%HermesFileInfo:A-2:20200318:
A2 Espaçoaberto QUARTA-FEIRA, 18 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Durante a década passada, as
startups cresceram tão rapida-
mente a ponto de não conse-
guirem contratar pessoas
com a necessária rapidez. Ago-
ra, demissões vêm ocorrendo.
Em janeiro, a startup de pizza
robô Zume e a empresa de
compartilhamento de carros
Getaround cortaram mais de
500 postos. Em seguida a em-
presa de testes de DNA 23and-
Me a Mozilla e o website Quo-
ra iniciaram seus cortes.
“É como se chegasse a hora
de um ajuste de contas”, disse
Josh Wolfe, investidor de ris-
co de Nova York.
http://www.estadao.com.br/e/startup
C
ultuamos ativos e a im-
portância de suas rou-
pagens é relativa, são-
nos oferecidos como aplica-
ções financeiras, imóveis, mó-
veis, obras de arte e vários ar-
tigos, palpáveis ou não. A di-
mensão humana no entendi-
mento de sua plenitude mate-
rial é absolutamente imprevi-
sível e individual. Um proletá-
rio pode destinar seus escas-
sos recursos a causas humani-
tárias, enquanto é possível
avistar bilionários capitulan-
do lentamente, agarrados a
fortunas que não lhes serão
mais úteis em alguns instan-
tes, dias ou semanas.
Mas, eventualmente, al-
guns contextos nos encarce-
ram em mesmo sentimento e
é quase mágica a consonância
entre vozes e arpejos. Agora
universos sociais e cultural-
mente distintos se aglome-
ram em supermercados na
busca do abastecimento para
suportar a realidade sombria
que imaginam se instalará.
Mais do que solidificar nossa
máxima de que no Brasil o
ano só começa após o carna-
val, estamos desapegados de
qualquer materialidade que
não contenha alimentos não
perecíveis e os emblemáticos
rolos de papel higiênico.
No prefácio de nossas
atuais determinações encon-
tramos um protagonista de-
sencadeador do desastre imi-
nente, o turista paulistano
que esteve em férias na Itália
e após seu retorno foi diagnos-
ticado com covid-19. Pois
bem, já que isentamos suma-
riamente as não desprezíveis
culpabilidades nossas e dos vi-
sitantes estrangeiros na disse-
minação apoteótica do vírus
em nossa folia, precisamos de
proporcional parcimônia car-
navalesca para compreensão
do que é dito por nossas auto-
ridades sanitárias.
Não há uma enigmática ver-
dade escondida em discursos
retóricos, o que se pretende
com os cuidados exaustiva-
mente solicitados pelos
meios de comunicação é pros-
pectar a diminuição do por-
centual populacional acometi-
do e se esse horizonte ideal
não for alcançado, ao menos
consigamos diluir o número
de casos através dos meses. Is-
so se justifica pela rapidez da
propagação (e menos pela le-
talidade) dessa infecção, pois
corremos riscos reais de ter
mais pacientes necessitados
de internação do que o núme-
ro de leitos existentes.
Estudo publicado na Science
nesta segunda-feira, Substan-
tial undocumented infection faci-
litates the rapid dissemination
of novel coronavirus, expõe re-
sultados que tornam mais ten-
sas nossas tarefas. Para cada
caso confirmado dessa doen-
ça existem de cinco a dez que
não o são e, embora esses in-
fectados tenham formas clíni-
cas mais brandas (com poten-
cial de transmissão 50% me-
nor que os casos mais explíci-
tos e diagnosticados laborato-
rialmente), são responsáveis
por 80% dos novos casos diag-
nosticados dessa virose.
Portanto, desconfiar de tu-
do e todos e nos protegermos
de nós mesmos é o protocolo
a ser obedecido na virtual blin-
dagem do grupo de maior ris-
co de internação hospitalar e
evolução errática, os nossos
idosos. Todos somos culpa-
dos e não haverá prova em
contrário, salvo se pudésse-
mos testar todos, ou, melhor
ainda, imunizar o planeta.
