REVISTA 27

(MARINA MARINO) #1
Poesia com Marta Cortezão

Ofragmento“eulutavacontraaescravidãoatual–afome!”énavalhana
carne para os que param para sentir a dor alheia, ainda que não tenham
conhecido a “fome amarela” que conheceu Carolina. É a fome um quadro
lamentávelqueescravizanaçõesequesócrescenoBrasilatual,onde“Atéo
feijãonosesqueceu.Nãoestáaoalcancedosinfelizesqueestãonoquartode
despejo”(DEJESUS: 1970 ,p. 38 )doBrasilinvisibilizado.Outrapassagemque
me parece dialogarcom os versos“Souafrodescendente! / Dosquilombos,
remanescente!/(...)Souhumana,sounegra!/SoufilhadaMãeÁfrica!/Eem
seusbraços,eternamentedeixo-meporelaembalar!”éaseguinte:


...Euescreviapeçaseapresentavaaosdiretoresdecircos.Elesrespondia-me:
─Épenavocêserpreta.
Esquecendoelesqueeuadoroaminhapelenegra,eomeucabelorústico.(...)Seé
queexistereencarnação,euquerovoltarsemprepreta.”(pág. 58 )


Duasvozesqueseconfrontamnumprofícuodiálogo,umadoséculoXX,
outradoséculoXXI.ÉoBrasilapassostrôpegossendodestapado,emversoe
em prosa, mostrando-se o quanto nos distanciamos do Brasil de nossos
sonhos!HáumBrasilquecaminhacomosolhosdocolonizador,presumindo
deumabranquitudequenãotemlugarenembrasilidade/representatividade.
Onde está nossa LIBERDADE? A entendemos como instrumento
imprescindíveldelutaparaaconstruçãodeumasólidademocracia?Éurgente
conheceraHistóriadenossopovo,éurgente“assumirnossacor-identidade,/
Libertar-nos: da discriminação histórica, / Da subalterna colonialidade./
Somosnegros³!/Negraéacordabrasilidade”. ( Sernegro ,pág. 39 ).Somos
indígenas,ribeirinhos,caboclos,somospretos,quilombolas.Eparaalémdas
muitaseinfinitasquestões,somospessoas,somossereshumanos,somosum
universogenéticoemquecabemtodasascoresetodasasvozesancestrais.




³Deixo um link que faz uma interessante abordagem sobre os sentidos semânticos dos adjetivos “preto” e “negro” que
vêm sendo bastante discutidos em nossa contemporaneidade: https://www.youtube.com/watch?v=bu4aBxrYGJU

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