O Estado de São Paulo (2020-03-16)

(Antfer) #1

Caderno 2


Televisão. Nova novela das 6, ‘Nos Tempos


do Imperador’ dá continuidade à história de


‘Novo Mundo’, dos mesmos autores


Um novo capítulo


Eliana Silva de Souza


Diversas vezes a dramaturgia
da Globo colocou persona-
gens de uma novela dentro de
outra, em um crossover, em
termos atuais. E fazer a se-
quência de um folhetim tam-
bém não é uma novidade, a
emissora já fez isso algumas
vezes com outras tramas, até
mesmo com a atual de Malha-
ção
. E é o que pode ser conferi-
do com a estreia, no dia 30, de
Nos Tempos do Imperador
(substituindo Éramos Seis ),
que é a continuação da histó-
ria iniciada em Novo Mundo ,
ambas com a assinatura da du-
pla Alessandro Marson e The-
reza Falcão.
Talvez essa seja uma tendên-
cia, ou não, mas a mesma táti-
ca é usada em séries como The
Crown
, sobre a vida da família
real britânica. O que vai estar
na tela é uma parte da história
do País, com o imperador D.
Pedro II percorrendo o Brasil
e sua mulher Teresa Cristina
mostrando os valores nacio-
nais ao mundo.
Feitas por essas quatro
mãos mágicas, a trama de No-


vo Mundo se desenvolve em
um país ainda em formação,
em busca de identidade, ven-
do nascer um império. Agora,
o novo folhetim registra outro
momento do Brasil, com um
imperador empenhado em
transformá-lo em nação, uni-
da de norte a sul.
De acordo com a autora The-
reza Falcão, a ideia é contar
uma outra fase da história da
realeza. “Aqui, estamos vendo
um D. Pedro mais jovem, lidan-
do com questões difíceis para
ele, como a escravidão e de-
pois a Guerra do Paraguai”,
conta ela, revelando que será
apresentado um Pedro II pou-
co conhecido. “Vamos mos-
trar que ele tem uma vida
anterior que foi muito im-
portante para chegar aon-
de chegou.”
“Quando a gente fala
do imperador do Brasil,
pensamos em Pedro II e
o trabalho que ele fez e
deu muito certo, conse-
guindo manter o País
desse tamanho unido,
o que não foi possível em ou-
tros países da América Lati-
na”, afirma o parceiro de escri-

ta Alessandro Marson.
A dupla explica que, em ca-
da uma das tramas que agora
se unem, há um marco históri-
co específico, o ápice drama-
túrgico. Em Novo Mundo foi a
questão da Independência do
Brasil, agora a história vai con-
vergir para a Guerra do Para-
guai. Na verdade, como afir-
ma Thereza, “Nos Tempos do
Imperador tem uma continui-
dade, mas é bem diferente de
Novo Mundo , que tinha muita
fantasia, os piratas, essa agora
é mais pé no chão, já fala de
um Brasil que está se consoli-
dando, mais rural, com fa-
zendeiros”, conta a auto-
ra. Para ela, enquanto
Novo Mundo era mais
urbana, na capital do
império, essa ago-
ra abre para um
outro lado, tem
conflitos mais
contundentes.
Muitos dos perso-
nagens na trama fa-
zem parte da nossa his-
tória, como Duque de Ca-
xias (Jackson Antunes), Ba-
rão de Mauá (Charles
Fricks), José de Alencar (Al-

cemar Vieira), e a Condessa
de Barral (Mariana Ximenes),
grande amor de Pedro II.
Além da imperatriz Tereza
Cristina, interpretada por Le-
ticia Sabatella.
Como os autores explicam,
muitos desses personagens,
de cunho histórico, caso de D.
Pedro II, têm extensas biblio-
grafias, o que não ocorre com
Teresa Cristina, já que existe
pouco material sobre ela. Por
isso mesmo, a ficção sobres-
sai, tendo de usar mais imagi-
nação para compor a persona-
gem. Mesmo assim, Sabatella
se esmera em montar um per-
fil que respeite a força e a luta
de uma mulher criada no po-
der, casada com o imperador
do Brasil, mas com seus pro-
blemas pessoais andando jun-
to, como é o caso do amor de
seu marido pela Condessa de
Barral, mãe de Leopoldina
(Melissa Nóbrega/Bruna Grip-
hao), e Isabel (Any Maia/Giu-
lia Gayoso), que vão refletir a
educação recebida por essa
mãe pensadora e ativa.
Mas, como imperatriz, ela
se empenha em conseguir rea-
lização em sua vida, honrando
o cargo que ocupa e que respei-
ta, tem fé nele. “Essa mulher
tem sim de lidar com proble-
mas de cunho pessoal, mais
mortais e humanos, mas ela
tem toda uma identificação
com o Brasil. Ela nasceu na Itá-
lia e aqui foi uma inspiradora
para a imigração italiana e,
mais do que isso, foi promoto-
ra de arte, e incentivou a ciên-
cia”, explica Letícia ao falar da
personagem.
Para a atriz, Teresa Cristina
foi uma mulher com uma vi-
são de futuro, sendo responsá-
vel pela aquisição de numero-
sas peças clássicas que forma-
ram o Museu Nacional, no
Rio. “Ela tem um olhar para o
Brasil de quem está procuran-
do sua história e cultura, ela
tem a função de reavivar essa
força cultural. Ao provar que
valoriza o produto brasileiro,
ela leva, por exemplo, Carlos
Gomes a Milão. Ela exerce es-
se função de imperatriz de for-
ma magistral.”
Em Nos Tempos do Impera-
dor , o lado cantora de Leticia
Sabatella vai ser útil na sua in-
terpretação da imperatriz Te-
resa Cristina, que também gos-
tava de cantar, e a atriz afirma
que está se empenhando no
canto lírico. “Eu estou poden-
do estudar um pouco, vou can-
tar, dentro do que conseguir
aprender, tenho que praticar
muito”, acrescenta.

