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A24 Metrópole SÁBADO, 14 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
THE NEW YORK TIMES
Funcionários do Centro de Con-
trole e Prevenção de Doenças
dos Estados Unidos (CDC, na
sigla em inglês) e especialistas
em epidemias de universidades
de todo o mundo conversaram
no mês passado sobre o que po-
deria acontecer se o novo coro-
navírus ganhasse força nos Esta-
dos Unidos. Quantas pessoas
podem morrer? Quantos esta-
riam infectados e precisariam
de hospitalização?
Um participante de uma das
principais agências que mode-
lam dados de doenças, Mat-
thew Biggerstaff apresentou ao
grupo por telefone os quatro ce-
nários possíveis – A, B, C e D –
com base nas características do
vírus, incluindo estimativas de
quão transmissível é e a gravida-
de do problema causado pela
doença. As suposições, analisa-
das pelo The New York Times,
foram compartilhadas com cer-
ca de 50 equipes de especialis-
tas para formular como o vírus
poderia infectar a população – e
o que poderia impedi-lo.
Os cenários do CDC foram re-
presentados em termos de por-
centagens da população. Tradu-
zidos em números absolutos
por especialistas independen-
tes, usando modelos simples de
como os vírus se espalham, o
pior cenário seria surpreenden-
te se nenhuma ação fosse toma-da para retardar a transmissão.
Entre 160 milhões e 214 mi-
lhões de pessoas nos Estados
Unidos podem ser infectadas
ao longo da epidemia, segundo
uma projeção. Isso pode durar
meses ou mais de um ano, com
infecções concentradas em pe-
ríodos mais curtos, escalona-
das ao longo do tempo em dife-
rentes comunidades, dizem es-
pecialistas. De 200 mil a 1,7 mi-
lhão de pessoas podem morrer.
E, os cálculos baseados nos ce-
nários do CDC sugeriram que
2,4 a 21 milhões de pessoas nos
Estados Unidos poderiam preci-
sar de hospitalização, potencial-
mente aniquilando o sistema
médico do país, que possui ape-
nas cerca de 925 mil leitos hospi-
talares. E menos de um décimo
deles é destinado a pessoas gra-
vemente doentes.
As premissas que alimentam
esses cenários são atenuadas pe-
lo fato de que cidades, Estados,
empresas e indivíduos estão co-
meçando a tomar medidas paradiminuir a transmissão, mes-
mo que algumas estejam agin-
do menos agressivamente do
que outras. O esforço liderado
pelo CDC está desenvolvendo
paradigmas mais sofisticados,
mostrando como as interven-
ções podem diminuir os núme-
ros dos piores cenários, embora
suas projeções não tenham sido
divulgadas publicamente.Comportamento. “Quando as
pessoas mudam de comporta-
mento”, disse Lauren Gardner,
professora da Escola de Enge-
nharia Johns Hopkins Whiting,
que monitora epidemias, “es-
ses parâmetros não são mais
aplicáveis”, portanto as previ-
sões de curto prazo provavel-
mente serão mais precisas. “Há
muito espaço para melhorias seagirmos adequadamente.” Es-
sas ações incluem testes para
detecção do vírus, rastreamen-
to de contatos e redução das in-
terações humanas interrom-
pendo reuniões de grandes gru-
pos, trabalhando em casa e res-
tringindo viagens. Nos últimos
dois dias, várias escolas fecha-
ram, eventos esportivos foram
interrompidos ou atrasados, os
teatros da Broadway apagaram
suas luzes, empresas impedi-
ram funcionários de irem ao es-
critório e mais pessoas disse-
ram que estavam seguindo reco-
mendações de higiene.
O Times obteve capturas de
tela da apresentação do CDC,
que não foi divulgada publica-
mente, com uma fonte que não
participou das reuniões. Então,
o Times verificou os dados com
vários cientistas que participa-
ram do evento. Os cenários fo-
ram marcados como válidos até
28 de fevereiro, mas permane-
cem “praticamente os mes-
mos”, segundo Ira Longini, co-
diretor do Centro de Estatística
e Doenças Infecciosas Quantita-
tivas da Universidade da Flóri-
da. /TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIABeatriz Bulla / CORRESPONDENTE
WASHINGTON
O presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, decla-
rou ontem emergência nacio-
nal e anunciou um plano para
acelerar os testes do novo co-
ronavírus no país. A declara-
ção de emergência dá ao Exe-
cutivo autoridade para usar
na crise do coronavírus US$
50 bilhões, reservados nor-
malmente para desastres na-
turais.
