O Estado de São Paulo (2020-03-04)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2020 A

Esportes

O Melhor da TV

TÓQUIO

O surto global do novo coro-

navírus continua causando

problemas e gerando dúvidas

para a realização de eventos

esportivos espalhados pelo

mundo. Mais de cem já foram

cancelados ou adiados. On-

tem, o governo do Japão ad-

mitiu a hipótese de adiar a

realização dos Jogos Olímpi-

cos de Tóquio, marcados pa-

ra começar no próximo dia 24

de julho. A disputa olímpica

neste caso ficaria para o fim

do ano. O coronavírus já atin-

giu 274 pessoas e matou ao

menos 6 no Japão.

Segundo Seiko Hashimoto,

ex-patinadora e ministra da

Olimpíada no Japão, o contra-

to com o Comitê Olímpico In-

ternacional (COI) prevê que

os Jogos ocorram em 2020. Na

interpretação da organização,

a informação abre a possibilida-

de de um adiamento da compe-

tição em alguns meses. Ou se-

ja, se não acontecer entre os

meses de julho e agosto, as dis-

putas poderiam ser levadas pa-

ra outro mês dentro do ano.

“O COI tem o direito de can-

celar os Jogos Olímpicos so-

mente se eles não ocorrerem

dentro de 2020. Isso pode ser

interpretado como uma possi-

bilidade de os Jogos serem adia-

dos, contanto que sejam reali-

zados durante este ano”, expli-

cou Seiko Hashimoto.

A ministra, no entanto, acres-

centou que o governo japonês

“está fazendo de tudo” para ga-

rantir que os Jogos Olímpicos

ocorram dentro das datas pla-

nejadas, entre os dias 24 de ju-

lho e 9 de agosto. Já o presiden-

te do COI, o alemão Thomas

Bach, rechaçou a hipótese de

adiamento das competições e

garantiu que a Olimpíada co-

meçará no dia programado pe-

lo comitê. “O COI está total-

mente determinado a fazer

com que os Jogos ocorram com

sucesso a partir de 24 de julho

até 9 de agosto”, declarou o diri-

gente ontem, ao abrir a reunião

do Comitê Executivo da entida-

de, em Lausanne, na Suíça.

Tedros Adhanom Ghebreye-

sus, diretor-geral da Organiza-

ção Mundial da Saúde (OMS),

disse ter conversado com Tho-

mas Bach sobre o problema.

“O que concordamos é que va-

mos monitorar a situação. Se

houver necessidade de tomar-

mos alguma ação, vamos discu-

tir primeiro com o governo ja-

ponês. Decidir agora pode ser

muito cedo. Precisamos moni-

torar a situação”, avaliou.

Diversos eventos-teste mar-

cados para os próximos meses

foram cancelados em meio ao

surto da doença no Japão. O ca-

nadense Dick Pound, vice-pre-

sidente do COI, foi quem suge-

riu que os Jogos pudessem ser

cancelados, caso a contamina-

ção do vírus siga aumentando.

O vírus que surgiu na China

no fim do ano passado já che-

gou a 62 países e ultrapassou o

número de 3 mil mortes. Há

mais de 88 mil pessoas infecta-

das. O Brasil confirmou o seu

segundo caso no último sába-

do, ambos em São Paulo, e in-

vestiga 488 casos suspeitos.

l 14h30 B. Leverkusen x Union Berlin

Copa da Alemanha, ESPN

l 17h10 Lyon x Paris Saint-Germain

Copa da França, Fox Sports

l 19h15 Santo André x Goiás

Copa do Brasil, SporTV 2

l 19h15 Tigre x Palmeiras

Copa Libertadores, Fox Sports

l 19h15 Fluminense x Botafogo-PB

Copa do Brasil, SporTV

l 21h30 Boa x Cruzeiro

Copa do Brasil, SporTV 2

l 21h30 Junior Barranquilla x Flamengo

Copa Libertadores, Globo e SporTV

l 21h30 LDU x River Plate

Copa Libertadores, Fox Sports

l 23h30 N.O. Pelicans x D. Mavericks

Basquete, NBA, ESPN

Tóquio-2020. Surto da doença pode levar a disputa para o fim do ano; COI rechaça ideia e garante realização entre julho e agosto

