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A16 QUINTA-FEIRA, 26 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Esportes
Raphael Ramos
O adiamento dos Jogos Olím-
picos de Tóquio por causa da
pandemia do coronavírus vai
obrigar o Comitê Olímpico
Internacional (COI) a buscar
soluções para readequar a
competição. A nova data, por
exemplo, ainda não foi esco-
lhida. O que está certo é que o
evento tem de ser realizado
até o verão japonês de 2021.
Ontem, o presidente do COI,
Thomas Bach, classificou a defi-
nição da nova data como uma
“questão muito desafiadora”.
Ele espera que essa decisão seja
tomada rapidamente.
Algumas questões já foram re-
solvidas. A Wada (Agência Mun-
dial Antidoping) definiu que
quem está suspenso por doping
e tiver cumprido a sua pena até
o novo período classificatório
estará apto a competir na Olim-
píada. Enquanto isso, Fifa e
COI estudam uma possível per-
missão de mudança do teto de
idade no torneio masculino de
futebol para que atletas que
completarem 24 anos em 2021
possam participar do evento.
Mas ainda há muito trabalho
pela frente, para encontrar solu-
ções para diversas situações.
Eis algumas delas:
Ingressos
Só para residentes no Japão fo-
ram vendidos 4,48 milhões de
ingressos de um aporte total de
7,8 milhões. No sorteio para ver
quem era contemplado com o
direito de comprar entradas, 7,
milhões de pessoas se inscreve-
ram. Com o adiamento, as entra-
das agora serão redefinidas pa-
ra as novas datas.
Calendário
O COI terá de encaixar os Jogos
em uma agenda esportiva de
2021 já sobrecarregada com
Mundiais de Atletismo e Nata-
ção, além da Eurocopa e a Copa
América, que também foram
adiadas. As Federações Interna-
cionais de Atletismo e Natação,
no entanto, já anunciaram que
estão dispostas a colaborar pa-
ra criar um espaço no calendá-
rio para os Jogos, modificando
seus respectivos Mundiais.
Hospedagem
Outro desafio é a disponibilida-
de do parque hoteleiro de Tó-
quio e dos grandes centros de
congressos que deveriam, por
exemplo, hospedar a central de
mídia. É possível que os Jogos
ocorram não mais no verão do
Japão, e sim na primavera, pe-
ríodo considerado bom do pon-
to de vista climatológico, evitan-
do o forte calor que levou o COI
a mudar a maratona e a marcha
de Tóquio para Sapporo.
Arenas
A única instalação em Tóquio
que ainda não foi testada pelos
atletas é o Centro Aquático, que
teve adiada sua inauguração
por causa da pandemia. O local
será uma estrutura permanen-
te e custou R$ 2,6 bilhões.
Para os Jogos de Tóquio, es-
tão previstas 43 instalações, al-
gumas construídas para a com-
petição e outras temporárias.
Com a mudança de data, even-
tos terão de ser reagendados ou
cancelados. É o caso, por exem-
plo, do novo Estádio Olímpico,
com capacidade para 68 mil es-
pectadores, que receberia
shows e outros campeonatos
após o evento olímpico.
Vila Olímpica
São 21 torres de 14 a 18 andares,
com vistas para a baía de Tó-
quio. Abrigará 11 mil atletas e
membros das delegações. De-
pois dos Jogos, 4.145 apartamen-
tos serão vendidos ou alugados
para a população. O atraso na
transformação do local coloca
em dúvida contratos de proprie-
dade já assinados. Um primeiro
lote, com 940 imóveis, está ven-
dido desde o ano passado.
Impacto econômico
O adiamento é uma enorme dor
de cabeça logística para o Ja-
pão, que investiu US$ 12 bilhões
(quase R$ 70 bilhões) no even-
to. O impacto total da mudança
está sendo avaliado, pois será
necessário negociar com locais
de treinamento, empresas de lo-
gística e outros fornecedores.