Mais de 1,2 mil pessoas já fo-
ram confirmadas com o vírus e
41 mortes foram registradas, em
meio à falta de testes suficientes
para a população. Agora, Trump
prometeu em uma parceria com
o setor privado que cinco mi-
lhões de testes estejam disponí-
veis até o fim do mês.
O presidente enfatizou que
nem todos os americanos de-
vem buscar o teste, mas apenas
os que se encaixarem nos crité-
rios determinados pelo Centro
de Controle de Doenças (CDC,
na sigla em inglês). “Nós não
queremos todos fazendo o tes-
te. Isso é totalmente desneces-
sário”, disse Trump.
Os EUA têm limitado o teste
apenas a pacientes que apresen-
tam os sintomas e estiveram
em países com alto índice de dis-
seminação da doença, ou tive-
ram prolongado contato com
pessoas que já tiveram a confir-
mação de que portam o novo co-
ronavírus.
Trump invocou a Lei Staf-
ford, que capacita a Agência Fe-
deral de Gestão de Emergên-
cias (FEMA, na sigla em inglês)
a coordenar ajuda a governos es-
taduais e municipais no caso de
desastres naturais ou, como
agora, para combater uma pan-
demia. “Estou pedindo a todos
os Estados que estabeleçam
centros de operações de emer-
gência efetivos imediatamen-
te”, disse Trump.
Integrantes da força-tarefa
montada por Trump para lidarcom a disseminação do corona-
vírus participaram do anúncio.
Anthony Fauci, do Instituto Na-
cional de Alergia e Doenças In-
fecciosas, afirmou que “ainda
há um longo caminho” nos
EUA. “Haverá muito mais ca-
sos, mas cuidaremos disso. O
que está acontecendo hoje vai
ajudar a acabar (com o vírus)
mais rápido”, afirmou.
Na última quinta-feira,
Trump anunciou em pronuncia-
mento nacional medidas como
a restrição de voos vindos da Eu-
ropa por 30 dias. O anúncio mo-
tivou críticas, pelo fato de o pre-sidente não ter coordenado a
medida com os líderes euro-
peus e ignorar o fato de que os
EUA registram casos de trans-
missão do vírus internamente –
e não apenas oriundo de pes-
soas que estiveram em países
com mais casos confirmados.
Trump também tem sido cri-
ticado por demorar a apresen-
tar uma resposta coordenada
ao avanço do coronavírus e ter
desacreditado a gravidade da si-
tuação.
Empresas e universidades
nos EUA passaram a operar em
esquema de home office. Ao me-nos oito dos 50 Estados ameri-
canos e parte das grandes cida-
des do país anunciaram que as
escolas fecharão as portas para
evitar a disseminação da doen-ça e eventos públicos foram can-
celados.
O anúncio de ontem foi feito
na presença de executivos de
empresas como farmácias e su-
permercados. Os americanos
têm encarado prateleiras com-
pletamente vazias diante do au-
mento da demanda gerada pelo
medo das quarentenas impos-
tas. Moradores da capital ameri-
cana têm tido dificuldade para
encontrar itens básicos de higie-
ne, como papel higiênico, e de
alimentação, especialmente os
não perecíveis, como massas e
enlatados.Ludimila Honorato
A Organização Mundial da Saú-
de (OMS) alertou ontem que a
Europa tornou-se o epicentro
da pandemia do novo coronaví-
rus. Os casos confirmados da
doença e o número de mortes
registrados são maiores nesta
região do que no resto do mun-
do junto, além da China. “Mais
casos estão sendo relatados to-
dos os dias do que os relatados
na China no auge de sua epide-
mia”, afirmou Tedros Ghe-
breyesus, diretor-geral da
OMS. Em todo o mundo, a OMS
registrou mais de 132 mil casos
da doença em 123 países e terri-
tórios, além da morte de 5 mil
pessoas, algo que Ghebreyesus
considera “um marco trágico”.
