Poesia com Marta Cortezão
Refletindo sobre estas primeiras páginas, chego ao ensaio Direito à
Literatura¹ ,escritonadécadade 80 porAntônioCândido,ondeencontra-sea
definição dosconceitos de“benscompreensíveis” (“como os cosméticos,os
enfeites,roupassupérfluas”)e“bensincompreensíveis”quesão“nãoapenas
os que asseguram a sobrevivência física em níveis decentes, mas que
garantemaintegridade espiritual”.Énestesegundoconceito debens queo
autor insere a arte e a literatura, mascom ressalva, pois “só poderão ser
consideradas bens incompreensíveis segundo uma organização justa da
sociedade se corresponderem a necessidades profundas do ser humano, a
necessidades que não podem deixar de ser satisfeitas sob pena de
desorganizaçãopessoal,oupelomenosdefrustraçãomutiladora”(CANDIDO:
2011 , p. 174 ). Não tenho dúvida de que a literatura é instrumento de
transformaçãomaior,souprovadisso,entretantominhaangústiaéconstataro
caos–odescasoedesrespeitocomaeducação,aliteratura,acultura,asartes,
a ciência,asaúde etudooque sustentaumpaísque pretendecuidar com
seriedade de seu povo – e ainda as injustiças sociopolíticas no Brasil que
sucederam o fatídico golpe de 2016 , revelando um Brasil onde a aliança
fascista ganha força e prospera descaradamente. Contudo é preciso
contemplaros “lírios doscampos”, mais que contemplá-los, potencializá-los
emsuaforçadesemente,interessar-sepela“terraqueoalimenta”eentender
desuasfragilidadesparaqueelesfloresçamnatãoesperançada“primavera
política”de 30 deoutubro.
- CÂNDIDO, Antônio. VáriosEscritos.[Organização do próprio autor]. São Paulo:
DuasCidades, 4 ªedição, 2011 ,p. 174.