O Estado de São Paulo (2020-03-04)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 4 DE MARÇO DE 2020 Economia B3


FÁBIO


ALVES


N


o comunicado e na ata da sua
última reunião, em 5 de feve-
reiro, o Copom descreveu o
cenário externo como favorável aos
mercados emergentes, mas desde
que o pânico com o temor de uma
pandemia do coronavírus tomou
conta de investidores e analistas,
não somente os indicadores da ativi-
dade econômica global se deteriora-
ram bastante, como as condições fi-
nanceiras tiveram um forte aperto.
O dólar se valorizou ante as princi-
pais moedas internacionais e aqui
ultrapassou o patamar de R$ 4,50.
As bolsas mundiais registraram um
forte tombo desde a última reunião
do Copom. Do dia 5 de fevereiro até
o seu pior momento, na sexta-feira
passada, o S&P 500, um dos princi-

pais índices do mercado acionário dos
EUA, acumulou uma queda de 11,4%. O
Ibovespa teve desempenho semelhan-
te, com perda ao redor de 11%.
Na China, o índice de gerente de
compras (PMI, na sigla em inglês) in-
dustrial caiu de 50,0 em janeiro para
35,7 em fevereiro, sinalizando uma con-
tração da atividade manufatureira
bem mais forte do que os analistas ha-
viam estimado, já contabilizando o im-
pacto da paralisação ou redução do ní-
vel de operação das fábricas chinesas.
As medidas para contenção da disse-
minação do coronavírus na China e em
vários outros países importantes na ca-
deia mundial de produção de bens e
serviços, como a Coreia do Sul e a Itá-
lia, como a restrição de circulação de
pessoas e produtos, reacenderam o te-

mor de uma recessão global iminente.
Ou seja, o cenário externo descrito
pelo Copom como parte do seu balan-
ço de risco para os próximos passos da
política monetária está completamen-
te defasado com o que aconteceu na
economia e nos mercados globais des-
de a sua decisão de cortar a taxa Selic
em 0,25 ponto porcentual, para 4,25%,
e sinalizar que iria interromper o ciclo
de redução de juros.
É preciso o Copom atualizar sua co-
municação e sinalização, juntando-se
à ação coordenada de bancos centrais

mundiais de injetar estímulo monetá-
rio adicional visando aliviar o impacto
negativo do surto do coronavírus na
economia global.
A pressão sobre o Copom aumentou
depois que o Federal Reserve (Fed)
anunciou ontem um corte de juros
agressivo, de 0,50 ponto porcentual,
em medida extraordinária, uma vez
que a reunião de política monetária do

BC americano só acontecerá no dia 18
de março.
Em comunicado, o Fed disse que os
fundamentos para a economia dos
EUA “continuam fortes”, mas que o
coronavírus representa “riscos à ativi-
dade econômica”. A última vez que o
Fed fez um corte extraordinário de ju-
ros foi durante a crise financeira mun-
dial de 2008. Será que o Fed está vendo
o pior agora para repetir a ação?
Na segunda-feira, o BC da Austrália
reduziu os juros em 0,25 ponto para a
mínima histórica de 0,50%, citando os
riscos econômicos do surto do corona-
vírus. O BC da Malásia também redu-
ziu os juros em 0,25 ponto, para 2,50%.
Assim, desde a última reunião do Co-
pom, fatos importantes mudaram
substancialmente o balanço de riscos:
o aumento significativo de uma reces-
são global e a resposta coordenada dos
bancos centrais mundiais.
Sem falar que com o corte de 0,50
ponto dos juros pelo Fed, o dólar deve
perder o ímpeto de valorização global,
contribuindo para interromper sua tra-
jetória recente de alta contra o real,
aliviando a pressão sobre a inflação.
É importante notar que, diante de

uma recuperação mais lenta da ativi-
dade econômica no Brasil, o repasse
da escalada recente do dólar para os
preços tem sido bem mais limitado
do que no passado.
E mesmo que uma recessão glo-
bal seja evitada, uma desaceleração
da economia mundial é esperada no
primeiro trimestre deste ano. Co-
mo ainda não se sabe qual a magnitu-
de dessa freada, faz-se necessário
um socorro global em termos de po-
lítica monetária e fiscal. Na China, o
governo vem injetando tanto estí-
mulo monetário, quanto fiscal.
No Brasil, não há espaço para gas-
to fiscal diante da situação precária
das contas públicas. Já o BC pode
desempenhar um papel ao cortar
mais os juros básicos. Até porque,
com a recuperação mais lenta da
economia em razão do coronavírus
e a queda nos preços das commodi-
ties, a perspectiva para a inflação é
bastante benigna. Diante de tudo
que já aconteceu desde a última reu-
nião, o Copom está atrás da curva.