ENTREVISTA


Philip Roth


inspira série


‘The Plot Against


America’ estreia hoje
na HBO, às 22h

Pág. C3

lComo é viver esse personagem
histórico, mostrá-lo como gover-
nante, esse homem, marido, pai,
amante, é uma realização?
Uma oportunidade rara de po-
der dar vida a um dos brasilei-
ros mais importantes que já ti-
vemos. A novela é linda, ajuda-
rá a relembrar uma parte im-
portante de nossa história, e in-
ternamente é um retorno emo-
cionante, pois foi ali na TV que
dei meus primeiros passos, a
televisão aberta foi minha ver-
dadeira escola. Voltar para ca-
sa é sempre comovente.


lO que mais chama sua atenção
na história de D. Pedro II?
A sensibilidade de um homem
que privilegiava a educação, a
ciência, as artes, o conhecimen-
to.

lTanto tempo sem fazer novela,
achou que era a hora de voltar,
principalmente por viver esse
personagem? E como é estar em
uma novela de época?
Sim, sentia que faltava o proje-
to certo. E Dom Pedro II era
mais do que eu esperava. Eu
acho o máximo trabalhos de
época, já fiz vários porque ado-
ro essa chance de voltar no
tempo, aprender com o passa-
do e iluminar o presente de
quem nos assiste.

lMesmo sendo uma ficção, uma
história romanceada, acredita

que a novela será uma boa forma
de mostrar esse período da histó-
ria para o público?
Sem dúvida, será um trabalho
que conheceremos fatos do
Brasil do século 19, relembrare-
mos um período fundamental
de nossa formação e podere-
mos comparar o que ficou de
um bom legado e o que conti-
nuou igual mesmo tanto tem-
po depois.

lComo se preparou para o pa-
pel?
Lendo muito, tudo que havia
ao meu alcance sobre o impera-
dor, sobre a monarquia. Um
trabalho bem íntimo, procu-
rando entender através de tan-
tos autores e pensamentos di-
ferentes, a alma desse persona-
gem. O desafio agora é colocar
em prática tudo que li sobre

Dom Pedro II. Os livros apon-
tam fatos, fotos, pinturas, mas
dar vida a um personagem des-
se porte exige que eu imagine,
que eu suponha como ele se
portaria diante de tantos acon-
tecimentos.

lO fato de você ter começado a
trabalhar criança, serviu como
inspiração para compor o perso-
nagem, afinal são dois homens
que começaram a trabalhar mui-
to cedo. Tem algo a ver?
Tudo a ver! Adorei sua obser-
vação, isso me tocou verda-
deiramente. Eu escolhi ser
ator, em uma família sem re-
ferência artística, aos 7 anos
de idade. Dom Pedro II her-
dou um trono, e o desafio de
comandar um império aos 5
anos. Eu tive escolha, ele
não. Muitas vezes, lendo so-
bre a adolescência reclusa,
seu jeito moderado, suas pou-
cas palavras, sua introspec-
ção, me vi, me emocionei e
quis viver esse brasileiro no-
tável. Tenho tido dias muito
felizes voltando ao lugar on-
de tudo começou para mim,
e vivendo esse homem tão
importante na história de
nosso país. / E.S.S.

‘Adoro essa chance de


aprender com o passado’


Ator esteve distante das


novelas por mais de 20


anos e agora retorna


como um grande nome


da história do Brasil


Selton Mello, ATOR


A quatro mãos.
Alessandro
Marson e
Thereza Falcão
assinam texto

FOTOS GLOBO/JOÃO MIGUEL JÚNIOR

FOTOS GLOBO/CAMILLA MAIA

Leticia Leticia
Sabatella. Sabatella.
A imperatriz A imperatriz
Teresa Cristina Teresa Cristina
com as filhas com as filhas
Isabel e Isabel e
LeopoldinaLeopoldina

%HermesFileInfo:C-1:20200316:C1 SEGUNDA-FEIRA, 16 DE MARÇO DE 2020 ANO XXXIV – Nº 11595 O ESTADO DE S. PAULO

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