O diretor-geral afirmou que,
agora, a maioria dos países pos-
sui um plano nacional, está ado-
tando abordagem multisseto-
rial e tem capacidade de testes
de laboratório. Mas, para refor-
çar essas medidas, a OMS tem
colaborado com as nações e en-
viou equipamentos de proteção
individual para 56 países, está
enviando para outros 28, e qua-
se 1,5 milhão de testes de diag-
nóstico foram destinados a 120
países. “Nossa mensagem para
os países continua sendo: vocês
devem ter uma abordagem
abrangente. Não fazer apenas
testes. Não apenas rastrear con-
tatos. Não só colocar em qua-
rentena. Não apenas fazer dis-
tanciamento social. Faça tudo.”
Segundo Michael Ryan, dire-tor executivo do programa de
emergências da OMS, manter
distância social é, no momento,
a medida mais efetiva para con-
ter a disseminação do vírus. “É
baseada no princípio de que vo-
cê não sabe quem está infecta-
do.” Maria Van Kerkhove, líder
técnica do programa de emer-
gências, completou que a dis-
tância social é apenas uma das
medidas que vêm sendo promo-
vidas pela entidade. Outras in-
cluem encontrar, de forma in-
tensa, os contatos e testar essas
pessoas, saber quem é caso con-
firmado e quem não é.
Ela reforçou que é preciso
manter a boa higiene das mãos,
tossir e espirrar na parte inter-
na do cotovelo. “É muito impor-
tante que cada pessoa no mun-
do saiba quais são os sinais e sin-
tomas, saiba a diferença. Saben-
do o risco, você pode proteger
você mesmo e sua família.”Maria Van Kerkhove afirmou
que a OMS tem trabalhado para
prever o que está por vir em rela-
ção ao coronavírus, mas que ca-
da país tem de estar preparado.
“Na Ásia, temos visto uma abor-
dagem agressiva, mobilizaçãoda força trabalhadora. Sempre
há chance de os casos cresce-
rem de novo, temos de estar pre-
parados.” A OMS não tem co-
mo prever quando o surto atin-
girá seu pico mundialmente,
mas sabe que está próximo.Maria apontou que há países
que começaram a identificar
um grande número de casos e
isso é positivo porque significa
que estão procurando esses ca-
sos, tendo uma atitude asserti-
va diante da pandemia.Brasil avalia fechar fronteira com Venezuela para conter a doença. Pág. A 26}
lVítimasNo pior cenário, EUA teriam 1,7 milhão de mortes
lAporte● Casos de coronavírus têm aumentado na ItáliaPELO MUNDOINFOGRÁFICO/ESTADÃO11150100
1 MILCASOS
PELO MUNDOMAIS DE 10.000Rússia
CanadáEUA
1.268 China
80.945BrasilAustráliaGroenlândiaÍndiaArgentinaArgélia
México
Arábia
SauditaIrã Indonésia
11.364Chile África do sulNoruegaReino UnidoMalásiaJapãoFrançaEspanhaItália
15.113Mais casos estão
ocorrendo no continente,
e entidade reforça a
necessidade de tomar
medidas abrangentes
Europa tornou-se o epicentro
da pandemia, afirma OMS
41
mortes por conta do novo
coronavírus foram confirmadas
pelo governo dos Estados UnidosSPENCER PLATT/GETTY IMAGES/AFPProteção. Centro de teste móvel perto de Nova York, nos EUACentro de Controle e
Prevenção de Doenças
apresentou projeções;
previsão pode mudar
com medidas de controle
US$ 50 bi
para usar na pandemia é o valor
que poderá ser gasto pelo Execu-
tivo do país. O presidente prome-
te parceria com o setor privado
e 5 milhões de testes estarão
disponíveis até o final do mêsSAUL LOEB / AFPCoronavírus
faz Trump
declarar
emergência
Presidente dos EUA anuncia novo plano
para acelerar testes da covid-19 pelo país
Reações. Donald Trump tem sido criticado por demorar a apresentar uma resposta coordenada ao avanço do coronavírus