RAPARIGASDECHIBOK 53
A AUN tem outras preocupações além da se-
gurança. A maioria destas mulheres tem agora
cerca de 20 anos e, nesta região, é invulgar fre-
quentar a escola com essa idade. Se não tives-
sem passado vários anos em cativeiro, muitas
estariam a formar família. No Outono anterior,
oito alunas não regressaram à escola e, suposta-
mente, metade ter-se-ão casado.
No dia antes de irem para casa, um pastor jun-
tou-se a elas para um sermão. “Algumas de vós
passaram por coisas horríveis. Viram a sombra
da morte”, pregou.
“AMEN!”, responderam.
“Algumas de vós estão prestes a viajar. Algu-
mas de vós têm medo.” O seu tom de voz subiu.
“Não tenham medo! Se viverem no mundo,
atraem o perigo.”
Grace Dodo, uma estudante altíssima que cami-
nha com a ajuda de uma bengala, inclinou a cabe-
ça e disse: “Sim!”
“Quero que voltem para concluir os vossos estu-
dos”, disse o pastor.
Enquanto Esther Joshua fazia as malas para
visitar a família, Patience Bulus passava o Verão
longe de casa, no campus do Dickinson College,
em Carlisle, na Pensilvânia (EUA). Em 2018, Mar-
gee Ensign, a antiga presidente da AUN, criou
um programa de preparação para a universidade
em Dickinson College, faculdade da qual é a ac-
tual presidente, tendo recebido quatro sobrevi-
ventes de Chibok.
Patience estudava em silêncio, misturando-se
com os outros alunos internacionais. Em Abril de
2019, falou sobre a crise da Nigéria diante de um
painel no Capitólio dos EUA. Os alunos de Dickin-
son rapidamente começaram a reconhecer o seu
sorriso aberto e os seus tererés coloridos na fa-
culdade. Aproximavam-se dela e pediam-lhe que
lhes contasse a sua história. E ela conta-a. Porque
não? Planeia estudar psicologia e ser terapeuta ou
trabalhar com refugiados. Deixou de fazer terapia
e começou a consultar um orientador de carreira.
“Nunca me vou esquecer, mas comecei a fingir
que me esqueci”, disse Patience. “Tenho de an-
dar para a frente.” j
Em Maio de 2019, alunas
e professoras juntaram-
-se para celebrar o
aniversário da libertação
das raparigas pelo Boko
Haram. O evento incluiu
poemas, discursos e uma
peça de teatro sobre um
rapto fictício. No final, as
raparigas soltaram
balões, incluindo 112
balões negros, um por
cada colega ainda
desaparecida.