]
COLUNISTA DO BROADCAST

E-MAIL: [email protected]
TWITTER: @COLUNAFABIOALVE
FÁBIO ALVES ESCREVE ÀS QUARTAS-FEIRAS

Mercado prevê novo corte


de juro; BC estuda efeitos


Dólar
EM REAIS

Ibovespa
EM PONTOS

2/JAN
2019

2/JAN
2020

90.000

100.000

110.000

120.000

3,400

3,800

4,200

4,600

3/MAR

4,5117


105.537


VARIAÇÃO
NO DIA
-1,02%

0,55%


Bolsa


Dólar


VOLATILIDADE


FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

Pesquisa do Broadcast mostra que, de 27 instituições consultadas,


apenas nove apostam na manutenção da Selic em 4,25% ao ano


Copom atrás da curva


O corte extraordinário nos ju-


ros dos EUA realizado ontem


pelo Fed (o banco central


americano), em meio aos te-


mores com o coronavírus,


mudou completamente e de


forma imediata as apostas do


mercado financeiro para a de-


cisão do Comitê de Política


Monetária (Copom) deste


mês, que passaram a indicar


nova queda da Selic.


Diante do alto grau de volatili-


dade do mercado, o Banco Cen-


tral divulgou nota no início da


noite de ontem enfatizando
que “monitora atentamente os
impactos do surto de coronaví-
rus nas condições financeiras e
na economia brasileira”.
Menos de um mês após o BC
afirmar que “vê como adequada
a interrupção do processo de fle-
xibilização monetária”, o mer-
cado passou a enxergar como
mais provável um novo corte de
0,25 ponto porcentual na taxa
Selic em março, de acordo com
a maiorias das estimativas do le-
vantamento relâmpago do Pro-

jeções Broadcast. E ainda casas
que preveem corte mais robus-
to, de 0,50 ponto.
Das 27 instituições consulta-
das, apenas nove projetam ma-
nutenção da Selic na atual míni-
ma histórica, de 4,25%. Entre as
que esperam novos estímulos
monetários, 15 acreditam em
cortes de 0,25 ponto porcentual
e outras três, de 0,50 ponto.
Após o Copom de fevereiro, 39
das 41 casas ouvidas previam
permanência da Selic.
A expectativa de novos cor-

tes de juros por parte do Fed e
de outros bancos centrais, inclu-
sive, sustenta a perspectiva de
que o ciclo de afrouxamento
monetário do Brasil deve ultra-
passar a reunião do Copom de
março e levar a taxa Selic abaixo
do nível de 4,0% no final de


  1. Há casas prevendo juros
    básicos de 3,50% em dezembro.


Duas semanas. De acordo com
o BC, “à luz dos eventos recen-
tes, o impacto sobre a economia
brasileira proveniente da desace-
leração global tende a dominar

uma eventual deterioração nos
preços de ativos financeiros”.
O BC avisou, no entanto, que
“as próximas duas semanas per-
mitirão uma avaliação mais preci-
sa dos efeitos do surto de corona-
vírus na trajetória prospectiva de
inflação no horizonte relevante
de política monetária”. A próxi-
ma reunião do Copom ocorrerá
nos dias 17 e 18 de março.
Na nota, o BC ainda citou o 15º
parágrafo da última ata do Co-
pom, que dizia que “o eventual
prolongamento ou intensifica-
ção do surto implicaria em uma
desaceleração adicional do cres-
cimento global, com impactos
sobre os preços das commodi-
ties e de importantes ativos fi-
nanceiros. O Copom concluiu
que a consequência desses efei-
tos para a condução da política
monetária dependerá da magni-
tude relativa da desaceleração
da economia global versus a rea-
ção dos ativos financeiros.” /CÍCE-
RO COTRIM E THAÍS BARCELLOS
EDUARDO RODRIGUES