Bernard Rajzman, membro do Comitê Olímpico Internacional

Brasil tira 11 nadadores

de competição na França

AMSTERDÃ

Eurocopa. O coronavírus

também pode afetar a Euroco-

pa. A fase final do torneio foi

programada para o período en-

tre 12 de junho e 12 de julho,

com abertura em Roma, na Itá-

lia, decisão em Londres, na In-

glaterra, e jogos em vários paí-

ses, mas a possibilidade de mu-

dança de datas existe. Por en-

quanto, o cronograma está man-

tido, mas o presidente da Fifa,

Gianni Infantino, prefere ado-

tar a prudência.

“Não podemos descartar na-

da, mas não podemos entrar em

pânico também. Pessoalmente,

não estou preocupado, mas de-

vemos avaliar seriamente a si-

tuação, embora esperemos não

avançar em direção a uma sus-

pensão de eventos em escala

global”, afirmou Infantino.

O dirigente está em Amster-

dã, na Holanda, participando

desde ontem do Congresso da

Uefa. Na pauta, além da discus-

são de algumas novidades para

o futebol mundial nos próxi-

mos anos, o dirigente também

vai tratar da evolução e dos peri-

gos do coronavírus no continen-

te europeu com o esloveno Alek-

sander Ceferin, presidente da

Uefa.

Ceferin, por sua vez, contes-

tou a informação de que a Euro-

copa poderá não ser realizada.

“Todo organizador de competi-

ção tem de estudar medidas e to-

mar decisões. O direito das con-

federações de organizar compe-

tições continentais é inaliená-

vel”, disse o presidente da Uefa.

Os jogos que definirão as últi-

mas vagas para a fase decisiva

da Eurocopa estão previstos pa-

ra os dias 26 e 31 deste mês, e a

princípio serão mantidos.

Em relação à fase final da com-

petição, a expectativa é de que a

transmissão do coronavírus di-

minua e a competição de fute-

bol possa ocorrer normalmen-

te, sem prejuízos esportivos ou

risco para a segurança e a saúde

dos torcedores.

Coronavírus já faz Japão admitir

hipótese de adiar os Jogos Olímpicos

ALERTA

Paulo Favero

Bernard Rajzman foi uma refe-

rência do país no vôlei, sendo

vice-campeão olímpico em

1984, e atualmente é membro

do Comitê Olímpico Interna-

cional (COI). Aos 62 anos, ele

está acompanhando de perto

o debate sobre a realização

dos Jogos Olímpicos em Tó-

quio por causa do coronaví-

rus. Para o brasileiro, o evento

vai ocorrer de 24 de julho a 9

de agosto, como programado.

lExiste preocupação com a reali-

zação dos Jogos de Tóquio?

Acho que tem muita fofoca e

fake news. Tem muita gente

que tem interesse em prejudi-

car. A gente tem de ser cons-

ciente. A situação é grave, mas

na China os casos estão dimi-

nuindo e estão minimizando o

problema. A posição do COI é

de manter as datas como pla-

nejadas. Não tem motivo ain-

da para dizer que é um surto.

lVocê vê semelhanças com o

que ocorreu no Brasil, antes dos

Jogos do Rio, em 2016?

Faltavam alguns meses para a

Olimpíada e o zika explodiu.

Falaram que não teria Olim-

píada, muita gente foi contra,

mas foi uma edição fantástica.

Não tem ninguém mais preo-

cupado com os atletas do que

o Comitê Olímpico. Sou supe-

rotimista e tenho certeza de

que a Olimpíada vai ocorrer

na data prevista. Os atletas

podem continuar treinando.

lComo tem sido a discussão no

COI?

Supertranquila. Somos infor-

mados sobre os fatos o tempo

inteiro. Teve essa reunião do

Comitê Executivo, foram to-

dos os membros, além do

Comitê Organizador

Tóquio-2020 e

da Organização

Mundial da

Saúde.

lA ministra Seiko Hashimoto

falou que o COI tem o direito de

cancelar os Jogos só se eles não

ocorrerem em 2020. Existe essa

possibilidade?

