Elle - Portugal - Edição 379 (2020-04)

(Antfer) #1

28 ELLE PT


ESTILO


FOTOS: IMAXTREE (3)

Rabanne. «Eu era conhecido como “o
homem das calças”», afirma a rir-se.
Para colocar o “homem das calças” em
contexto, naquela época a Balenciaga
era a criadora das calças “It”. Se não sabe
do que falamos, lembra-se das calças
cargo que ressurgiram na década pas-
sada? Agradeça à Balenciaga por isso.
E as versões mais casuais de alfaiataria
slim-fit com um corte preciso? Igual-
mente. Pois bem, tudo isto aconteceu no
curto espaço de quatro anos, e foi graças
ao talento de Dossena, que conseguiu
deixar de ser apenas estagiário e passou
a designer sénior da marca. «O Julien
era um dos mais jovens no estúdio»,
lembra Ghesquière, defendendo Dossena
e torcendo sempre do lado de fora – ou
melhor, na primeira fila – em todos os
shows da Paco Rabanne. «Pode dizer-se
que era um talento puro, que o seu futuro
seria tornar-se diretor criativo de uma
Maison. Ele tinha um foco e uma ética
de trabalho para lá da sua idade.»
Essa ética de trabalho fez com que
Dossena impulsionasse um crescimento
monumental na Paco Rabanne, tornando
menor a diferença da receita entre o negó-
cio das fragrâncias e o da moda. As lojas
duplicaram no ano passado; os lucros
viram um crescimento de dois dígitos
nos últimos três. E, por consequência,
conquistou uma série de fãs de alto ní-
vel, como Kelela, Rihanna, Priyanka
Chopra e Rosie Huntington-Whiteley,
comprovando-se assim a versatilidade
do trabalho de Dossena.
Ainda pode ser a marca de presentes
mais acessíveis e fragrâncias para jovens
adolescentes, mas agora é também uma
opção para quem quer comprar saias plis-
sadas, carteiras feitas em placas de metal
instagramáveis e t-shirts com logótipos
(como a roxa com o slogan Lose Yourself,
que foi um dos sucessos do verão).
Compreender as primeiras aspirações
de Dossena é perceber o que faz dele um
sucesso agora. Cresceu em Le Pouldu,
uma cidade-praia rochosa na Bretanha,
e descobriu a arte antes de descobrir a
moda. «Imaginei que poderia ser um

curador de arte. Ficava entusiasmado
com isso», lembra, explicando a sua
decisão de estudar História da Arte na
École Supérieure des Arts Appliqués
Duperré, em Paris, antes de fazer um
mestrado em Moda na La Cambre, em
Bruxelas. De facto, sempre que falamos
de arte, Dossena fica mais animado.
Em segundos, acumula a energia de
uma lata de refrigerante, pontuando
a conversa com acenos de cabeça e ex-
clamações de: “Sim!”
Embora Dossena tenha a sensibili-
dade de um artista, a pressão comercial
começa agora a aumentar: a Puig es-
tabeleceu a meta ambiciosa de a Paco
Rabanne atingir €1 bilião em receita
em 2020 (para conseguir pôr isto em
perspetiva, a Balenciaga alcançou re-
centemente este valor, e a Saint Laurent
vale €1,7 biliões). «Ele parece muito

confiante, muito relaxado, muito na
boa», conta a sua ex-colega e amiga Na-
tacha Ramsay-Levi (ela própria cliente
da Paco Rabanne). E, de facto, parece.
Mas, dito isto, ninguém está imune à
pressão: «Eu desenvolvi algo que preci-
so de compreender melhor: ansiedade.
Já não consigo apanhar aviões», conta,
antes de se animar e de ver o lado bom da
coisa. «Fui para Nova Iorque de barco,
o que foi muito bom.» E a prova disso
está na inspiração que a viagem lhe deu
para criar uma série de coleções, fazendo
referência a Paris via Palm Springs, com
toques de David Bowie e Roxy Music.
À medida que o nosso tempo se aproxi-
ma do fim, pergunto a Dossena se está
feliz. E ele mostra aquele sorriso de ator
de Hollywood e responde: «Ah, sim»,
enquanto balança a cabeça enfaticamen-
te. «Sim. Tu vais ver, a próxima tempo-
rada vai ser mais alegre. Mais colorida e
alegre.» E é mesmo. Tal como ele provou
na passerelle, algumas semanas depois
de nos conhecermos,tornandoo desfile
um dos mais aplaudidosdaSemanada
Moda de Paris. S. M.

Imagens
do desfile de
primavera-verão
2020 da Paco
Rabanne.
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