A desproporção entre o ne-
cessário e o disponível não é
privilégio brasileiro, vê-se que
Itália e Irã provaram (e pro-
vam) amargos goles do cálice
das precariedades estratégicas
e estruturais, bastando alguns
erros para que alcançassem o
caos. A França, o país mais vi-
sitado do mundo, administra-
va a epidemia com aparente
domínio estratégico, mas já
adota sanções duras e talvez
tardias, agora para diluir no
tempo o número de casos, des-
tino que a Inglaterra flerta
com a obrigação de replicar.
A Rússia atinge 93 casos
confirmados e fecha suas fron-
teiras ao menos até 1.º de
maio, mas sabemos pouco de
seus planos, enquanto o Ja-
pão, em um quase desespero
pré-olímpico, se esmera em
estratagemas para conter a
disseminação virótica, mas já
ultrapassa os 800 casos.
Sem carnaval, mas com “oti-
mismo” quase brasileiro, os
Estados Unidos retardaram
seu dimensionamento para o
confronto e, embora alguns
Estados se tenham antecipa-
do, faz pouco que Trump assu-
miu seu papel no dramático
processo. No município de
Nova York, a mais simbólica
ação americana neste cenário,
com seus restaurantes destina-
dos a encomendas entregues
em suas portas ou levadas às
residências dos clientes.
Que não demorem por aqui
condutas que protejam os pro-
prietários de bares, restauran-
tes e afins, para os quais a
obrigatoriedade do fechamen-
to de seus estabelecimentos
legitimará suas inevitáveis so-
licitações de defesas perante
bancos, credores e Estado.
Falta ainda a orientação mi-
diática para ostensivo zelo na
compra e no consumo de fru-
tas e legumes, comumente
manipulados pelos comprado-
res nos comércios desses pro-
dutos e facilmente contamina-
dos e contaminantes.
Desserviço é aproveitar o
fértil solo criado pelas cir-
cunstâncias para cultivar deri-
vações ideológicas, religiosas
e xenofóbicas, as quais nos se-
pararão à saída dos mercados,
onde por alguns minutos ou
horas comungamos o senso
comum da sobrevivência
num comportamento desme-
dido, mas que, se guarda algu-
ma virtude, esta estará no
exercício da soberania exis-
tencial além das posses.
]
DOUTOR EM ENDOCRINOLOGIA
PELA FACULDADE DE MEDICINA DA
USP, É MEMBRO DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA
E METABOLOGIA (SBEM)
Presidente do baile e edito-
ra da Vogue EUA anunciou
medida em um editorial.
http://www.estadao.com.br/e/met
TECNOLOGIA
Startups enfrentam acerto de contas
Com 42 anos, o quarterback
6 vezes campeão, casado
com a modelo Gisele Bünd-
chen, deixa no ar a possibili-
dade de se aposentar.
http://www.estadao.com.br/e/brady
l“Acho uma ótima ideia, uma vez que perdas bilionárias estão aconte-
cendo por conta da irracionalidade!”
EDIR XAVIER
l“Sei que há motivos de liquidez, mas não faz sentido continuar abrindo
se vem circuit breaker atrás de circuit breaker.”
MATHEUS BELARMINO
l“Especuladores não ajudam a economia em nada. A Bolsa que caia.
Deem atenção ao setor produtivo, esse sim gera emprego e renda!”
JOISON SOUZA FIGUEIREDO
l“Nessas horas, descobrimos que a saúde, a vida e estar em casa
com a família é mais importante do que todo o dinheiro do mundo!”