O


mundo vive uma trans-
formação tecnológi-

ca, e o campo não é


diferente. Com a introdução da
internet das coisas (IoT, na sigla

em inglês), conceito relacionado
à interconexão digital entre ob-

jetos cotidianos, a forma de gerir
uma fazenda está mudando. As

aplicações de IoT estão revolu-


cionando as propriedades rurais.
Elas vão desde sensores de solo,

que indicam a quantidade de
água necessária a cada área, até

dados sobre o desempenho de
maquinários, além de informa-

ções sobre quais tarefas o colabo-


rador executou naquele dia.
O estudo “Internet das

coisas: um plano de ação para
o Brasil”, desenvolvido pela

consultoria McKinsey e pela
Fundação Centro de Pesquisas

e Desenvolvimento em Teleco-


municações (CPqD) a pedido
do Banco Nacional de Desen-

volvimento Econômico e Social
(BNDES), elencou quatro pila-

res para os quais as aplicações


Como a falta de


conectividade


prejudica o agro?


Estudo encomendado pelo BNDES aponta


que o campo brasileiro pode ter ganhos


econômicos de até US$ 21 bilhões em 2025


com aplicações de internet das coisas


de IoT são fundamentais: saúde,
cidades, área rural e indústrias.

Só no campo brasileiro, o ganho


econômico estimado para 2025
varia US$ 5,5 bilhões a US$ 21

bilhões, dependendo do grau de
adoção dessas tecnologias.

No entanto, dados do último
censo agropecuário do Instituto

Brasileiro de Geografia e Esta-


tística (IBGE), de 2017, revelam
que 3.643.168 estabelecimentos

rurais no País não têm acesso à
internet. Este montante equivale

a mais de 72% das propriedades.
A realidade é que a falta de conec-

tividade no campo e/ou a preca-


riedade dela impedem o avanço da
produtividade e acarretam gran-

des prejuízos aos fazendeiros. Um
exemplo emblemático é a limita-

ção do uso de tecnologias embar-
cadas e serviços disponíveis nos

maquinários agrícolas, que pode-


riam otimizar a gestão operacional
da fazenda, reduzindo custos.

Muitas máquinas hoje vêm com
sistema de telemetria, mas, se elas

não conseguem se conectar em


Este material é produzido pelo Media Lab Estadão com patrocínio da Anfavea e da CNA Senar.


APRESENTADO POR

máquina. A tendência é clara no
futuro, porque, com a automação

e os algoritmos, a máquina será
mais inteligente e terá condições

de tomar mais decisões sozinha.


SAÍDA DE EMERGÊNCIA


Para driblar a falta de conecti-
vidade, empresas dos setores

de agro e de telecomunicações
estão estabelecendo parcerias

de negócios para estimular a ex-
pansão do acesso à internet ao

campo brasileiro. As iniciativas


são uma forma de as empresas
possibilitarem aos seus clientes

usufruir da totalidade dos bene-
fícios de seus produtos, antes

limitada pela falta de internet.
O acesso à rede mundial de

computadores é algo essen-


cial para o Brasil dar um novo
salto de produtividade. Para

aprofundar essa discussão, o
Media Lab Estadão, juntamente

com a Anfavea e a Confederação
da Agricultura e Pecuária do

Brasil (CNA), organiza no pró-


ximo dia 11 o Fórum Estadão
Think – Conectividade no Cam-

po. O evento será no auditório
da CNA em Brasília e contará

com a presença da ministra da
Agricultura, Pecuária e Abaste-

cimento, Tereza Cristina, além


de representantes dos setores
público e privado.

tempo real, a informação acaba


chegando com atraso. Segundo a
Associação Nacional dos Fabri-

cantes de Veículos Automotores


(Anfavea), se há uma falha, não é
possível corrigir imediatamente.

Ter acesso à internet também é
fundamental para os tratores e

caminhões autônomos, principal-
mente na fase atual em que pro-

tótipos estão sendo testados em


ambientes confinados.
De acordo com a Anfavea, a de-

manda de conectividade é maior
no primeiro estágio de autonomia,

porque é preciso supervisionar a


A tendência é


clara no futuro,


porque, com a


automação


e os algoritmos,


a máquina será


mais inteligente


e terá condições


de tomar mais


decisões sozinha


O ganho econômico
estimado para 2025
com a adoção da Iot varia
de US$ 5,5 bilhões a

US$ 21


bilhões


3.643.168
estabelecimentos rurais no País
não têm acesso à internet

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O BC pode desempenhar um


papel importante ao cortar


mais os juros básicos

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