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A4 SÁBADO, 28 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
COLUNA DO
ESTADÃO
Política
»Amor... Marco Aurélio
Mello, ministro do STF, vo-
calizou sua preocupação:
“O momento é de serenida-
de, temperança, compaixão,
compaixão. Não podemos
acirrar os ânimos. Isso é
muito ruim”.
»...ao próximo. “A socieda-
de está sofrendo. Vamos
esperar que a ficha caia e
ele perceba, compreenda o
contexto que nós estamos
atravessando, uma crise
muito forte, é o que espera-
mos do presidente da Repú-
blica”, disse o ministro.
»Fique em casa. Sobre as
regras de isolamento, Mar-
co Aurélio acha que elas
são “a única forma de se
conter o vírus”. “No conta-
to direto, não sei o que ha-
verá”, completou.
»Basta? Em grupos priva-
dos de políticos, foi intensa
a troca de mensagens sobre
a necessidade de se estabe-
lecer um limite à escalada
do presidente, não apenas
retórica, mas, agora, tam-
bém, prática.
»Mais um. A OAB protoco-
lou denúncia no TCU con-
tra o Planalto por causa do
vídeo com o slogan “O Bra-
sil não pode parar”. O PSB
e o ex-ministro da Saúde
Alexandre Padilha (PT)
também acionaram o tribu-
nal. O governo Bolsonaro
nega que tenha sido o autor
da peça publicitária.
»Direto... A filiação de Flá-
vio Bolsonaro ao Republica-
nos é pragmática. Além de
seguir o irmão, Carlos, e a
mãe, Rogéria, o senador vol-
ta a ter direito de participar
de comissões no Senado.
»...e reto. Também ajuda o
partido no caminho para
obter liderança na Casa. O
Republicanos tem dois sena-
dores: Flávio (RJ) e Mecias
de Jesus (RR). Falta um pa-
ra ter direito a líder.
»Luz. O presidente da São
Paulo Negócios, Aloysio Nu-
nes, reuniu 12 pequenos e
médios empresários e ou-
viu deles a grande preocupa-
ção: obter crédito para capi-
tal de giro. “Muitos não sa-
bem como manter os em-
pregos e pagar as contas”,
disse Nunes. A agência ini-
ciou programa em busca de
soluções contra a crise.
»Em casa. O Ministério
Público deve acompanhar o
Judiciário no trabalho a dis-
tância: Otávio Luiz Rodri-
gues determinou as novas
regras liminarmente, mas já
encaminhou para Augusto
Aras minuta regulamentan-
do o home office.
»Data venia... Com a Justi-
ça praticamente parada,
grandes advogados do País
aproveitam algum tempo
livre no confinamento para
deixar o “juridiquês” de la-
do e trocar impressões so-
bre música, artes em geral e
jogos nos grupos criados
pelo coletivo Prerrogativas.
»...liga o som. Segundo
colegas, o criminalista Fá-
bio Tofic, por exemplo, é
dos mais ativos na turma
da música. Kakay, Flávia
Rahal, Pedro Carriello e
Marco Aurélio de Carvalho
também participam dos fó-
runs de debate.
COM MARIANA HAUBERT
E MARIANNA HOLANDA
Q
uando o País ainda buscava assimilar as medidas
anunciadas por Paulo Guedes, Jair Bolsonaro mini-
mizava mortes pela covid-19 e deixava atônitos os
mundos político e jurídico. Em contraste com a atuação
da Economia e da Saúde (diligentes quanto à importância
e ao efeito da quarentena), o presidente confirmou para
governadores e parlamentares ouvidos pela Coluna que
há método na cacofonia: manter fãs mobilizados na “guer-
ra cultural” enquanto ministros atuam. Ontem, porém,
cresceu a sensação de que ele rompeu todos os limites.
Contradições e ‘guerra
cultural’ do presidente
ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
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KLEBER SALES/ESTADÃO
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Marcos Camargo
ABERTURA DO COMÉRCIO
A tendência na
maioria dos
Estados é abrir, é
flexibilizar (atividades
e serviços).”
USO DE ESTATÍSTICAS
Não tem que
procurar
números de fora do
Brasil para justificar
medidas aqui dentro.”
ISOLAMENTO SOCIAL
O vírus vai
aparecer;
você não pode
simplesmente se
isolar.”
