me explica, enodoado na caliça, Sua Excelência depois de pagar, é evidente, que a
parteira
- Até simpatizo com essa carinha laroca mas não aceito cheques percebe a vida
ensinou-me a não confiar em ninguém
Sua Excelência com um pano por cima, sem saia, de calcanhares afastados presos
numa espécie de ganchos, um dos furriéis para um cabo que mostrava uma faca - Ponham-se a pau com a escrita e cuidem do miúdo que o nosso alferes não brinca
deitada numa marquesa estreita, não muito limpa, acompanhada por um balde de
pega solta, a que faltava esmalte, para as compressas e para não sei quê, quer dizer sei
mas não me apetece falar nisso, afianço-lhes apenas que se o meu pai lá estivesse
puxava mais o quico para diante, o meu pai no meio da sanzala com as cubatas a
desaparecerem à volta e galinhas sem cabeça, pessoas sem cabeça ou sem orelhas,
gostam de orelhas os brancos, dava uma das minhas à parteira em troca de deixar em
paz Sua Excelência, o meu pai na aldeia à minha espera e eu aboborado na poltrona a
remoer isto que não me larga, veio-me agora à ideia o hálito da terra, o hálito da
mandioca, o hálito a podre da mulher que eu agarrava, o cheiro denso dos pretos que
contra a opinião de Sua Excelência fui perdendo aqui, esclareçam-me em que me tornei
e quem sou eu hoje em dia, esclareçam-me por favor, estou a pedir, o que sou eu, o
meu pai a mostrar-me à criatura um bocado gorda que nos abriu a porta, pisando uma
gota das pestanas com a palma - Só te esperava amanhã
ao virmos de África - A tua mãe rapaz
não uma preta de costas na terra que não se interessava pela minha pessoa, com
argolas num dos tornozelos, uma criatura de avental que abraçava o meu pai - Até que enfim até que enfim
afastando-se para o observar melhor e abraçando-o de novo a pisar mais lágrimas - Até que enfim
a mirá-lo de novo - Ficaste grisalho
ela que forçara sorrisos de repente séria - Não estás doente pois não?
um paludismo, um segundo paludismo, volta e meia eu deitado a tremer, pedidos de
água, suor, um soslaio mortiço na minha direção, frases que não se percebiam e Sua
Excelência sem voltar do prédio, espero que não tenha acontecido nada, nenhum cão
sem cabeça, nenhuma cubata em chamas, espero que nenhum preto para mim - Kamona
enquanto tombava, enquanto a faca de um homem verde no pescoço, a faca de um
homem completamente verde que não distingui dos outros no pescoço, a morte do
porco depois de amanhã na adega da aldeia, os meus pais à nossa espera, sobretudo o
meu pai à nossa espera na mesma inquietação em que espero Sua Excelência na
poltrona da sala, em que espero Sua Excelência no café diante do posto de enfermagem
e não entra em casa nem sai do posto, se calhar comprou uma butique completa, se