Sexta-feira,13demarçode2020|Valor| 27
DIVULGAÇÃO
trabalham,ao todo,20 pessoas. Fernando,
formado em arquitetura,tevepassagem
pela Bienal de São Paulo e é voltadoaos de-
senhos. Humberto, formadoem direito,
prefereparticipardo processodas obras.
Começousua trajetória produzindoartesa-
natoeconsidera-seautodidata. “Eu come-
cei a vida com as mãos”, diz.
Amostratraz peçasicônicasda história
dos irmãosCampana, que têm obrasem co-
leçõespermanentesde instituiçõescomoo
Museumof ModernArt (MoMA), de Nova
York;oCentreGeorgesPompidoueoMusée
des Arts Décoratifs,de Paris, oMuseu de Ar-
te Contemporâneade TóquioeoMuseude
ArteModerna(MAM)deSãoPaulo.
Umadelasé a “CadeiraVermelha”, de
1993,feitade cordas vermelhas,primeira
peça da duplaa ser produzidana Europa—
ondeéum sucessocomercialdesdeque co-
meçoua ser vendida,em 1998,omesmo
ano que abriramuma exposiçãono MoMA,
ao ladodo artistaalemãoIngo Maurer
(1932-2019)e conhecerama famainterna-
cional.Apeça abriuo mercadoeuropeupa-
ra os Campana e para oprópriodesign bra-
sileiro,reconhecidointernacionalmente.
Obrasrecentes,comoum armárioda co-
leção“Ca ngaço” (2015), feitaem parceria
como mestreEspeditoSeleiro, também
compõemaexposição. Há aindaainédita
“CadeiraFantasma”, concebidaem 2000,
que ficarásuspensa“comouma fantasma”,
diz Humberto.Uma criaçãorecenteéa
poltrona“Bu lbo”,de 2019,produzida pela
LouisVuitton,que remeteauma planta.
“Nossotrabalhotem esse ladoorgânico”,
afirmaFernando.
Não apenasos materiaisque servemde
matéria-primaparaas obras—comoplás-
tico,acordaeamadeira—vêm do cotidia-
no. Boa partedas criaçõesdos Campana,
ao longodesses35 anos,tambémnasceda
observaçãodo dia adia, seusmateriaise
suas formas.Éocasoda paredede cobogós
que abre a exposição, mas tambémda “Pol-
tronaFavela”, de 1990(queentrouem pro-
duçãoem 2003),inspirada na favela da Ro-
cinha.“A genteviu aquelaconchada Roci-
nha eimaginouuma sériede coisas.Otra-
çadourbano,oc onjuntode umacomuni-
dadeé cubista”, diz Fernando. A peçaem
exposiçãoéaterceiraproduzida,já que a
poltronaestá fora de produção.
O conjuntodas obrasnão compõeuma
mostrafácilàprimeiravistaparaquemdesco-
nheceaobra dos Campana ou está habituado
aominimalismoeaoestilolimpodasfeirasde
design. O conjuntodecores fortes (vermelho,
azul,preto), as múltiplas referências (verna-
culares etecnológicas, nacionais eestrangei-
ras) eas formas poucousuais compõemum
painel intenso, que se encaixa aos poucos, ao
longodotrajetodaexposição.
E éessa aintençãodos irmãosque fre-
quentavam oMAM do Rio no períodode fé-
rias, quandoaindaviviamcom os pais eso-
nhavamumdiaocuparaqueleespaço.“Nos-
sotrabalhonãoécartesiano.Épluralista,co-
mo o Brasil,com misturade raças,culturas,
texturas.Não éaquelacoisa‘cool’”,diz Fer-
nando. “Odeioser ‘cool’”,afirmaHumberto.
“Somosbrasileiros.Nossotrabalhoéderes-
significar, dar a segundapele,criaro falso
brilhante.Somosalquimistas.”■
Humberto e Fernando Campana abrem a mostra “IrmãosCampana–35 Revoluções”,que pretendedesfazer as fronteiras, cadavez menosclaras entre artee design
DIVULGAÇÃO
“Cadeira Vermelha”,
de 1993, feita de
cordas vermelhas:
primeira peçada
duplaa ser produzida
na Europa,ondeé um
sucessocomercial
desdeque começoua
ser vendida,em 1998