O Estado de São Paulo (2020-03-20)

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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 20 DE MARÇO DE 2020 Economia B7


O


coronavírus vem pondo à
prova a capacidade de ação
coletiva eficaz nos países afe-
tados. Os que souberam se antecipar
no combate à pandemia, como Ja-
pão, Taiwan e Coreia do Sul, têm mos-
trado desempenho superior ao da
China e da Itália, onde a epidemia
tem sido bem mais devastadora.
Quando a China, afinal, se deu con-
ta da gravidade da crise e anunciou
medidas drásticas de estrito confina-
mento de 60 milhões de pessoas, a
reação inicial do resto do mundo foi
atribuir medida tão extrema à brutali-
dade do regime autocrático chinês. O
que, de fato, fez soar o alarme foi ter a
Itália, semanas depois, adotado medi-

da similar. Mesmo diante das enormes
dificuldades de confinar toda a popula-
ção do país, numa democracia tão com-
plexa, prevaleceu no Parlamento italiano
o cálculo político de que a medida era ine-
vitável. Ficou mais do que claro que tanto
a Itália como a China haviam se dado con-
ta de algo que o resto do mundo ainda
não percebera.
A política de distanciamento social
vem sendo replicada em boa parte da Eu-
ropa e nos EUA. O nome do jogo é conse-
guir atenuar o crescimento exponencial
da disseminação do vírus, de forma a que
o número de casos graves se mantenha
compatível com a limitada capacidade de
tratamento adequado disponível no siste-
ma de saúde. Redistribuir no tempo o im-
pacto da pandemia para impedir que o
sistema de saúde entre em colapso.
O Brasil tem a vantagem de só agora ter
sido atingido pela epidemia. Como late
comer , tem muito a aprender com a expe-
riência dos antecessores. Para levar este

jogo adiante com sucesso será preciso,
em primeiro lugar, claro, que o governo,
especialmente na área federal, saiba
atuar com competência.
Quis o destino ou, quem sabe, um dos
deuses da sorte que, entre tantos ministé-
rios tão mal tripulados, a pasta da Saúde
tenha caído em boas mãos. Tem sido

uma grata surpresa para o País constatar
que o ministro Luiz Henrique Mandetta
e sua equipe parecem estar à altura dos
desafios que terão de ser enfrentados. O
que, sim, preocupa, e vem sendo motivo
de justa e generalizada indignação, é a es-
pantosa leviandade com que o presiden-
te Bolsonaro vem lidando com a questão.

Além de competência do governo, o
sucesso na contenção da epidemia deve-
rá exigir que o País se mostre capaz de
levar adiante, com eficácia, um gigantes-
co esforço de ação coletiva. A política de
distanciamento social só terá os resulta-
dos que dela se espera se puder contar
com apoio maciço da população. E, quan-
to a isso, sobram razões para apreensão.
São bem estudadas, em Economia, as
dificuldades de ações coletivas em gran-
de escala. Muito fáceis de perceber no
caso em pauta. Não há no País quem não
queira que a epidemia seja prontamente
debelada. Mas cada pessoa mostra dispo-
sição distinta de incorrer nos custos que
dela serão requeridos para que isso ocor-
ra. Há quem queira deixar a outros o
ônus do distanciamento. Quem prefira
pautar seu comportamento pela taxa de
mortalidade de pessoas da sua faixa etá-
ria específica. E, ainda, quem considere
proibitivos os custos em que teria de in-
correr para participar desse esforço cole-
tivo. Tudo isso conspira contra a adesão
maciça da população, condição necessá-
ria para que a epidemia seja debelada,
objetivo comum de todos.