Os organizadores tentarão cor-
tar custos sem prejudicar o re-
sultado final. De acordo com o
jornal japonês Nikkei, o custo
adicional pode chegar a US$ 2,
bilhões (R$ 13 bilhões).
Time Brasil
A delegação brasileira tem, até
o momento, 178 atletas classifi-
cados para os Jogos. A expectati-
va do COB é que o Time Brasil
tenha até 300 atletas. Com o
adiamento, ainda não estão defi-
nidas como serão as seletivas
olímpicas que estavam agenda-
das para esse ano. Nos próxi-
mos dias, o COI deve anunciar
as novas regras de classificação.
Paralimpíada
Os Jogos Paralímpicos, que tra-
dicionalmente ocorrem depois
da Olimpíada, também foram
adiados. O Comitê Paralímpico
Brasileiro comemorou a deci-
são e colocou à disposição dos
órgãos de saúde o CT Paralímpi-
co, em São Paulo, para ajudar
no combate ao coronavírus e no
atendimento aos doentes.
estadao.com.br/e/teccorinthians
E
ntendo que muitas pessoas estão
ansiosas, querendo que o COI (Co-
mitê Olímpico Internacional) anun-
cie detalhes sobre o adiamento dos Jogos
de Tóquio, principalmente em relação à
nova data. Mas, nesse momento, existe
uma união na comunidade esportiva para
que qualquer decisão provoque o menor
prejuízo possível. Digo isso porque serão
inevitáveis as perdas. É preciso ter cons-
ciência de que todo mundo vai perder: atle-
tas, o setor de hotelaria, empresas aéreas,
torcedores, os donos dos apartamentos da
Vila Olímpica... A decisão de adiar os Jo-
gos, no entanto, foi acertada porque a hu-
manidade está passando por um momento
de extrema cautela.
Não podemos ser passionais. É impor-
tante ouvir todas as partes e ter calma por-
que uma Olimpíada não envolve apenas a
comunidade esportiva, mas também as
áreas econômica, social e governamental.
Repito, o desafio é encontrar uma forma
de prejudicar o menos possível. Os atletas,
por exemplo, vão ter de mudar treinamen-
tos e se programarem novamente porque
estamos em um ano pré-olímpico, e não
mais olímpico. Seria uma injustiça se a
Olimpíada fosse realizada em julho deste
ano. Afinal, enquanto os atletas chineses
já voltaram aos treinos, na Europa, Améri-
ca do Sul e Estados Unidos as pessoas mal
podem sair de casa.
O movimento olímpico vai ter de supe-
rar essa situação, como já superou em ou-
tros momentos guerras e boicotes. O coro-
navírus é uma novidade e nós vamos ter de
nos adaptar.
]
EX-JOGADOR DE VÔLEI, MEMBRO DE COI
A Secretaria Especial do Espor-
te do Ministério da Cidadania
garantiu que os programas Bol-
sa Atleta e Bolsa Pódio não se-
rão afetados pelo adiamento da
Olimpíada. Em resposta ao Es-
tado, a secretaria também afir-
mou que nenhuma verba do es-
porte será realocada para o Mi-
nistério da Saúde ou outra área
do governo federal para ajudar
no combate à covid-19.
“Não há previsão de remane-
jamento de recursos da Secreta-
ria Especial do Esporte do Mi-
nistério da Cidadania para ou-
tras pastas do governo federal.
Também não estão previstos
cortes nos valores das seis cate-
gorias vigentes do Programa
Bolsa Atleta (Pódio, Olímpi-
ca/Paralímpica, Internacional,
Nacional, Estudantil e Atleta de
Base)”, afirmou a pasta.
Segundo o ministro da Cida-
dania, Onyx Lorenzoni, além
de manter o pagamento do Bol-
sa Atleta e do Bolsa Pódio, a pas-
ta estuda formas de adaptar os
termos da prestação de contas
dos benefícios, para se ajustar à
realidade atual. “O programa
Bolsa Atleta, para o governo Bol-
sonaro, é uma permanente fer-
ramenta de formação e aprimo-
ramento de atletas brasileiros,
independentemente de seu ní-
vel. Será sempre mantido e am-
pliado”, disse Lorenzoni.