EDUARDO INAGAKI
COMENTÁRIOS
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA
Especialistas recomendam a
limpeza frequente de volan-
te, maçanetas e puxadores
de portas, além da alavanca
de câmbio.
http://www.estadao.com.br/e/carro
Espaço Aberto
O
apoio do presidente
Jair Bolsonaro a si
mesmo nas manifesta-
ções de rua de domingo 15 de
março poderia ser apenas,
por si só, ridículo. Mesmo sen-
do legítimo. E aqui não me re-
firo a golpe, autogolpe ou si-
mulacro de golpe. Faltam-lhe
apoio e base. Em primeiro lu-
gar, porque nada se configura
no horizonte que represente
ameaça nesse sentido. Desse
ponto de vista, os atos seriam
inócuos mesmo que tivessem
superado em adesão as mani-
festações de 2013, que foram
espetaculares, mas não impe-
diram a reeleição de Dilma
Rousseff, codinome de Lula,
do PT, na reeleição de 2014.
Em segundo lugar, porque o
povo, do qual emana todo o
poder, exercido em seu nome,
tem direito de apoiar e criti-
car quem quer que seja em
qualquer ocasião ou circuns-
tância. E qualquer cidadão
brasileiro – o presidente não
seria exceção à regra – pode
convocar a cidadania a apoiar
ou criticar mandatários.
No princípio Bolsonaro limi-
tou-se a compartilhar num
grupo de WhatsApp aviso de
convocação dos atos. O mun-
do desabou sobre sua cabeça,
dando-lhe razão num argu-
mento: os políticos, de quais-
quer partidos e Poderes, têm
medo de povo. E não apenas
por causa do capitão reforma-
do nem de seu governo. Aliás,
os Fundos Partidário e eleito-
ral e as emendas parlamenta-
res para governadores e prefei-
tos correligionários de
chefões partidários usarem
sem fiscalização para finan-
ciar eleições municipais em
outubro e novembro nunca
mereceram oposição cerrada
da cúpula do Executivo. Esta
tem sido repetidamente cúm-
plice dessas iniciativas. Onyx
Lorenzoni, bolsonarista de pri-
meira hora e ex-chefe da Casa
Civil do governo, fez parte da
ampla aliança, que incluiu o
PCdoB, velho e leal aliado do
PT, na eleição de Rodrigo
Maia para a presidência da Câ-
mara. E continua no primeiro
escalão como ministro da Ci-
dadania. A pasta é poderosa e
administra recursos milioná-
rios. Ele ainda lançou outro
correligionário do DEM, Davi
Alcolumbre, a presidente do
Senado, derrotando o emede-
bista Renan Calheiros em elei-
ção fraudada, na qual 81 sena-
dores votaram e 82 votos fo-
ram computados. O líder do
governo no Senado, Fernando
Bezerra Coelho, atua como lí-
der do Senado no governo. E
pelo menos em teoria o povo
se reuniria contra isso.
Portanto, nada há a obstar
sequer à convocação explícita
do presidente para os atos, da
qual depois recuou após cons-
tatar o crescimento exponen-
cial de inoculados pelo coro-
navírus no avião que o levou a
um encontro extemporâneo
com o presidente dos EUA,
Donald Trump, e em aviões
de carreira que levavam ou-
tros membros do grupo.
O que o torna ridículo é
comparecer a atos para apoi-
ar a si mesmo. Nisso lembrou
antecedente que poderia ter
evitado: o de Fernando Col-
lor convocando o povo para
sair de verde-amarelo às ruas
e impedir seu impeachment.
O povo manifestou-se a favor
do oposto, acorrendo às vias
públicas vestindo luto, numa
clara declaração contra. Não
foi o caso desta vez, mas o
chefe do governo poderia ter
evitado a fria de confraterni-
zar com manifestantes parti-
cipando de um apoio a si mes-
mo. Nada disso, contudo, é re-
levante como o aspecto sani-
tário lesivo ao povo e a Deus,
que ele disse serem os únicos
objetos de seu gesto. Por aca-
so ele não terá jurado lealda-
de à Constituição? O povo é a
primeira vítima de uma even-
tual catástrofe sanitária a ser
produzida pela conjunção
perversa da escassa higiene
dos chineses governados por
uma ditadura comunista, do
populismo estúpido da es-
querda italiana e da precarie-
dade da saúde pública brasi-
leira. Ninguém precisa ser
teólogo para duvidar do prin-
cípio universal de quaisquer
religiões monoteístas segun-
do o qual Deus é sempre vida.