Há fatores óbvios a ter em conta pa-
ra entender como diferentes países
podem lidar de forma distinta com o
desafio de ação coletiva envolvido no
combate à epidemia: o nível de coe-
são social, a equidade na distribuição
de renda, as virtudes cívicas da socie-
dade e o grau de discernimento dos
seus cidadãos.
Salta aos olhos que estamos fada-
dos a ter mais dificuldades que a Itá-
lia. É fundamental que, em tempo
hábil, saibamos compensar nossas de-
ficiências em cada um desses fatores,
com campanhas maciças de esclareci-
mento dos menos informados, mitiga-
ção dos custos em que terão de incor-
rer os segmentos mais desfavoreci-
dos da população e, se não for sonhar
demais, articulação de apoio supra-
partidário inequívoco às medidas que
se fazem necessárias à contenção da
epidemia.

]
ECONOMISTA, DOUTOR PELA UNIVERSIDA-
DE HARVARD, É PROFESSOR TITULAR DO
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

Trump compra


petróleo e preço sobe


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NOVA YORK


Os contratos futuros de petró-
leo fecharam com ganhos robus-
tos ontem, mas apenas recupe-
rando parte das elevadas per-
das recentes. Um dia após te-
rem atingido os menores níveis
em cerca de duas décadas, os
contratos já subiam no início
do dia, mas o movimento ga-
nhou força após os Estados Uni-
dos anunciarem uma grande
compra. O petróleo WTI para
maio fechou em alta de 24,39%,
em US$ 25,91 o barril, na New
York Mercantile Exchange, e o
Brent para o mesmo mês subiu
14,43%, a US$ 28,47 o barril, na
Intercontinental Exchange.
O Departamento de Energia
(DoE, na sigla em inglês) anun-
ciou a compra de 30 milhões de
barris de petróleo americano,
para ampliar as reservas estra-
tégicas do país. O órgão ainda
disse que agia rapidamente a
fim de apoiar produtores dos
EUA diante das “potenciais per-
das catastróficas” com os im-
pactos do coronavírus e das
“turbulências” causadas por
atores externos.
Em entrevista coletiva sobre
o combate ao coronavírus, o
presidente americano, Donald


Trump, chegou a comentar bre-
vemente sobre o mercado de pe-
tróleo. Segundo ele, a Arábia
Saudita está “numa luta pelo
preço”, por isso a forte queda
recente. Trump sugeriu que
“no momento apropriado” po-
de se envolver para tentar sus-
tentar os preços, comentando
que a própria Arábia Saudita era
prejudicada pela situação, bem
como a Rússia.
Os sauditas decidiram elevar
sua produção após a Organiza-
ção dos Países Exportadores de
Petróleo e aliados não chegarem
a um acordo sobre mais um cor-
te na oferta, diante da resistên-
cia de Moscou a dar esse passo.
Com o choque na oferta e as
divergências políticas, o Julius
Baer cortou sua perspectiva pa-
ra o preço da commodity, ava-
liando que as economias do Oci-
dente caminham para “uma pa-
ralisação temporária”, enquan-
to a China já dá sinais de recupe-
ração. “Baseando-se na evidên-
cia de que uma recessão é inevi-
tável, reduzimos nossas proje-
ções para US$ 32,50 o barril em
três meses e US$ 45 em 12 me-
ses”, diz o banco em relatório,
referindo-se ao tipo Brent.
A agência Fitch também redu-
ziu sua expectativa para o preço
do petróleo. Ela projeta agora
que o Brent fique em média a
US$ 41 o barril em 2020 – em
dezembro previa US$ 62,50. Pa-
ra 2021, espera em média US$
48 para o barril do Brent, de US$
60 anteriormente. / AGÊNCIAS
INTERNACIONAIS

Opinião


Presidente americano
ainda sugeriu que pode


se envolver para tentar


sustentar preços ‘no


momento adequado’


