 45% da recei-


ta gerada fora do Brasil, também


não pretende reversua política de


proteçãocambial. Ogrupo traba-


lha comtaxa de hedge média para


2020 deR$3,96pordólar.“Agente


semprefixaodólarcomumanode


antecedência. Já estamos como


dólartravado para oano inteiro. O


câmbio de agora teráimpacto nos


resultados do ano que vem”, afir-


mou Fernando Tennenbaum,dire-


torfinanceirodaAmbev.


Oexecutivo também disseque


não pretende mudaraestrutura


de dívidas nesteano.Em 2019, a


Ambevregistrouumadívidacon-


solidada de R$ 3,06 bilhões, ante


R$ 4,10bilhões em 2018, uma


queda de 25,4%. Amaior redução


foi na dívida em moeda estran-


geira, que baixou para R$ 706,6


milhões, ante R$ 1,83 bilhão um


anoantes—umaquedade61,4%.


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