Saudade e tristeza, tudo junto e
misturado.Sina.
Mas a saudadeé e pode cobrir o
coração da gente como lembrança
grata e não apenas como mágoa mal
curada ou ressentimento perene.
Saudade existe para acender um
instanteagradáveldealgo,dealguém,
de coisas que marcaram a vida.
Saudade é bom. Pode e deve ser
sentidaeregadapelasórbitasdonosso
universo.
Quando meupai faleceu háquase
duasdécadas,grandecompanheirode
vida,conversas, humoreconfidências,
tive muita cautela em comunicar às
minhas filhas a partida de um avô
brincalhão epresente.Umacomnove
anoseoutracomtrês.Resolvisuscitar
umtruqueetrazeràtonaahistóriade
que“ovovôagoravirouumaestrelae
quando vocês quiseremfalar comele,
basta olharem o céu e conversarcom
ele,eblá,blá,blá...”.Amais nova me
olhouséria edisse:“nãoquero queo
vovô vire estrela”. Emudeci. Também
nãoqueria.Nãofuiconvincente.Nema
mim.Elasforammaissensatasdoqueo
adultoqueagoraescreve.
Sintofaltadomeupai?Dosabraços
calorosos,dasrisadassoltas,dosóculos
penduradosnapontadonarizeolivro
nas mãos, do bolo no meio da tarde
quechegavaaindaquenteaomeulocal
de trabalho, da pizza de escarola
compradaporengano?Não!
Sintosaudade.
O poeta Carlos Drummond de
Andrade dizia: “saudade pode; sentir
falta é um problema”. Um fardo. Um
embrulhopenoso.
Quando sentimos falta de alguém
oudealgoparaquenossavidapossase
articularcomboasaúdefísica,mentale
espiritual, aí temos que recalcular as
colunas de perdas e ganhos da nossa
planilha. Ônus e bônus. A balança
possuidoispratos.Equilíbrio.Equidade.
Maspodechorar?
Devemos!
Asaudadepermite.
E vai aqui a sugestão para este
verão: aproveite a chuva do final da
tardepara mesclaraslágrimascomos
pingos no meio da rua. Não choveu?
Entregue-se à torrente do chuveiro.
Desmantele-seemprantosnovidrodo
box ou aos transeuntes da calçada.
Ninguém vai notar. Só você vai
percebererejuvenescer.
Asaudadeédelicada.Sefazdoce.
Como o sol do final da tarde sem
intençãodequeimaraface.Aastro-rei
acariciaasbochechas.Nempermite