lutando com a tendência da esquerda, empenada, que desejava escapar-se para a valeta
já com Sua Excelência à minha espera amparando-se ao automóvel
- Não eras tu quem tinha pressa escarumba?
e eu começando a duvidar do aborto, não se queixava de dores, deslocava-se na
ligeireza de sempre e aquela harmonia entre as espáduas e as nádegas que antigamente
me excitava e agora não sei, acho que continua a excitar-me mas finjo não notar, às
vezes na cama é difícil, se lhe tocasse, mesmo com o mindinho, um braço a enxotar-me - Já não se pode dormir?
de forma que apago a luz e aparecem as labaredas, os tiros, cabíris que ladravam até
lhes enfiarem um pau goela abaixo, uma granada ofensiva em cinco segundos rebenta,
se calhar o posto de enfermagem não posto de enfermagem, um dia destes faço um
telefonemazinho discreto à polícia, um lugar não autorizado onde se encontram casais,
quem é ele não me mintas, quem é ele sem fazer a pergunta e Sua Excelência a
responder-me - Não eras tu quem tinha pressa escarumba?
com o que se me afigurou uma nódoa negra entre o pescoço e o peito mas podia ser
a sombra de uma folha ou haver-se coçado demais, tantas hipóteses meu Deus, que
confusão a vida, coloquei a mala na bagageira e uma pontada nas costas que ficou ali a
moer-me, uma espécie de agulha de croché torta cravada na espinha, só me faltava estar
velho, o meu pai afiança que eu quarenta anos mas não sei quantos teria quando ele a
afastar homens verdes - Não lhe tocam
e um dos homens verdes - Pense bem no que se mete olhe que mais tarde ou mais cedo vinga-se de si meu
alferes
galinhas minúsculas, cabras minúsculas, uma lavra de mandioca que desconhecidos
de espingarda, dois ou três, descalços, isto à hora do poente, vinham às vezes buscar,
quer dizer levavam-nas as mulheres até à orla da mata, o que lembro ora desfocado ora
nítido ora antes ao adormecer nítido e ao acordar desfocado, o meu pai à entrada do
quarto sem acender a luz, se acendesse quantas pessoas desarticuladas no chão,
quantos bichos que uma espécie de corvos bicavam - Não descansas rapaz?
e descanso senhor espere só um bocadinho que já fecho os olhos prometo, quero
debruçar-me para a mulher e para o homem sem mãos sem sentir nada e desconheço
se devia sentir, o que lhes aconteceu, Sua Excelência a desprezar-me - Não têm alma os pretos
já sentada no automóvel de coxas ao léu, olhando para diante sem me dar atenção,
daqui a nada noite, as árvores vestidas de maneira diferente, outro vento nos ramos, os
candeeiros a incharem, morcegos em vez de pássaros porque os voos com ângulos, uma
espécie de leques com orelhas de coelho e focinho de rato, ao chegarmos à aldeia a
minha mãe a aquecer de novo o jantar - Não tem mal não tem mal
tirando a bata do prego junto aos panos da loiça, a prima do meu pai para Sua
Excelência