Leitura com Mazé
serlei,obrigatórioconstruirsomente
se o espaço do lugar de construção
possui a possibilidade de ter as
arvores necessárias ao fornecimento
do que o homem precisa para
respirar. Ainda resta muito espaço
nascalçadasparaoverdeecanteiros
de flores.Ali, numa dasraras casas,
temmuitoverdeecores.
Ele guardou seu espírito de
sitiante. Gosta de viver perto da
lavoura.Plantaecolhesegundosuas
forças. O que pensa em noites
quentes de lua cheia na varanda da
casanosítio?Notempodeguri?Bem
guri mesmo, quando ainda não
precisava ir com os pais e irmãos
trabalharsobosolnordestino?
Umasenhora sai do portãoda
residênciacomumacriançano
carrinho de bebê, possivelmente
em direção da creche. A criança
tem um sorriso largo e olhos
comunicativos.Mefazpensarnele.
Tenho a impressão de que me
disse, quando perguntei comovai,
“esperandoamorte”.Faloumesmo
ou sonhei, coisa nada rara na
minha personalidade? Ou não
querendo escutar, fiz que não
entendi? Não deve ser um
sentimentoagradávelodeconviver
com o medo o dia todo
atravessando anoite.Por quenão
podemosapertarnumbotão“fim”,
quandoestivermosnaúltimaponta
do rolo, sem ânimo, sem
esperanças, percebendo o abismo
chegandocadavezmais rápido,se
sentindo legume,sem a dignidade
deumserhumano?
Mazé Torquato Chotil. Nasceu em Glória de Dourados-MS,
Brasil. Reside emParis desde 1985. Jornalista, pesquisadora,
doutora eminformação ecomunicaçãopelaParis VIIIepós-
doutora pela EHESS. É autora de Minha Paris Brasileira;
Lembrançasdosítio;Lembrançasda vila;Minha aventurana
colonização do Oeste; Trabalhadores exilados; José Ibrahim;
Mariad’Apparecidanegroluminosavoz.NaRotadetraficantese
NoCrepúsculo da vida. Em francês,publicou Ouvrières chez
Bidermann,L’Exilouvrier,MariaD ́Apparecida–UneMariapas
commelesautreseMonenfancedansleMatoGrosso.