‘Infelizmente algumas
mortes terão. Paciência’
l O Grupo de Resposta à Co-
vid-19 do Imperial College de
Londres – que tem feito proje-
ções matemáticas do cresci-
mento da pandemia quase em
tempo real – mostra que o im-
pacto da doença vai atingir em
cheio o Brasil, assim como
ocorre com outros países no
mundo. Segundo a projeção
publicada na quinta-feira, ao
menos 44 mil brasileiros de-
vem morrer em decorrência da
covid-19 se o isolamento não
for ampliado com urgência. Se
apenas os idosos ficarem sem
sair de casa, como defende Bol-
sonaro, o número de mortes
sobe para mais de 529 mil. Da-
dos dessa instituição incentiva-
ram Reino Unido e EUA, a ado-
tar medidas mais severas.
PREVISÃO DE MORTES
(Previsão de
mortes no
Brasil) é chute;
tentativa de quebrar
nosso negócio.”
»SINAIS
PARTICULARES.
Fábio Tofic,
advogado
criminalista
PRONTO, FALEI!
l De acordo com a Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS),
além de pesquisadores e infec-
tologistas brasileiros, o isola-
mento é uma das melhores
estratégias para mitigar o es-
trago causado pelo vírus, pois
reduz a velocidade com que a
população adoece, permitin-
do que o sistema de saúde te-
nha chances de dar conta do
recado. Se a população adoe-
cer mais rapidamente, os hos-
pitais ficarão cheios e vão fal-
tar equipamentos para quem
precisar. Segundo a Socieda-
de Brasileira pelo Progresso
da Ciência (SBPC), estudos
têm mostrado que o isolamen-
to social ajuda a conter o cres-
cimento o acelerado do núme-
ro de pessoas afetadas.
O QUE ELE DISSE
BRASÍLIA
No dia seguinte ao lançamen-
to da campanha do governo
intitulada “O Brasil não pode
parar”, o presidente Jair Bol-
sonaro cobrou o fim da qua-
rentena para deter o corona-
vírus, mesmo admitindo que
o País contabilizará mortes
por causa da doença. “Vamos
enfrentar o vírus. Vai chegar,
vai passar. Infelizmente algu-
mas mortes terão. Paciência,
acontece, e vamos tocar o bar-
co. As consequências, depois
dessas medidas equivocadas,
vão ser muito mais danosas
do que o próprio vírus”, disse
Bolsonaro em entrevista ao
apresentador José Luiz Date-
na, no programa Brasil Urgen-
te da TV Band.
Medidas equivocadas, na ava-
liação do presidente, são ações
de isolamento social, como o fe-
chamento do comércio e de es-
colas. A estratégia defendida pe-
lo Planalto vai na contramão do
esforço mundial para o comba-
te à propagação da doença e aca-
bou levando Bolsonaro a um
embate com governadores que
já dura quase uma semana. En-
quanto alguns Estados segui-
ram o posicionamento do presi-
dente e flexibilizaram ontem a
restrição ao funcionamento do
comércio, o governador de São
Paulo, João Doria (PSDB) vol-
tou a defender o isolamento. “O
mundo inteiro está errado e o
único certo é o presidente Jair
Bolsonaro?” (mais informações
na pág. A10)
O governador do Rio de Janei-
ro, Wilson Witzel (PSC), afir-
mou que é preciso que o presi-
dente “entenda a gravidade do
contágio do coronavírus no Bra-
sil.” “Não é hora para brincadei-
ras, não é hora de política, não
há espaço para isso”, afirmou.
Houve também reações da so-
ciedade civil. Uma nota conjun-
ta assinada por Conferência Na-
cional dos Bispos do Brasil
(CNBB), Ordem dos Advoga-
dos do Brasil (OAB), Academia
Brasileira de Ciências (ABC) e
outras entidades pede para a po-
pulação ficar em casa, “respei-
tando s recomendações da ciên-
cia, dos profissionais de saúde e
da experiência internacional.”
Apesar das críticas sofridas
após o pronunciamento em re-
de nacional de rádio e TV na ter-
ça-feira, quando tratou a pande-
mia do coronavírus como “uma
gripezinha”, Bolsonaro seguiu,
na entrevista de ontem, a mes-
ma linha da campanha publicitá-
ria, pedindo que as pessoas reto-
mem suas atividades. “O brasi-
leiro quer trabalhar, esse negó-
cio de confinamento aí tem que
acabar. Temos que voltar às nos-
sas rotinas. Deixem os pais, os
velhinhos, os avós em casa e va-
mos trabalhar”, insistiu. “Al-
guns vão morrer? Vão morrer,
lamento, essa é a vida. Não po-
demos parar fábricas de auto-
móveis porque têm 60 mil mor-
tes no trânsito por ano.”
A divulgação da campanha do
governo e as constantes críticas
de Bolsonaro ao isolamento so-
cial levaram grupos que o apoi-
am a organizar carreatas em ao
menos seis Estados para pedir o
fim das medidas restritivas. Por
meio das redes sociais, esses
grupos pretendem pressionar
prefeitos e governadores a reve-
rem suas medidas (mais infor-
mações na pág. A10). No fim do
dia, houve registros de panela-
ços contra o presidente.
