National Geographic - Portugal - Edição 228 (2020-03)

(Antfer) #1

EXPLORE | NOTAS DE CAMPO


HUGO MARQUES (NO TOPO); REBECCA HALE

UM OÁSIS OCEÂNICOQUE NUTRE


A VIDA SELVAGEM E A PESCA


TEXTODEDARRENSMITH

A sua assinatura
ajudou a financiar este
e outros projectos cien-
tíficos de exploração.

Raquel Gaspar é co-fun-
dadora da organização
Ocean Alive, cujo objectivo
é a sensibilização para a
conservação das pradarias
marinhas em Portugal.
Através de censos subaquá-
ticos (em cima), a equipa
está a desenvolver um
plano para monitorizar e
restaurar este habitat eco-
logicamente significativo.

IMAGINE UMA FLORESTA no fundo do
mar que promove a vida, fornece comida,
abrigo contra predadores e segurança
para o desenvolvimento dos juvenis.
À semelhança das árvores, o habitat pro-
duz oxigénio, reduz a erosão e retém car-
bono, mitigando as alterações climáticas.
As pradarias marinhas são locais assim
e Raquel Gaspar pretende protegê-las.
A bióloga marinha trabalha na Reserva
Natural do Estuário do Sado, que abriga
espécies icónicas, como golfinhos e cava-
los-marinhos. As pradarias são também
um berçário para várias espécies locais.
Globalmente, as pradarias marinhas for-
necem um habitat valioso para mais de
um quinto das 25 espécies mais pescadas,
mas quase um terço da sua área conhe-
cida desapareceu, sobretudo devido à
poluição, alterações climáticas, desflo-
restação, desenvolvimento costeiro e téc-
nicas destrutivas de pesca e ancoragem.
No Sado, junta-se a ameaça produzida
pelas dragagens para aprofundar o canal
de navegação do porto e estaleiros das

imediações. A dragagem não perturba
directamente as pradarias protegidas,
mas levanta sedimentos, reduzindo a
luz de que as plantas precisam.
Para salvar as plantas aquáticas, a
bióloga teve primeiro de as localizar.
Pesquisas subaquáticas realizadas
pela sua equipa avaliaram a saúde das
pradarias, mas Raquel precisava de um
aliado para realizar a cartografia. Focou-
-se então nas pessoas que conhecem
melhor as pradarias: as mulheres que
ali pescam. Recrutou oito mulheres e
treinou-as para usarem dispositivos GPS
e delimitarem as margens das prada-
rias marinhas enquanto pescavam.
O mapa resultante fornece informação
às autoridades sobre como diminuir o
impacte da dragagem, dos ancoradouros
e da produção de ostras.
As mulheres continuam a desen-
volver trabalho como guardiãs das
pradarias, monitorizando-as e promo-
vendo práticas sustentáveis de pesca na
sua comunidade.

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