Desdeoinício desteséculo,o conceito
de beloé tratadocomo algo mais subjetivoe
relativo,ouseja,oserhumanoadotaumpadrão
debelezaàsuamaneira.Questãodepontode
vistae opçãodegosto.A belezapassouaser
definida por vivências pessoais através de
identificaçõesintelectuaisousensoriaisdeafeto
pelooutro,porumacoisaousituação.
Quando iniciei a interminável aventura
de experimentar vinhos (e continuo não
sabendodistinguirMerlotdeMalbec)ganheide
presenteolivro Emvoltadovinho ,dojornalistae
escritorRenatoMachado.Noiníciododelicioso
e acessível texto, o autor faz um
questionamento:“comopodeumapreciadorde
vinhosselembrarcomnostalgiadeumMateus
Rosêtomadoaosoldoverãofluminense”?Sem
sepreocuparcomosespecialistas,Renatonarra
omomentoemque ele,comamigoseprimos,
jogavabolanapraiaaofinaldatardenaspraias
de Saquaremae otio forneciao citadovinho
rosêa cadagol em pequenoscoposplásticos.
Parabomconhecedordevinho,oMateusRosê
éagradável,masnãoéaperfeiçãoengarrafada
(aindamaisbebidoemcoposdescartáveis).Não
interessa. Para Renato, o vinho suscita a
lembrança de um momento feliz. Retrato
inesquecíveldaamizadeejuventude.
Sócrates,pensadorgrego,reforçaqueo
beloéoprazerdossentidosequetambémpode
existirbelezasemprazersensível.Abelezaestá
e sempre estará na reminiscência aprazível.
Façamos comoRenatoMachado:entreguemo-
nosaobelodaalma,mesmoqueoutrosfiquem
umafera.
O clássico francês A Bela e a Fera,
publicado no século 18 por Madame de
Villeneuve, já contou com várias reescritas,
filmagens eanimações.Oenredo doencontro
da princesa com o animal monstruoso nos
remeteaocontrapontodasingelezadobelocom
a crueza da fera. O objetivo da história é
despertarapossibilidadequetemosemderrubar
barreiras.Deumladoedooutro.Dobeloeda
feradentrodenós.Abandonearazãológicada
harmonia exata e entregue-se à emoção do
gostar por gostar,por se sentirbem.Simples
assim.
Traduzaseusíconescomoelesrealmente
são ou foram e não como querem que você
enxergue. Ao perceber que foi iludido pela
massa,vocêficaráumafera.
Vivaoantagonismo!Vivaasdiferenças!
Sejahumano.@livrospaulomaua