Bolsonaro defende seu ponto
de vista argumentando que as
pessoas correm o risco de per-
der o emprego se o período de
quarentena for prolongado, por-
que a economia já está parando.
“O que vai acontecer com o Bra-
sil? Vão quebrar o Brasil por cau-
sa do vírus.” Segundo ele, a solu-
ção para o Brasil é deixar “os
velhinhos em casa” e retomar o
trabalho, conforme afirmou na
entrevista a Datena.
Números. Durante o progra-
ma de TV, Bolsonaro colocou
em dúvida o uso de estatísticas
mundiais para se proteger con-
tra o avanço da covid-19, ao di-
zer que “não tem que procurar
números de fora do Brasil para
justificar medidas aqui den-
tro”. Um estudo do Imperial
College de Londres publicado
anteontem mostra que ao me-
nos 44 mil brasileiros devem
morrer em decorrência da co-
vid-19. Se apenas idosos fica-
rem isolados, o número de mor-
tes sobe para 529 mil (mais infor-
mações na pág. A16).
“No mundo todo tem umas
20 e poucas mil pessoas (mortas
por covid-19). Então porque 400
mil no Brasil? Não, eu não acre-
dito. Isso é chute”, disse. O pre-
sidente também colocou em
dúvida o número de casos do
coronavírus em São Paulo.
“Não estou acreditando nos nú-
meros”, declarou. / JULIA LINDNER
e CAMILA TURTELLI
Campanha eleva tensão política no País. Pág. A10}
“Servidores públicos da Lava Jato recuperaram R$ 1,
bi que vão ajudar a combater a pandemia. Mas quem
quer rifar o Brasil chama o servidor de parasita.”
Presidente da Associação Nacional dos Peritos da PF
Justiça do Rio tira
igrejas e lotéricas de
atividades essenciais
lO juiz federal Márcio Santoro
da Rocha suspendeu trecho do
decreto do presidente Jair Bolso-
naro que permitiu que igrejas e
casas lotéricas fiquem abertas
durante a situação de emergên-
cia em decorrência do coronaví-
rus. O magistrado da 1ª Vara de
Duque de Caxias (RJ) ainda deter-
minou que o governo federal se
abstenha de adotar medidas sem
seguir recomendações da lei fe-
deral que dispõe sobre o enfren-
tamento ao coronavírus. Para o
juiz, “considerar como essen-
ciais atividades religiosas, lotéri-
cas é ferir de morte a coerência
que se espera do sistema jurídi-
co”. / LUIZ VASSALLO
»CLICK. A votação vir-
tual da Câmara nesta se-
mana teve o plenário pra-
ticamente vazio enquan-
to Rodrigo Maia usava
diversos dispositivos pa-
ra conduzir a sessão.
Reprodução/ Câmara dos Deputados
DIDA SAMPAIO/ESTADAO -25/3/
Após governo lançar campanha ‘O Brasil não pode parar”, Bolsonaro admite que covid-
fará vítimas fatais no País, mas volta a cobrar o fim da quarentena e abertura do comércio
Crítica. Para presidente, fechamento de lojas e escolas por Estados é medida ‘equivocada’
l O Ministério da Saúde in-
formou ontem, um mês de-
pois do primeiro caso de co-
ronavírus confirmado em
território nacional, que hou-
ve 92 mortes por covid-19 no
Brasil, e 3.417 pessoas foram
contaminadas. A taxa de leta-
lidade do novo coronavírus
no território brasileiro é de
2,7%, segundo o ministério.
Com base nas projeções de
pessoas que serão contami-
nadas e na taxa de mortes, é
possível estipular a quantida-
de de mortos no País. Técni-
cos do Ministério da Saúde e
de secretarias estaduais da
área usam essas estimativas
para planejar políticas públi-
cas de resposta ao avanço do
vírus.
l Por enquanto, apenas Ron-
dônia, Roraima e Mato Gros-
so optaram por reabrir o co-
mércio, aos poucos. O gover-
no de Santa Catarina autori-
zou o funcionamento de ati-
vidades de suporte para dis-
ponibilização de insumos,
com entrega a domicílio. De-
mais Estados e capitais man-
tiveram as restrições adota-
das desde a semana passada,
inclusive São Paulo e Rio,
onde restaurantes, por exem-
plo, podem funcionar em
esquema de delivery. Na últi-
ma quarta-feira, após reu-
nião virtual, 24 governado-
res reiteraram os procedi-
mentos de isolamento adota-
dos para conter a pandemia
do novo coronavírus.