Isso quer dizer que, em qual-
quer circunstância, viver, pa-
ra o cidadão, é um direito aci-
ma do de opinar.
Indo ao encontro dos mani-
festantes à porta do palácio, e
ainda levando de testemunha
o presidente da Agência Na-
cional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), Antônio Barra Tor-
res, um reles bajulador que te-
ve a audácia de argumentar
que tinha ido a palácio para
tratar de assuntos particula-
res, Bolsonaro comprova
mais uma vez que governa pa-
ra seus devotos. E não para to-
dos os brasileiros, como deve-
ria ser. Esse é um grave peca-
do cívico.
A primeira epígrafe que me
ocorreu para este artigo foi o
título do célebre tratado his-
tórico sobre guerras escrito
por Barbara Tuchman: A Mar-
cha da Insensatez. Mas Aninha
Franco me lembrou do últi-
mo parágrafo de A Peste, de Al-
bert Camus, que aqui cabe co-
mo uma luva para encerrar:
“Na verdade, ao ouvir os gri-
tos de alegria que vinham da
cidade, Rieux lembrava-se de
que essa alegria estava sem-
pre ameaçada. Porque ele sa-
bia o que essa multidão eufóri-
ca ignorava e se pode ler nos
livros: o bacilo da peste não
morre nem desaparece nun-
ca, pode ficar dezenas de anos
adormecido nos móveis e nas
roupas, espera pacientemen-
te nos quartos, nos porões,
nos baús, nos lenços e na pa-
pelada. E sabia, também, que
viria talvez o dia em que, para
desgraça e ensinamento dos
homens, a peste acordaria
seus ratos e os mandaria mor-
rer numa cidade feliz”. Quem
quiser que ignore a profecia
do Prêmio Nobel de 1957 e es-
pere chegar sua vez.
]
JORNALISTA, POETA E ESCRITOR
PUBLICADO DESDE 1875
LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)
FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO
MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO
MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA
NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIA
CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR:
FALE COM A REDAÇÃO:
3856-
[email protected]
CLASSIFICADOS POR TELEFONE:
3855-
VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL:
3950-
DEMAIS LOCALIDADES:
0800-014-
VENDAS CORPORATIVAS: 3856-
NFL
Tom Brady deixa o
Patriots após 20 anos
Como higienizar o
carro contra covid-
COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:
EFE SERGIO CASTRO/ESTADÃO
]
José Nêumanne
Tema do dia
Atividades incluem banhos
de som, colagem e consulto-
ria energética.
http://www.estadao.com.br/e/trabalho
Coronavírus, a marcha
da insensatez
Apoio de Bolsonaro a si
mesmo é mais perigoso
que tentativa de Collor
de evitar impeachment
O mágico senso comum
da sobrevivência
A desproporção entre
o necessário e o
disponível não é um
privilégio brasileiro
AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)
AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
CEP 02598-900 – SÃO PAULO - SP
TEL.: (11) 3856-2122 /
REDAÇÃO: 6º ANDAR
FAX: (11) 3856-
E-MAIL: [email protected]
CENTRAL DE ATENDIMENTO
AO ASSINANTE
CAPITAL E REGIÕES METROPOLITANAS:
4003-
DEMAIS LOCALIDADES: 0800-014-77-
https://meu.estadao.com.br/fale-conosco
CENTRAL DE ATENDIMENTO ÀS AGÊNCIAS DE
PUBLICIDADE: 3856-2531 – [email protected]
PREÇOS VENDA AVULSA: SP: R$ 5,00 (SEGUNDA A
SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO).
ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO
- SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.
Agentes de mercado
pedem fechamento
das Bolsas de Valores
Após sucessivas perdas no mercado
financeiro, a ideia é ‘esperar o pânico
do coronavírus passar’
]
Antonio Carlos do Nascimento
PRECAUÇÃO
ZUME
No estadao.com.br
NOVA YORK
Met gala é adiado pelo
coronavírus
TRABALHO
Empresas investem
em bem-estar