No final de 2019, o governo
federal divulgou o investimen-
to de R$ 84,2 milhões no Bolsa
Atleta em 2020, contemplando
6.248 atletas que integram os
programas dos Jogos Olímpi-
cos e Paralímpicos. Todos os es-
portes estreantes no evento
compõem a relação. / RICARDO
MAGATTI, ESPECIAL PARA O ESTADO
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Daniel Alves faz crítica a
Bolsonaro por pandemia
Tinga nega participação
no discurso do presidente
Governo garante que adiamento
não vai afetar o Bolsa Atleta
Jogos de Tóquio. Adiamento vai implicar em alteração de regulamentos, de critérios de classificação e terá impacto nas finanças
O meia Daniel Alves, do São Pau-
lo, criticou duramente o presi-
dente Jair Bolsonaro por sua po-
sição sobre a pandemia do coro-
navírus. O jogador pediu a Bol-
sonaro que não menospreze a
doença e respeite o pedido de
quarentena feito pela Organiza-
ção Mundial de Saúde (OMS).
“Senhor presidente, respeito
muito a sua presidência, respei-
to muito a vossa senhoria, mas
são muitas famílias e muitas
pessoas trabalhando em prol
do combate a essa pandemia e o
senhor, como a pessoa mais im-
portante desse país, deveria
também prezar pelo bem do
nosso país e do nosso povo”, es-
creveu nas redes sociais o joga-
dor, que em outros momentos
já havia demonstrado apoio ao
presidente.
“É um momento muito difícil
para o mundo e para nossa po-
pulação, não devemos desfazer
dessa situação, sobretudo se
não temos cura para ela. Como
um humilde cidadão, eu venho
expressar a minha opinião, pois
não quero viver sem poder com-
partilhar momentos com as pes-
soas nem viver com medo de-
las!’’, acrescentou o atleta, que
tem mais de 30 milhões de segui-
dores no Instagram.
O ex-jogador Tinga afirmou on-
tem que não teve participação
no conteúdo do pronunciamen-
to do presidente Jair Bolsonaro
feito em rede nacional na terça-
feira. O ex-meia de Grêmio, In-
ter e Cruzeiro disse, em nota,
que esteve com Bolsonaro na
terça à tarde em um encontro
informal e não abordou qual-
quer conteúdo sobre as futuras
declarações do presidente. Seu
encontro com integrantes do
governo que ajudaram a elabo-
rar o discurso despertou críti-
cas nas redes sociais.
O pronunciamento de Bolso-
naro sobre o combate brasileiro
à pandemia do novo coronaví-
rus gerou polêmica no País por
ter ido de encontro às recomen-
dações médicas, inclusive do
seu ministro da Saúde.
Segundo comunicado envia-
do pela assessoria de Tinga, ele
se reuniu com o ministro da Ci-
dadania, Onyx Lorenzoni, a fim
de conversar sobre futebol e
questões sociais. Depois, houve
uma conversa com Bolsonaro
no gabinete da Presidência.
“Nosso encontro não fazia parte
da agenda presidencial. Nos pou-
cos minutos em que estive no
gabinete, conversamos apenas
sobre amenidades”, diz a nota.
NA WEB
Cobiça. Tiago
Nunes diz que
querem seu lugar
6
União é para que as
decisões provoquem o
menor prejuízo possível
]ANÁLISE: Bernard Rajzman
Onyx Lorenzoni, ministro
da Cidadania, diz que os
pagamentos serão feitos
e que haverá adaptação
na prestação de contas
FRANCK ROBICHON/EFE
Mudança impõe desafio à Olimpíada
JACK TARRANT/REUTERS JACK TARRANT/REUTERS
Fica para
depois.
Estádio
Olímpico
está pronto,
mas Centro
Aquático
teve
inauguração
adiada e
prédios da
Vila vão
ficar vazios
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