se fumavam nas festas dos óbitos a que os defuntos assistiam de olhos abertos, sentados
junto ao soba, envoltos num pano do Congo coberto de moscas e larvas e nisto o miúdo
ao meu lado de repente
- Pai
no meio dos tambores e das danças, ele - Pai
apenas, sem entoação alguma, quase encostado a mim, se mudava de sítio ele
mudava de sítio, se caminhava ele caminhava ao meu lado, se tinha de sair para a mata
apertava o pescoço de um tropa qualquer passando-lhe a gê três diante da cara - Se ele não estiver quando eu voltar pagas tu
ainda hoje não sei por qual razão, sentia-me só talvez e era como ser dono de um
bicho que embora não falasse sempre era melhor que nada, o meu pai herdou a cadela
do meu avô para caçar, eu tive que disparar uma rajada nas costas do preto que levava
o miúdo para ficar com ele, bati no seu peito, bati no meu como os angolanos fazem, o
garoto olhou-me e pronto, um dos meus camaradas - O miúdo vai empestar a barraca
mas depois de um soslaio retraiu-se, desistiu, um porco é esfaqueado amanhã e eu
numa coluna para o Chiúme com o Pedro Afamado nos arbustos das máscaras, o melhor
é deixá-lo comer afastando os outros animais ao mostrar-lhes os dentes, a minha mulher
assustada - Fizeste uma cara tão furiosa agora
e eu a afastá-la com o focinho, a empurrá-la com o flanco, a subir para a mercedes
com um furriel com uma gê três e o cabo que vigiava a mata por mim, lutando contra a
vontade de poisar a cabeça no peito da minha mulher, lhe acariciar o pescoço, lhe pedir - Desculpa
impedindo que ela morresse a apontar a walter ao médico - Não quero nenhuma pedra dentro da minha esposa cure-a
de forma a voltarmos a passear no bairro a seguir ao jantar, em agosto, demorando-
nos diante das montras já apagadas enquanto a noite, enquanto ainda não a noite,
enquanto nós dois apenas, enquanto os teus pés caminhavam também dentro de mim
numa leveza secreta enquanto te explicava em silêncio - Nunca te disse mas eu
enquanto cochichava - Acho que tive sor
enquanto me esforçava por segredar-te - Amor
e não era capaz de segredar-te - Amor
nunca fui capaz, imagine-se que porra, de segredar - Amor
explicado assim parece idiota, desculpa, mas eu - Amor
mesmo, juro-te que - Amor