isto não a sorrir, a sério, pegando-me com dois dedos e deixando-me cair, de lábio
do desprezo saído
- Um trapito
e um trapito de fato, uma espécie de vermezinho envergonhado que escondi na mão
rezando na esperança que ele ganhasse vida com o exercício e não ganhou, encolhia,
tudo encolhia em mim, o orgulho, o estômago, a capacidade de pensar enquanto a
humilhação aumentava, nunca haveria uma mulher na minha cama gritando - Ai Carlos ai Carlos
nunca tive a lata de oferecer, triste do meu volume íntimo, o lixo da minha
publicidade aos vizinhos, tumama tchituamo, lelo kundjanhire, fragmentos de diálogos
antigos escutados sei lá onde ou seja claro que sei, em África, apenas ignoro o que
significam e como chegaram aqui, homens a fumarem de uma só cabaça com água que
passavam entre eles, mulheres cavando a terra com um sachinho enquanto um fulano
de espingarda surgido dos caniços de milho lhes falava, a cabra aflita à qual meia dúzia
de cães iam despindo a pele, gostava de despir assim Sua Excelência mordendo-lhe o
pescoço - Diz ai Carlos ai Carlos
ela a cambalear agradecida, feliz - Vocês pretos
puxando-me as calças numa pressa ansiosa - Tão grande
à medida que vacilava, sangrava, tropeçava nos cascos, caía pedindo - Agora
não a cheirar a bicho, a cheirar a perfume - Rasga-me
e eu rasgando-a com as unhas, os cotovelos, os joelhos, os dentes que por acaso me
falta um lá atrás, o médico - Se doer avise
e o que podia eu avisar de goela cheia de instrumentos não mencionando a luz que
me cegava, curioso como uma cadeira crucifica uma pessoa, o médico curvando-se de
alicate para a poltrona da sala à qual Sua Excelência não há maneira de chegar
(um amante ou uma loja, apesar das aflições do cartão de crédito ainda prefiro a loja,
os brancos vai na volta mais bem armados que os pretos, uma pensãozinha em conta,
um lençol enodoado, um cabelo desconhecido na fronha, um balde não sei para quê a
um canto)
e por estranho que pareça enquanto não chega a este apartamento eu tão órfão, o
médico, estava a contar, de alicate em riste - Enquanto a sua esposa vem e não vem tiro-lhe mais três ou quatro
à medida que a empregada me chupava a saliva com um tubinho, também de
máscara, poisando molar após molar
(tenho centenas)
no naperon sobre o aparador, entre o Cupido de loiça e a jarra de vidro com meia
dúzia de corolas murchas, dessas que as mulheres gostam, sepultadas numa aguazita
cinzenta, quem lhas terá oferecido que não a vejo a comprá-las porque demasiado caras