Ela se baseia no eventual cres-

cimento da doença. Está sen-

do pessimista, nós somos oti-

mistas. Tenho certeza de que

vão encontrar uma solução. A

preocupação é válida, mas não

do jeito que está sendo feito.

lAdiar a competição é uma pos-

sibilidade?

Não existe essa possibilidade.

O COI está completamente

em conformidade com o Co-

mitê Organizador. A Olimpía-

da vai ser na época certinha.

O Japão é talvez o país mais

sério que conheço. Vão fazer

uma Olimpíada espetacular.

lEntre os membros do COI, há

dirigentes que defendem uma

posição contrária à realização na

data programada?

A gente não pode ser contra

uma coisa que é boa. Não tem

incidência crescente de casos,

é desleal criar uma expectati-

va negativa. Na China está di-

minuindo (a contaminação), é

sinal de evolução no sentido

de encontro da cura. A preven-

ção está sendo em larga escala

e a gente está tratando de

saúde, de hu-

manidade. No

meu caso, eu

vou para o Ja-

pão no dia 17

de julho, chego dia 19 e tere-

mos a sessão do COI antes da

cerimônia de abertura.

lExiste uma apreensão geral,

principalmente dos atletas, que

se esforçam para estar no auge

durante a disputa. Como tem si-

do esse contato com eles?

Todo mundo fica um pouco

apreensivo. Mas temos de esti-

mulá-los a treinar e continuar

focados. Dia 21 vou para a Ará-

bia Saudita, para os Jogos da

Comunidade Árabe, e fui re-

centemente para a Coreia do

Sul, para resolver problemas

de relação entre as duas Co-

reias, e em Tóquio teremos

equipes unificadas em alguns

esportes. O mundo não pode

parar. O mundo é muito globa-

lizado e já falaram que países

tropicais vão ter impacto mui-

to menor. Então é fundamen-

tal que os atletas se prepara-

rem. Eles não podem abrir

mão, pois depois o vírus é su-

perado e eles não estiveram

centrados e focados.

Os atletas nacionais continuam

sentindo o impacto do corona-

vírus pelo mundo. O cancela-

mento de eventos está fazendo

com que os competidores se-

jam obrigados a mudar sua pro-

gramação de treinamento. Por

causa do risco, a Confederação

Brasileira de Desportos Aquáti-

cos (CBDA) cancelou a partici-

pação de seus nadadores no

Open do Mediterrâneo, que se-

rá disputado de 20 a 22 deste

mês em Marselha.

“Estamos tomando os cuida-

dos necessários para que os nos-

sos atletas não corram riscos

desnecessários neste momen-

to”, explicou o diretor executi-

vo da CBDA, Renato Cordani,

em entrevista ao site Globoes-

porte.com.

Os 11 atletas cortados foram

Marcelo Chierighini, Felipe Li-

ma, João Gomes Júnior, João de

Lucca, Pedro Spajari, Gabriel

Santos, Breno Correia, Guilher-

me Guido, Leonardo Santos,

André Calvelo e Luiz Altamir.

Antes deles, o nadador Guilher-

me Costa havia desistido de sua

participação em Livigno, na Itá-

lia, onde aproveitaria para fazer

uma preparação na altitude.

A Federação Internacional

de Judô cancelou o Grand Prix

de Rabat, no Marrocos, e com

isso 13 atletas brasileiros não

vão poder competir por pontos

no ranking. “Fico chateado

com o cancelamento. Fiz uma

preparação e me programei pa-

ra a competição. Mas a situação

está alarmante. Então, temos

de respeitar as decisões”, expli-

cou o judoca Marcelo Contini.

ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 3/7/

ROBIN VAN LONKHUIJSEN/EFE

Precaução. Infantino não

crava disputa da Eurocopa

Infantino põe realização da Euro em dúvida

ATHIT PERAWONGMETHA / REUTERS

Incerteza. Epidemia do coronavírus leva envolvidos na organização da Olimpíada a divergirem sob a data de realização

274 pessoas

foram infectadas pelo

coronavírus no Japão. O país

já registrou seis mortes

Brasileiro acompanha de

perto as discussões sobre

o coronavírus e afirma que

posição do COI é manter

as datas da Olimpíada

‘Os atletas podem

continuar treinando

e focados nos Jogos’

ENTREVISTA