O desafio da ação coletiva


Após o caos dos últimos dias, o
mercado financeiro teve um dia
de trégua ontem, acompanhan-
do o cenário internacional. A B3
subiu 2,15%, para 68.331 pontos,
e o dólar recuou 1,8%, para R$
5,10. Como tem sido rotina, o
dia foi de anúncios de uma série
de ações de bancos centrais e de
governos do mundo inteiro pa-
ra amenizar os efeitos do coro-
navírus na economia.
Nos Estados Unidos, o presi-
dente Donald Trump afirmou
que o governo pode assumir
uma parte das ações de empre-
sas que precisem de ajuda finan-


ceira. A presidente do Banco
Central Europeu (BCE), Chris-
tine Lagarde, mostrou-se dis-
posta a ampliar a compra de ati-
vos da instituição. E o Banco
Central da Inglaterra voltou a
cortar juros. Além disso, o Fede-
ral Reserve (Fed, o banco cen-
tral americano) tornou disponí-
vel uma linha de swap cambial
de US$ 60 bilhões para nove paí-
ses, incluindo o Brasil.
A medida amplia a liquidez
em dólar para o mercado do-
méstico em um momento de saí-
da de capital externo da econo-
mia brasileira. O anúncio aju-

dou a aliviar a pressão na cota-
ção do dólar ante o real. A moe-
da americana teve a maior que-
da porcentual desde janeiro de
2019, também influenciada pe-
la intervenção do BC brasileiro
com três leilões durante o dia.
Um dirigente do Fed, por sua
vez, disse esperar uma estabili-
zação dos mercados em uma ou
duas semanas. O secretário-ge-
ral da Organização para Coope-
ração e Desenvolvimento Eco-
nômico (OCDE), José Ángel
Gurría, no entanto, declarou
que os efeitos econômicos da
pandemia devem durar mais.

“O mundo está tomando a di-
reção de ‘vamos fazer tudo o
que precisar e mais um pouco’”,
afirma Luiz Fernando Figueire-
do, sócio da Mauá Capital e ex-
diretor do BC. “Os governos es-
tão usando um enorme arsenal,
praticamente sem fazer a conta
do impacto fiscal.” Hoje, diz
ele, foi uma boa indicação, com
mercados oscilando pouco, não
caindo 10%. “Se ficar assim al-
guns dias vai ajudar muito.”
Nesse ambiente, a B3 e as Bol-

sas mundiais terminaram em
terreno positivo. Em Nova
York, o índice Dow Jones avan-
çou 0,95%; o S&P 500 registrou
alta de 0,47%; e o Nasdaq subiu
2,30%, depois de ter acelerado
quase 5% durante o pregão.
Na Europa, o índice DAX da
Alemanha subiu 2%; o FTSE de
Londres, 1,4%; o MIB de Milão,
2,29%; e o CAC 40 de Paris,
2,68%. O bom humor dos inves-
tidores ontem, no entanto, não
é garantia de que hoje os merca-

dos vão continuar no campo po-
sitivo. “Estamos vivendo uma
crise sem precedentes. Tudo
que falarmos hoje pode mudar
amanhã”, diz Gustavo Cruz, da
RB Investimentos.
Para a Capital Economics,
consultoria britânica, o Fed ain-
da pode fazer mais, como uma
solicitação às autoridades ame-
ricanas para que possa comprar
uma gama mais ampla de ati-
vos. / RENÉE PEREIRA, ALTAMIRO
SILVAJUNIOR e IANDER PORCELLA

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l]


ROGÉRIO L.
FURQUIM
WERNECK

Com bancos centrais e governos do mundo todo anunciando ações


para conter efeitos do coronavírus na economia, B3 sobe 2,15%


Mercado vive dia


de trégua e Bolsas


fecham em alta


Previsão do governo para o PIB deve ficar em zero. Pág. B8}


No combate à epidemia do
novo coronavírus, estamos
fadados a ter mais
dificuldades que a Itália

Dólar

EM REAIS

Ibovespa

EM PONTOS

2
JAN
2020

3
FEV

40.000

80.000

120.000

160.000

4,0000

4,5000

5,0000

5,5000

2
MAR

19

5,1023

68.332

VARIAÇÃO
NO DIA
2,15%
-1,83%

NO ANO
-40,91%

27,18%

Bolsa

Dólar
118.573

4,0242

VAIVÉM

FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO
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